Por: João Vitor Santos | 15 Junho 2017
No último dia 12 de maio, o Brasil perdeu um de seus intérpretes. Aos 98 anos, morreu Antonio Candido de Mello e Souza, ou simplesmente professor Antonio Candido, como era conhecido. Famoso como escritor e crítico literário, é definido pela historiadora Lilia Moritz Schwarcz como alguém que “nunca fez uma crítica literária desvinculada desse mundo e exclusivamente acadêmica”. Para ela, essa é uma das marcas do professor, que inaugura uma outra forma de fazer crítica, e o define como um “intelectual público”. “Quando falo desse papel de intelectual público, falo do papel de Antonio Candido de trazer a literatura para a seara de todos, não só para a dos intelectuais”, explica.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line um dia depois da morte de Candido, Lilia recorda as visitas que fazia a ele e, em especial, uma recente em que ele revelou que não lia mais jornais. Sinais de um socialista que sempre se propôs a ouvir o outro e a pensar num Brasil melhor, mas que já se sentia enfadado do momento político nacional. A historiadora entende que, neste momento de frágeis bandeiras e de intolerância, é fundamental romper com polarizações, e se voltar para os escritos de Candido pode ser um caminho. “Num momento de tão pouco humanismo e tanto totalitarismo, não só no Brasil, mas fora também, ler esse tipo de autor é uma lufada de ar”, sugere. “Eu, pelo menos, fiquei lendo no fim de semana e parece que isso ventila. Por isso acho que ler Antonio Candido é uma forma de poder respirar um pouco”, justifica.
Lilia Moritz Schwarcz | Foto: Instituto Lula
Lilia Moritz Schwarcz possui graduação em História pela Universidade de São Paulo - USP, mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp e doutorado em Antropologia Social pela USP. É professora titular no Departamento de Antropologia da USP e Global Scholar na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Juntamente com Pedro Meira Monteiro, é organizadora da edição comemorativa de Raízes do Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 2016). Também é autora de As barbas do imperador - D. Pedro II, um monarca nos trópicos (São Paulo: Companhia das Letras, 1998), O espetáculo das raças (São Paulo: Companhia das Letras, 1993) e O sol do Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 2008), entre outras obras.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual o legado de Antonio Candido?
Lilia Moritz Schwarcz – São muitos legados. Antonio Candido nos deixa, primeiro, o exemplo do intelectual público, que é muito raro no Brasil. É um intelectual que tinha suas posições, não era sectário, sabia mudar, sabia ouvir, perceber o momento político, mas que nunca fez uma crítica literária desvinculada desse mundo e exclusivamente acadêmica. Ele sempre teve opiniões, fez a Revista Clima, sempre foi um intelectual muito presente, atuou na vida de escritores, foi muito presente no seu momento, na sua classe, na sua intelectualidade.
Antonio Candido também é um intelectual que fez escola. Ele começa na Literatura, depois começa a dar aula na Sociologia e volta para onde lecionou por mais tempo, a área de Literatura. Seja na Universidade de Campinas - Unicamp ou na Universidade de São Paulo - USP, ele forma um grupo, forma uma legião de seguidores e faz essa espécie de crítica literária e social ou crítica social literária. Como crítico literário, em Formação da Literatura [1] propõe um método e nos ensina como é preciso tentar entender a obra de forma dinâmica, o que implica pensar no autor, na obra e na recepção do seu contexto. Com essa forma de analisar, produziu textos fundamentais, como o Dialética da Malandragem [2] , sobre Manuel Antônio de Almeida [3], em que ele analisa a figura de Leonardo Patarra [4], essa figura que era dialética, não era nem ordem, nem desordem e que, portanto, de alguma maneira, faz uma interpretação do país. Ou, então, o texto sobre O cortiço [5], que é um texto fundamental.
Afinal, Antonio Candido é também um intérprete, e esse é o seu grande legado. Ele é o intérprete do país, seja nos seus textos de crítica literária, seja no seu texto Parceiros do Rio Bonito [6], que é uma etnografia maravilhosa sobre esses outros brasis, em que ele fala de um funcionário do Império que narra a história da família do tio. Com isso nos ensina, aos historiadores, como é que se faz biografia não só de grandes personagens, mas que também é possível fazer biografia de personagens menores, intermediários, que não foram construídos para serem imenso sucesso. E esses personagens têm um protagonismo que é só deles. Outro legado é a sua metodologia, a sua inserção no país, a sua preocupação. É, de fato, um dos últimos intérpretes brasileiros que se vai. E, por fim, acho que deixa um legado pessoal muito grande. Todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver com Antonio Candido puderam conhecer esse intelectual curioso. Ele gostava de ouvir, de saber, tinha uma curiosidade genuína. Era um intelectual muito generoso.
IHU On-Line – No que consistia a crítica literária de Candido e por que ele inaugura um outro modo de crítica?
Lilia Moritz Schwarcz – Há uma caricatura, porque eu não acredito nessas dicotomias, nesses fla-flus que se dão entre perspectivas de análises mais historicistas ou de perspectivas mais estruturalistas. Grosso modo, como caricatura, podemos dizer que, na perspectiva historicista, a obra só fala no seu contexto. Numa perspectiva mais estruturalista, a obra não precisa do contexto. Isso não existe, mas ficamos com a caricatura. A partir disso, pense como justamente Antonio Candido mostrou que a relevância não está numa ponta ou na outra. Está na tensão e na reflexão dos dois polos, ou seja, como você analisa a obra por si só, mas também não deixa de incluir no momento em que se insere.
Para todos, e falo por mim, para quem quiser fazer uma crítica social da arte – eu tentei fazer isso com as artes plásticas, agora estou tentando fazer isso com Lima Barreto [7] –, Antonio Candido é um autor fundamental porque nos ensina a ficar nessa corda tensa e bamba entre a obra e seu momento e nos dois ao mesmo tempo, pois falar de um não quer dizer esgotar o outro, ou diminuir o outro. É isso que ele faz, e tem discípulos que são fundamentais. Podemos pensar em Roberto Schwarz [8], Davi Arrigucci [9], Jorginho Schwartz [10], cada um na sua área e com sua destreza e sua expertise, porque ninguém também é mera cópia de Antonio Candido, todos vão contribuir para esse tipo de metodologia e de análise literária.
IHU On-Line – O professor Candido defendia a literatura como direito. Qual o papel da literatura para a constituição de uma sociedade mais igualitária? Como ela pode, como dizia o professor, “colocar os indivíduos em pé de igualdade”?
Lilia Moritz Schwarcz – Quando falo desse papel de intelectual público, falo do papel de Antonio Candido de trazer a literatura para a seara de todos, não só para a dos intelectuais. Ou seja, fazer a literatura como direito como uma maneira de nós nos compreendermos também. Insisto na ideia de que ele nunca trabalhou a literatura como um mero reflexo de seu momento, de maneira alguma. Ao contrário, se tomar a literatura dessa forma dinâmica, viva, você percebe como ela acaba por nos dizer respeito, nos representar, e está além de nós também.
Nesse sentido ela é um direito, porque é a maneira como você a utiliza, a maneira como você interfere no mundo a partir da literatura, a forma como você lê o mundo sem dizer que essa é a única maneira, a única forma de ler. Isso foi sempre uma perspectiva de Antonio Candido, afinal a literatura sempre foi para ele uma forma privilegiada de falar sobre o Brasil, entender sobre o Brasil e se preocupar com o Brasil. É a janela dele.
IHU On-Line – Marina Mello e Souza [11], uma das filhas de Candido, definiu o pai como “um humanista acima de tudo”. Qual o humanismo defendido pelo professor? E qual o papel da literatura na constituição desse humanismo?
Lilia Moritz Schwarcz – Ele era um humanista no sentido de que tinha um projeto cidadão, um projeto de inserção nessa vida de maneira cidadã e de maneira democrática. Era um humanista também na identificação que ele tinha com o outro, com os outros, com todos os outros. Era muito bonito ver o professor Antonio Candido lidando com temas que ele dizia não compreender. Ele tinha grande facilidade em dizer: “olha, eu não tenho ideia desse tema”. E claro que tinha, ele que julgava que aquilo que conhecia não era suficiente, de tão curioso que ele era.
Vou dar um exemplo pessoal. Não fui discípula direta dele, mas indireta; não só o conhecia, mas o conhecia há muito tempo. Quando estava escrevendo minha tese de doutorado, O espetáculo das raças [12], lembro que ia conversar sempre com ele, naquela época com ele e dona Gilda, e fui perguntar a ele se conhecia algo sobre o darwinismo racial [13]. Ele me perguntou se era isso que pesquisaria. Falei que sim, e ele, sempre com aquela curiosidade, disse: “oh, Lilia, mas que tema interessante. Pena que eu não saiba nada”. Eu lembro que guardei o meu caderninho e, de repente, por conta do seu tio Pio, sobre o qual ele vivia a contar histórias, começou a fazer um relato sobre a biblioteca do tio. E, a partir desse relato, ele começou a entrar no tema. Sei que peguei meu caderno rapidamente, dona Gilda até me ajudou, e comecei a anotar, porque ele tinha dito que não entendia nada, mas ele conhecia a biblioteca do tio, que era repleta de livros como os desse tema e que ele conhecia plenamente.
Então, essa é uma forma humanista de estar no mundo. Ao invés de você dizer ao mundo que você sabe tudo ou dizer isso para você mesmo, ele ensinava que ninguém sabia tudo; se você conhecia uma parte, não queria dizer que já conhecia o tema. Isso é um humanismo muito grande e é uma imensa abertura para o outro, que o caracteriza como professor, como intelectual, como amigo, como conselheiro e, assim como diz a Marina – com toda propriedade –, como pai.
IHU On-Line – Em uma de suas entrevistas, Candido revela que a escrita simples e clara é uma forma de respeito ao outro.
Lilia Moritz Schwarcz – Veja só, isso é uma beleza. Essa também é uma forma respeitosa de você lidar com o seu leitor, com seu interlocutor. E como você faz isso? É algo muito bonito quando nos colocamos a pensar sobre isso. É bem a cara dele isso [a afirmação].
IHU On-Line – De que socialismo falava Antonio Candido?
Lilia Moritz Schwarcz – É novamente um humanismo, uma forma de estar e interferir no mundo, de ter um Brasil mais igual e mais inclusivo. É desse socialismo que falava, de uma sociedade menos dividida. Provavelmente ele andava meio tristonho com este país mais radicalizado. A última vez que estive com ele, comentou que não gostava mais de ler jornal. Enfim, é desse lugar que ele fala, de um lugar de respeito à diferença e de luta pela igualdade no país.
IHU On-Line – Ele esteve realmente muito recluso nos últimos tempos. Como foi seu último contato com ele? Mantinham um contato frequente? O que sabe sobre a escrita de um diário no qual, se comenta, ele vinha reunindo seus pensamentos?
Lilia Moritz Schwarcz – Eu não tenho autoridade para dizer isso, pois, como várias pessoas, eu só o visitava. Acho que quem pode falar sobre isso com mais propriedade são Maria e Laura [as filhas], que estavam com ele até o último momento. Eu fiz outras visitas depois, mas a última visita linda que fiz foi junto com o Pedro Meira [14]. Nós fomos levar o texto que fizemos na nova edição do Raízes [15], e ele teve uma atitude maravilhosa conosco. Estávamos um pouco preocupados porque a imprensa gosta de apimentar o debate e dizer que nós estávamos falando que ele era o inventor do Sérgio Buarque de Holanda [16], mas não foi nada disso. Até quando se discute a própria carreira dele como pessoa, Candido tem uma escuta tão boa e tão divertida, que foi o que ele fez conosco.
E foi nessa ocasião que ele me disse que já não queria receber tantos livros, que já não dava conta, mas que esse, sim, ele queria. Mas ele estava, pelo que eu saiba, bastante afastado da política. O que também é natural por conta do momento de vida dele e também pelo momento que o Brasil passa. No entanto, não quero ocupar o espaço que não é meu, sobre isso acho que vocês devem falar com Marina. Sim, de fato, eu o visitava, mas penso que há pessoas que podem responder a essa pergunta com mais propriedade.
IHU On-Line – De que forma os textos do professor contribuem para compreendermos o Brasil? Quais as obras que mais lhe agradam e por quê?
Lilia Moritz Schwarcz – Ele tem um estilo maravilhoso. Eu brincava dizendo que, toda vez que ia conversar com ele, apesar de caprichar na minha retórica, no meu português, ficava com a sensação de que estava dizendo algo do tipo: “nenê quer papá” (risos). É uma brincadeira, mas Antonio Candido tinha uma forma de expressão escrita e oral tão linda e ao mesmo tempo tão límpida de ler, sem truques e ao mesmo tempo tão correta no melhor dos seus sentidos. Esta é uma coisa que sempre me admirou e sempre vai me admirar na leitura dos textos do professor Antonio Candido: a forma como ele é capaz de falar de temas cabeludos, mas fazendo o leitor ter a sensação de que aquilo ali é simples.
E, sobre os textos, não consigo destacar apenas um. Até acho que já citei alguns. Eu gosto demais da introdução do Formação da Literatura Brasileira, acho que é uma aula de método, e sempre trabalho com meus alunos. Além de uma aula de método, é uma aula de humildade no maior e melhor sentido do termo, quando ele fala que a nossa literatura não é o braço mais robusto, mas é a que temos, a que nos representa. Também faz você aprender a olhar para o seu objeto de uma maneira que ele não precisa ser o melhor, não precisa ser o mais importante para ser um bom objeto. Eu acho que em Dialética da Malandragem ele faz uma belíssima interpretação do país, uma interpretação que permite a ambiguidade, que permite manter a ambivalência e não resolvê-la, uma interpretação que não se quer a-histórica, ou essencial. Ele vai com aquele jeitinho dele dizendo “no limite eu estou analisando só um personagem”, mas ele diz muito de Brasil, do que entende de Brasil, dos brasileiros e tudo mais. E gosto demais de Um Funcionário da Monarquia [17], que é um texto pouquíssimo trabalhado e é fundamental para compreender nossas elites, como elas se constroem, quais são os arranjos, quais são as negociações e como funciona até hoje no Brasil o funcionalismo público. E tudo feito com muita delicadeza, com aquele estilo Antonio Candido de ser, uma forma delicada de narrar, mas que também interpreta o país de uma forma fundamental.
Também costumo dizer para meus alunos que Antonio Candido é uma espécie de Midas, no sentido de ser um construtor de cânones. Por exemplo, aquela interpretação do Pedro Meira e minha é de que ele de fato constrói o Raízes do Brasil. O último capítulo quem escreveu foi o Antonio Candido com aquele seu texto. Nesse aspecto é que estamos dizendo que ele arranja as tradições e faz com que elas falem com todo o sentido. No melhor dos sentidos, ele é um dos construtores do modernismo [18] paulistano. Não há dúvida. Ele tem essa capacidade de construir, de ver sentido, de encontrar os liames, de encontrar as correntes, isso porque ele é uma pessoa muito curiosa. Então, ele é capaz de fazer e construir a sua produção, mas também de construir a produção alheia. O que é muito bonito, ou seja, você é a capaz de iluminar a sua cena, mas também é capaz de iluminar outras cenas, o que é uma raridade. Isso é muito professor Antonio Candido.
IHU On-Line – Ou seja, usando o exemplo de Raízes do Brasil, podemos dizer que ele vê uma obra, lê uma obra e é capaz de colocar essa obra num determinado lugar e de nos dar chaves de leitura para compreender essa obra. É isso?
Lilia Moritz Schwarcz – Exatamente. Ele abre uma possibilidade de leitura para uma obra que não é dele. É muito bonito esse movimento que ele faz, porque ele organiza o Carnaval. Se pensarmos nos textos maravilhosos dele sobre cultura nos anos 30, veremos que ele vai, a partir da educação, da sociedade, construindo um modernismo. E um certo modernismo, não são todos, claro. Não era possível que construísse todos, mas um modernismo ele constrói e coloca num lugar que vai ser único e que vai ficar quase convencionado dessa maneira, não por autoritarismo, mas por mérito. É a maneira como ele constrói esses cenários e esses panoramas, esses ambientes.
IHU On-Line – Qual a importância de ler Antonio Candido hoje, diante da crise do humanismo?
Lilia Moritz Schwarcz – Nunca foi tão importante ler Antonio Candido, porque andamos tão divididos nessas bandeiras que são tão frágeis, nessa espécie de fla-flu da política, esquerda, direita e o que for. E andamos com essas bandeiras com uma dificuldade muito grande de ouvir um ao outro. O que nós vivemos são espécies de bolhas, as redes sociais ajudaram nisso, mas não foram as únicas culpadas. As pessoas vivem nas próprias bolhas, nas suas próprias verdades e não conseguem ouvir qualquer coisa que não saia de sua caixinha. Por isso acho que é um momento excelente para ler Antonio Candido – que é um autor que nunca quis dar receita para nada –, para ouvir essa opinião dele de que somos um ramo da literatura que talvez não seja o mais forte, talvez um galho fraco, mas esse é nosso galho.
Também é importante ler as análises políticas dele, as análises críticas em que ele se permite enxergar um Brasil de muitas pontas, e não de uma só. Num momento de tão pouco humanismo e tanto totalitarismo, não só no Brasil, mas fora também, ler esse tipo de autor é uma lufada de ar. Eu, pelo menos, fiquei lendo no fim de semana e parece que isso ventila. Por isso acho que ler Antonio Candido é uma forma de poder respirar um pouco.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Lilia Moritz Schwarcz – Antonio Candido e Gilda de Mello e Souza formaram uma família impressionante. Você não tem tantos intelectuais que são capazes de produzir uma família tão crítica e de pessoas tão fundamentais. Dona Gilda tem uma análise fenomenal sobre Macunaíma [19], sobre o modernismo, O Tupi e o Alaúde [20], que é uma beleza. Da mesma forma, tem um livro sobre a moda, O Espírito das Roupas [21], escrito por ela de uma maneira maravilhosa, e, no momento em que ela escreve aquilo, ninguém está escrevendo; inclusive, ninguém acha relevante. Ela faz uma crítica e uma análise social – e isso que é lindo – das roupas num contexto adverso para que ela mexesse com aquele tipo de tema. Ela que era uma senhora tão linda, tão elegante, e faz isso totalmente contra a corrente.
E ainda tem três filhas, cada uma na sua área, que são três intérpretes do país também. Que linda que é essa família! Se você pegar os trabalhos da Ana Luiza, os textos dela, os últimos sobre a família, verá que são maravilhosos. Há os textos da Marina sobre a África, a produção da Laura sobre o período colonial e todas as interpretações que traz desse período, da inquisição, desde o primeiro livro dela. Lembro-me da primeira resenha que escrevi na vida, que se chamava Vai Trabalhar Vagabundo, sobre as Minas [22] que a Laura trazia, o livro [23] dela maravilhoso sobre Cláudio Manoel da Costa [24]. Enfim, é uma família de intérpretes. Não sei se já se destacou essa face tão importante de Antonio Candido.■
NOTAS:
[1] Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2014 (15ª edição). (Nota da IHU On-Line)
[2] Dialética da Malandragem - caracterização das Memórias de um sargento de milícias. In: Revista do Instituto de estudos brasileiros, nº 8, São Paulo, USP, 1970, pp. 67-89. (Nota da IHU On-Line)
[3] Manuel Antônio de Almeida: (1830-1861): foi um médico, escritor e professor brasileiro. Concluiu a Faculdade de Medicina em 1855, mas nunca exerceu a profissão. Dificuldades financeiras o levaram ao jornalismo e às letras. Pertenceu à primeira sociedade carnavalesca do Rio de Janeiro, o Congresso das Sumidades Carnavalescas, fundado em 1855. Em 1858 foi nomeado diretor da Tipografia Nacional, onde conheceu o jovem aprendiz de tipógrafo Machado de Assis. Procurou iniciar a carreira na política. Quando ia fazer as primeiras consultas entre os eleitores, morreu no naufrágio do navio Hermes, em 1861, na costa fluminense. (Nota da IHU On-Line)
[4] Personagem de Manuel Antônio de Almeida, Leonardo Patarra, é folclórico estereótipo do sujeito que não fazendo nada de errado, também não fazia nada certo. (Nota da IHU On-Line)
[5] São Paulo: L&PM Editores, 1998. (Nota da IHU On-Line)
[6] Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010 (11ª edição). (Nota da IHU On-Line)
[7] Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922): mais conhecido como Lima Barreto, foi um jornalista e um dos mais importantes escritores libertários brasileiros. É autor de, entre outros, Triste Fim de Policarpo Quaresma. (Nota da IHU On-Line)
[8] Roberto Schwarz (1938): crítico literário nascido em Viena, na Áustria, estudou ciências sociais e letras nas universidades de São Paulo, Yale e Paris, onde defendeu uma tese célebre sobre Machado de Assis. Ex-professor da Unicamp, Schwarz é uma das vozes mais incisivas do ensaísmo brasileiro. (Nota da IHU On-Line)
[9] Davi Arrigucci Jr (1943): crítico literário brasileiro, professor de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (USP) entre 1965 e 1996. De sua vasta produção bibliográfica destacamos Outros Achados e Perdidos (São Paulo: Cia das Letras, 1999); Coração Partido. Uma análise da Poesia reflexiva de Drummond (São Paulo: Cosac & Naify, 2002). (Nota da IHU On-Line)
[10] Jorge Schwartz (1944): graduado em estudos latino-americanos e inglês pela Universidade Hebraica de Jerusalém, obteve mestrado e doutorado em teoria literária e literatura comparada na USP, onde é professor titular de literatura hispano-americana. É pesquisador sênior do CNPQ, autor de numerosos livros e artigos de crítica de artes visuais e literatura e curador de diversas exposições. Dirige o Museu Lasar Segall (Ibram/ MinC). (Nota da IHU On-Line)
[11] Antonio Candido foi casado com Gilda de Mello e Souza, professora de Estética no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, falecida em 25 de dezembro de 2005. O casal tem três filhas: Ana Luísa e as também professoras de História da USP, Laura de Mello e Souza e Marina de Mello e Souza. (Nota da IHU On-Line)
[12] Publicada em livro com o mesmo nome, São Paulo: Companhia das Letras, 1993. (Nota da IHU On-Line)
[13] Darwinismo racial ou darwinismo social: é um nome moderno dado a várias teorias da sociedade, que surgiram no Reino Unido, América do Norte e Europa Ocidental, na década de 1870. Trata-se de uma tentativa de se aplicar o darwinismo nas sociedades humanas. Descreve o uso dos conceitos de luta pela existência e sobrevivência dos mais aptos, para justificar políticas que não fazem distinção entre aqueles capazes de sustentar a si e aqueles incapazes de se sustentar. Esse conceito motivou as ideias de eugenia, racismo, imperialismo, fascismo, nazismo e na luta entre grupos e etnias nacionais. (Nota da IHU On-Line)
[14] Pedro Meira Monteiro: professor na Princeton University, na cidade de Princeton, no estado de Nova Jérsei, Estados Unidos, onde dirige o Department of Spanish and Portuguese, que oferece cursos na área de estudos latino-americanos, com ênfase em literatura brasileira e história do pensamento social latino-americano. Também é codiretor da rede Princeton-Universidade de São Paulo - USP Race and Citizenship in the Americas. Graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, tem um D.E.A. em História Sociocultural pela Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines, mestrado em Sociologia e doutorado em Teoria e História Literária, também pela Unicamp. Confira a entrevista 1936 reeditado em 2016: a volta do vazio da política representativa, publicada na Revista IHU On-Line número 498, de 28-11-2016, disponível em http://bit.ly/2qxBzwQ. (Nota da IHU On-Line)
[15] Pedro Meira Monteiro, juntamente com Lilia Schwarcz, é organizador da edição comemorativa de 80 anos do livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, publicada em 2016 pela Companhia das Letras. Sobre essa obra, confira a revista IHU On-Line número 498, de 28-11-2016. (Nota da IHU On-Line)
[16] Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982): historiador brasileiro, também crítico literário e jornalista. Entre outros, escreveu Raízes do Brasil, de 1936. Obteve notoriedade através do conceito de “homem cordial”, examinado nessa obra. A professora Dr.ª Eliane Fleck, do PPG em História da Unisinos, apresentou, no evento IHU ideias, de 22-8-2002, o tema O homem cordial: Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, e no dia 8-5-2003, a professora apresentou essa mesma obra no Ciclo de Estudos sobre o Brasil, concedendo, nessa oportunidade, uma entrevista à IHU On-Line, publicada na edição nº 58, de 5-5-2003. Sobre Sérgio Buarque de Holanda, confira, ainda, a edição 205 da IHU On-Line, de 20-11-2006, intitulada Raízes do Brasil e a edição 498, de 28-11-2016, “Raízes do Brasil” – 80 anos. Perguntas sobre a nossa sanidade e saúde democráticas, disponível em http://bit.ly/2nDmdFE. (Nota da IHU On-Line)
[17] Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2002. (Nota da IHU On-Line)
[18] Modernismo (ou movimento modernista): o conjunto de movimentos culturais, escolas e estilos que permearam as artes e o design da primeira metade do século XX. Apesar de ser possível encontrar pontos de convergência entre os vários movimentos, eles em geral se diferenciam e até mesmo se antagonizam. No modernismo brasileiro, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti estão entre os nomes mais importantes. (Nota da IHU On-Line)
[19] Macunaíma: romance de Mário Raul de Morais Andrade publicado em 1928. O livro é uma das obras-primas da literatura brasileira, em que reúne inúmeras lendas e mitos indígenas para compor a história do “herói sem nenhum caráter”, que, invertendo os relatos dos cronistas quinhentistas, vem da mata para a cidade de São Paulo. Sobre Macunaíma, confira a edição 268 da Revista IHU On-Line, de 11-8-2008, intitulada Macunaíma: 80 anos depois. Ainda um personagem para pensar o Brasil. (Nota da IHU On-Line)[20] São Paulo: Editora 34, 2003. (Nota da IHU On-Line)
[21] São Paulo: Companhia das Letras, 2009. (Nota da IHU On-Line)
[22] Opulência e miséria das Minas Gerais. São Paulo: Brasiliense, 1997. (Nota da IHU On-Line)
[23] Cláudio Manuel Da Costa. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. (Nota da IHU On-Line)
[24] Cláudio Manuel da Costa (1729-1789): foi um advogado, minerador e poeta português do Brasil Colônia. Destacou-se pela sua obra poética e pelo seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Foi também advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e amigo de Aleijadinho, a quem teria possibilitado o acesso às bibliotecas clandestinas que seriam mais tarde apreendidas aos Inconfidentes. (Nota da IHU On-Line)
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Antonio Candido e sua lufada de ar na forma de ver o Brasil. Entrevista especial com Lilia Moritz Schwarcz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU