19 Janeiro 2024
A Editora Vaticana lança em 18 de janeiro o livro "Pablo VI, Doctor del Misterio de Cristo", que reúne as homilias proferidas pelo cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, em 6 de agosto de 2008 a 2014, por ocasião do aniversário da morte do Papa Montini.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 18-01-2024.
O volume conta com um prefácio do Papa Francisco, que apresentamos a seguir, e um epílogo de Leonardo Sapienza, regente da Prefeitura da Casa Pontifícia.
Fico contente que o Cardeal Marcello Semeraro tenha decidido publicar a série de homilias proferidas no dia da Transfiguração do Senhor, que também marca o aniversário da passagem de São Paulo VI desta "terra dolorosa, dramática e magnífica", como ele a denominou em seu Testamento, para a casa do Pai. Fico também feliz que tenha escolhido fazê-lo neste ano de 2023, quando completam-se sessenta anos desde o chamado de Giovanni Battista Montini para o ministério petrino.
"Paulo VI! Muitas vezes me ocorreu pensar se este Papa não deveria ser considerado um 'mártir'. Uma vez, durante um encontro privado nas proximidades do ritual de beatificação do Papa Montini, eu disse isso ao bispo Marcello. Perguntei, entre sério e brincalhão, se deveria usar vestes litúrgicas vermelhas ou brancas na cerimônia. Ele não entendeu e observou que o vermelho era a cor prescrita para os funerais dos Papas... Expliquei o que queria dizer, e ele ficou pensativo comigo.
De fato, em 15 de dezembro de 1969, durante o tradicional intercâmbio de felicitações natalinas com o Colégio Cardinalício e a Cúria Romana, Paulo VI referiu-se ao fato de que o Vaticano II havia "produzido um estado de alerta e, em certos aspectos, de tensão espiritual", incluindo a crise de muitos sacerdotes. Nesse contexto, ele disse: "Esta é a nossa coroa de espinhos".
A exortação a amar a Igreja foi uma das mais frequentes e repetidas no magistério de Paulo VI. Ele a considerava como o espelho onde vemos Cristo, o espaço onde encontramos Cristo, e isso era, para ele, o "unum necessarium" (único necessário). Todos lembramos de sua oração a Cristo, o único necessário! E é esse amor único e absoluto por Cristo que o Cardeal Semeraro quis destacar com suas homilias, contextualizadas no mistério da Transfiguração.
De Cristo transfigurado, São Paulo VI foi o contemplativo, o pregador, o testemunho. Dir-se-ia que ele quis entrar naquela cena evangélica como companheiro dos três apóstolos escolhidos por Jesus. Mais ainda: seu desejo íntimo e secreto foi sempre ser "cum ipso in monte" (com Ele na montanha), e isso fez com que sua própria vida se transfigurasse.
Fico feliz que essas reflexões estejam sendo publicadas, porque a figura de São Paulo VI sempre me atraiu também. Já disse em outras ocasiões como alguns discursos desse Papa - como os de Manila, Nazaré... - me deram força espiritual e fizeram muito bem à minha vida. É bem sabido que minha primeira Exortação Apostólica Evangelii gaudium pretendia ser um pouco a outra face da moeda da Exortação Evangelii nuntiandi, um documento pastoral que estimo muito. Todos, aliás, me ouviram repetir muitas vezes a expressão que desceu ao meu coração: a doce e reconfortante alegria de evangelizar. Eu a repetia quando era bispo de Buenos Aires e repito-a hoje.
O título escolhido para esta coleção é inspirado em uma frase de Marie-Joseph Le Guillou, um grande teólogo dominicano a quem também aprecio muito. Ele a escreveu em um volume dedicado à grandeza profética, espiritual e doutrinal, pastoral e missionária do Concílio Vaticano II. Portanto, também gostaria de tomar exemplo dele antes de concluir estas linhas de apresentação. De fato, ao se aproximar do evento jubilar de 2025, pedi a todos que se preparassem para ele, pegando nas mãos os textos fundamentais do Concílio Ecumênico Vaticano II.
Nesse livro, o padre Le Guillou descreve o Vaticano II como um ato de contemplação do Rosto de Cristo. Também sob essa luz, o magistério do Vaticano II deve ser relido, estudado, aprofundado e colocado em prática. A um jesuíta que, durante um encontro em Vilnius, Lituânia, me perguntou como poderia ajudar, respondi: "Os historiadores dizem que são necessários 100 anos para que um Concílio seja aplicado. Estamos na metade do caminho. Portanto, se quiser me ajudar, aja de modo que o Concílio avance na Igreja".
Contemplar o rosto de Cristo! Na Evangelii gaudium, escrevi que todo pregador "é um contemplativo da Palavra e também um contemplativo do povo". Gostaria de dizer que também o é a Igreja sinodal. Contemplativa da Palavra e também contemplativa do santo povo fiel de Deus. Desejo sinceramente que isso seja também o que as reflexões escritas nessas páginas incentivem.
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Francisco, sobre Paulo VI: “Papa mártir” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU