25 Janeiro 2020
Finalmente, a esperada exortação do Papa Francisco sobre o Sínodo da Amazônia virá à luz na próxima semana, conforme confirmaram fontes confiáveis, que afirmam que Bergoglio a concluiu “algumas semanas atrás”, antes do escândalo causado pelo cardeal Sarah e seu ‘não livro’ com Ratzinger, e que “resistiu às pressões”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 24-01-2020. A tradução é do Cepat.
Após o fechamento do Sínodo da Amazônia, no último dia 26 de outubro, os padres sinodais entregaram a Francisco um documento, aprovado ponto a ponto por uma maioria de dois terços, o que lhe confere uma força que dificultaria muito, apesar das pressões dos tradicionalistas, que o Papa não o tornasse seu. De fato, no encerramento do Sínodo, Bergoglio prometeu “ir além” nas propostas lançadas.
É que será o documento papal - com valor magisterial – que concretizará as propostas lançadas pelo Sínodo, e aqueles que o conhecem argumentam, sem dúvida, que reunirá muitas das inquietações formuladas nos documentos de trabalho prévios e que o consenso sinodal podou convenientemente.
O documento final, cujos 120 pontos foram aprovados por maioria de dois terços quis destacar “a integração da voz da Amazônia com a voz e o sentir dos pastores participantes. Foi uma nova experiência de escuta para discernir a voz do Espírito que conduz a Igreja a novos caminhos de presença, evangelização e diálogo intercultural na Amazônia”.
O texto final consiste em cinco capítulos, além de uma introdução e uma breve conclusão. Quais são as chaves do documento? Após três semanas de intenso trabalho, os 185 padres sinodais, juntamente com as 35 madres sinodais, propõem ao Papa a ordenação sacerdotal de homens casados, sem esquecer a mulher, para quem propuseram a criação do diaconato feminino e do ministério da “da mulher dirigente da comunidade”.
O Sínodo começou quando o Papa foi à Amazônia, a Puerto Maldonado, e termina com a Amazônia entrando no Vaticano. E fazendo isso com força, com um impactante documento de 120 pontos, todos eles aprovados por praticamente a unanimidade dos padres sinodais, incluindo a solicitação do sacerdócio para casados, o diaconato permanente feminino e a criação de um “rito amazônico”.
Até os três pontos mais controversos contaram com uma maioria que excede, em muito, dois terços. Assim, o ponto 111, que fala da ordenação de homens casados, foi o que teve maior contestação, embora mínima (128 a 41), enquanto o 103, no qual é proposto o “diaconato feminino permanente”, obteve apenas 30 votos negativos. No 117 e 119, que falam do rito amazônico, não chegou aos trinta ‘nãos’. Todos atingiram uma maioria de dois terços, fixada em 120 votos.
Por mais que os rigoristas – os da ‘elite católica’, como os definiu Francisco em seu discurso final – pressionaram, dentro e fora da aula sinodal, para evitar um Sínodo progressista, o certo é que a derrota foi sonora.
“Considerando que a legítima diversidade não prejudica a comunhão e a unidade da Igreja, mas a manifesta e serve, o que atesta a pluralidade de ritos e disciplinas existentes, propomos estabelecer critérios e disposições por parte da autoridade competente (... ) de ordenar a homens idôneos e reconhecidos da comunidade, que tenham um diaconato fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterato, podendo ter uma família legitimamente constituída e estável, para sustentar a vida da comunidade cristã por meio da pregação da Palavra e a celebração dos sacramentos nas áreas mais remotas da região amazônica. A este respeito, alguns defenderam uma abordagem universal do tema”, diz o ponto 111.
Trata-se de um passo definitivo para a ordenação de homens casados, e não apenas na Amazônia, mas também no âmbito universal, algo que já reconheceu o processo sinodal aberto na Igreja alemã. E quem fala das necessidades específicas da Amazônia, não pode ignorar as semelhanças dessas realidades com as que vivemos na Espanha esvaziada, os territórios de missão ou nos lugares onde a presença católica é muito pequena.
O ideal seria reconhecer, como São Paulo, que toda pessoa batizada é sacerdote e apóstolo, ou como o próprio Cristo, que disse que onde dois ou mais se reunissem em seu nome, estaria presente. E a própria tradição da Igreja, que impôs o celibato a partir do segundo milênio: apenas um dos doze apóstolos não era casado. Hoje, ninguém duvida que entre os discípulos de Jesus havia homens e mulheres, mas a prudência exige ir passo a passo, mesmo que defendemos uma Igreja na qual todos os batizados sejam totalmente iguais em direitos, obrigações ... e ministérios.
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O Papa publicará, na próxima semana, a exortação pós-Sínodo da Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU