16 Fevereiro 2024
A expressão que imediatamente vem à mente para definir a visita que o Papa Francisco fará no próximo 28 de abril à Bienal de Veneza é "In partibus infidelium", nas terras dos não crentes.
A reportagem é de Pierluigi Panza, publicada por Corriere della Sera, 14-02-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Igreja e Jesuítas usavam essa frase quando bispos e sacerdotes iam para territórios a serem evangelizados e nos últimos anos a Bienal e a arte contemporânea têm sido um território (também) de profanações religiosas. Francisco será o primeiro Papa a visitar a Bienal. Ele irá para Pavilhão da Santa Sé junto à prisão feminina de Giudecca.
Este ano a 60ª edição da Bienal tem como título Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere, tem curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa e parece perfeitamente adequada à sensibilidade do Pontífice.
O Pavilhão da Santa Sé é promovido pelo prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, Cardeal José Tolentino de Mendonça, intitula-se "Com os meus olhos" e tem a curadoria de Chiara Parisi (Centro Pompidou-Metz) e Bruno Racine (diretor do Palazzo Grassi). O Pavilhão é dedicado ao tema dos direitos humanos e à figura dos últimos, inquilinos de mundos marginalizados. No pavilhão se procura favorecer a construção de uma cultura do encontro, eixo central do magistério do Papa.
“A proposta artística – comunicada pelo Dicastério da Cultura e Educação – assume à letra as palavras do Santo Padre quando exorta a sair e olhar nos olhos, convidando os visitantes a prestar atenção àquelas realidades que muitas vezes são consideradas periféricas e que muitas vezes estão fora do debate cultural”. Artistas de renome internacional irão expor, entre os quais Bintou Dembélé, Simone Fattal, Claire Fontaine, Sonia Gomes, Corita Kent, Marco Perego e Zoe Saldana, Claire Tabouret com Hans Ulrich Obrist e, atenção, o italiano Maurizio Cattelan, que saltou para o topo das citações artísticas do mundo da arte com La Nona Ora, uma escultura irônica e irreverente que retrata João Paulo II atingido por um meteorito. A obra foi apresentada justamente na Bienal de 2001 e foi ocasião de desentendimentos entre o Vaticano e o global e woke festival veneziano. Cattelan estará entre os convidados no dia da visita do Papa.
"La Nona Ora" (1999), de Maurizio Cattelan. (Foto: Mark B. Schlemmer | Flickr)
“Acolhemos com satisfação a notícia da visita do Papa Francisco ao Pavilhão da Santa Sé à Bienal junto à prisão feminina de Giudecca, que respeitosamente interpretamos também como um gesto de atenção para toda a Bienal de Veneza", comentou o presidente da Bienal, Roberto Cicutto, cujo mandato expira em 2 de março. Para receber o Papa Francisco em Veneza estarão, entre outros, o patriarca Francesco Moraglia, o prefeito Luigi Brugnaro, o presidente da Região Veneto, Luca Zaia, e o novo presidente da Bienal, Pietrangelo Buttafuoco.
Entre os artistas convidados estará presente Maurizio Cattelan, que em 2001 causou divergências entre o festival e o Vaticano.
A Santa Sé está presente na Bienal de Arte desde 2013. Quem promoveu essa abertura foi o cardeal Gianfranco Ravasi, então presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, com o diretor dos Museus Vaticanos, Antonio Paolucci. Aquele primeiro pavilhão foi inspirado por Bento XVI, que durante o seu mandato estava incentivando uma relação renovada entre a Igreja e as artes (expuseram: Studio Azzurro, Josef Koudelka, Lawrence Carroll e Tano Festa). Naquele ano, porém, o patriarca de Veneza teve ocasião de se enfurecer com a Bienal pela chocante crucificação erguida por Marc Quinn em frente à Igreja de São Jorge. Em 2018 a Santa Sé também estreou na Bienal de Arquitetura com as Capelas do Vaticano, projetadas por Francesco Dal Co nos jardins da Fundação Cini (ainda presentes e sede de exposições fotográficas).
A última visita pastoral de um Papa a Veneza data de 13 anos atrás, quando Bento XVI esteve em 7 e 8 de maio de 2011. João Paulo II a visitou em 1985. No ano passado, o Papa acolheu 200 artistas na Capela Sistina para celebrar o 50º aniversário da coleção de arte contemporânea do Vaticano.
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Papa Francisco na Bienal de Veneza: é a primeira vez de um Pontífice - Instituto Humanitas Unisinos - IHU