29 Abril 2024
Francisco será o primeiro Papa admitido numa cúpula dos grandes da Terra. A presença do Papa no G7 em junho foi anunciada por Giorgia Meloni, presidente rotativa da cúpula, por mensagem de vídeo. O pontífice argentino falará na sessão – aberta a países não membros – dedicada à Inteligência Artificial (IA) durante os trabalhos do Grupo dos 7 programados em Borgo Egnazia, na Puglia, de 13 a 15 de junho.
A informação é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 27-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
No Palácio do Governo estão prontos a envolver Francisco também nos outros temas da agenda da cúpula, começando pelas guerras globais. Um alto prelado do Vaticano confirma: “Bergoglio participará no G7 também para relançar, direta ou indiretamente, o seu apelo pela paz aos poderosos do mundo, pensando em todas as regiões atingidas pelos conflitos e, em particular, nos dois teatros de guerra que correm o risco de provocar uma escalada militar de dimensões globais: a Ucrânia e a Faixa de Gaza”.
A ideia de convidar o Papa surgiu depois de um percurso comum sobre a inteligência artificial, o caminho iniciado pela Santa Sé em 2020 com o "Rome Call for AI Ethics" e o trabalho sobre a algorética, para promover uma ética nos algoritmos que há tempo interessa ao governo. Meloni tem uma visão muito pessimista sobre a inteligência artificial, como resultou na conferência organizada no passado outono europeu pelo primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, e quis fortemente que esse fosse um dos temas principais da presidência italiana do G7. “Aquele da inteligência artificial é um desafio que nenhum de nós pode pensar em enfrentar sozinho, é fundamental valorizar o melhor da reflexão ética e intelectual que está se desenvolvendo nesse âmbito - afirmou Meloni no vídeo -. Estou convencida de que a presença de Sua Santidade dará uma contribuição decisiva para a definição de um quadro regulador, ético e cultural para a inteligência artificial".
Os contatos entre o Palácio do Governo e o Vaticano já estavam em curso há tempo. Na chefia da comissão sobre a Inteligência Artificial (que está sob a responsabilidade do Departamento de Informação e Publicação do governo italiano) foi colocado o teólogo e filósofo franciscano Padre Paolo Benanti, conselheiro do Papa sobre temas de ética toda tecnologia, nomeado em janeiro, após a renúncia, com grande polêmica, de Giuliano Amato. Para Benanti “num momento em que a complexidade do cenário, ligado à evolução tecnológica, mostra que não existe um tipo de conhecimento que sozinho resolva todos os problemas - explica - o Rome Call mostra a sabedoria das religiões sobre o tema, para que se possa garantir à humanidade um amanhã de paz e prosperidade. Nesse contexto, a participação do Papa no G7 na Puglia é de grande relevância."
Para o Vaticano, o Rome Call é um documento criado pela Pontifícia Academia para a Vida (Pav), presidida por D. Vincenzo Paglia, e posteriormente pela Fundação RenAIssance. Paglia acrescenta que “com o Rome Call sublinhamos a importância da dimensão ética, educativa e também jurídica da inteligência artificial". Paglia evidencia que o Bispo de Roma agora “fala diretamente aos governos, entra em campo pessoalmente", após o envolvimento, implementado pelo Rome Call, de líderes religiosos, empresas, instituições, universidades.
Na recente entrevista ao La Stampa o Pontífice afirmou que “qualquer novidade científica e tecnologia deve ter um caráter humano e permitir aos seres humanos permanecerem plenamente humanos. Quando se perde o caráter humano, se perde a humanidade. Na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais escrevi: “Nesta época que corre o risco de ser rica em tecnologia e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano”. A Inteligência Artificial é um grande avanço que poderá resolver muitos problemas, mas potencialmente, caso gerida sem ética, também poderá causar muitos danos ao homem. O objetivo a definir é que a Inteligência Artificial esteja sempre em harmonia com a dignidade da pessoa. Se não houver essa harmonia, será um suicídio."
Segundo o Padre Antonio Spadaro, subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação do Vaticano, “a presença do Papa Francisco na Bienal de Arte de Veneza e no G7 são duas faces da mesma moeda. A Igreja sente-se chamada não só a construir os seus próprios fóruns nos seus próprios espaços, mas a estar presente onde o debate real acontece”.
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Francisco no G7 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU