04 Novembro 2019
“Educar não é apenas encher a cabeça de conceitos”, porque “uma educação reduzida a mera instrução técnica ou mera informação torna-se uma alienação da educação”. Às universidades católicas, o Papa Francisco recorda a essência da sua missão, diferente da das outras universidades: oferecer uma formação capaz de desenvolver “a mente”, mas também “o coração” dos próprios alunos, longe do predomínio das tecnociências e consciente da importância da dimensão ética. Porque “considerar que se pode transmitir conhecimentos abstraindo a sua dimensão ética seria como renunciar a educar”.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada em La Stampa, 10-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O pontífice recebeu no Vaticano nessa segunda-feira a Federação Internacional das Universidades Católicas (FIUC), reunida até esta terça-feira para um congresso no Centro de Congressos Augustinianum sobre o tema “Novas fronteiras para os líderes das universidades. O futuro da saúde e o ecossistema da universidade”.
Em seu discurso – que ecoa passagens da constituição apostólica Veritatis gaudium dedicada às universidades da Igreja – o papa afirmou: “É necessário superar a herança do Iluminismo. Educar, em geral, mas particularmente nas universidades, não é apenas encher a cabeça de conceitos. São necessários as três linguagens. É necessário que, entre as linguagens, entrem em jogo – disse ele de improviso – a linguagem da mente, a linguagem do coração e a linguagem das mãos, de modo que se pense em harmonia com aquilo que se sente e se faz; sinta-se em harmonia com aquilo que se pensa e se faz, faça-se em harmonia com aquilo que se sente e se pensa. Uma harmonia geral, não separada da totalidade”.
Para o pontífice, é “necessário agir sobretudo a partir de uma ideia de educação concebida como um processo teleológico, isto é, que olha para o fim, necessariamente orientado para um fim e, portanto, para uma visão precisa do ser humano”. Ao mesmo tempo, também é necessário ter “uma perspectiva adicional para abordar o tema dos porquês – isto é, da esfera ética – no campo educativo. Trata-se do seu caráter tipicamente epistemológico que diz respeito a todo o leque dos saberes, e não só aos humanísticos, mas também aos naturais, científicos e tecnológicos”.
Francisco pediu para “fazer uma nova episteme”. “É um desafio”, admitiu, sobretudo em um momento em que o desenvolvimento das ciências e das novas tecnologias e as mudanças nas exigências da sociedade solicitam “respostas adequadas e atualizadas” das instituições acadêmicas.
“A forte pressão, sentida nos vários âmbitos da vida socioeconômica, política e cultural, interpela, portanto, a própria vocação da universidade, em particular a tarefa dos professores de ensinar, de fazer pesquisa e de preparar as jovens gerações para se tornarem não só profissionais qualificados nas várias disciplinas, mas também protagonistas do bem comum, líderes criativos e responsáveis da vida social e civil, com uma visão correta do ser humano e do mundo”, afirma Francisco.
Nesse sentido, hoje, as universidades devem se interrogar sobre “a contribuição que elas podem e devem dar para a saúde integral do ser humano e para uma ecologia solidária”. Ainda mais as universidades católicas que “deveriam sentir essas exigências com ainda mais força”: em virtude da sua “abertura universal”, as universidades católicas devem se tornar “o lugar em que as soluções para um progresso civil e cultural para as pessoas e para a humanidade, marcado pela solidariedade, deve ser buscado com constância e profissionalidade”.
“A interdisciplinaridade, a cooperação internacional e o compartilhamento dos recursos são elementos importantes para que a universalidade se traduza em projetos solidários e frutuosos a favor do ser humano, de todos os seres humanos e também do contexto em que eles crescem e vivem”, disse Bergoglio.
É preciso “agir”, partindo, acima de tudo, “de uma ideia de educação concebida como um processo teleológico, necessariamente orientado para um fim e, portanto, para uma visão precisa do ser humano”.
Nesse horizonte, destaca Bergoglio, “a universidade tem uma consciência, mas também uma força intelectual e moral cuja responsabilidade vai além da pessoa a ser educada e se estende às necessidades de toda a humanidade”.
“O ecossistema das universidades é construído se cada universitário cultiva uma sensibilidade particular, aquela que lhe é dada pela sua atenção ao ser humano, a todo o ser humano, ao contexto em que ele vive e cresce e a tudo o que contribui para a sua promoção”, assegura o bispo de Roma.
É assim que se formam os líderes do futuro: desenvolvendo “não apenas a mente, mas também o ‘coração’, a consciência e as capacidades práticas do estudante”.
“O saber científico e teórico deve ser moldado com a sensibilidade do estudioso e pesquisador para que os frutos do estudo não sejam adquiridos em sentido autorreferencial, apenas para afirmar a própria posição profissional, mas sejam projetados em sentido relacional e social”, comenta Francisco.
E concluiu com uma citação do cardeal John Henry Newman, recentemente proclamado santo, patrono da FIUC, que sintetiza o caminho que a Igreja e os intelectuais católicos deveriam seguir: “A Igreja não tem medo do conhecimento, mas purifica tudo, não sufoca nenhum elemento da nossa natureza, mas cultiva tudo”.
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Papa às universidades católicas: “Educar não apenas enchendo a cabeça de conceitos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU