07 Outubro 2019
Bergoglio não está interessado em construir uma maioria “eleitoral” para um “Francisco II”, mas sim em assegurar a atenção da Igreja que virá aos temas-chave do pontificado. Para garantir o cuidado das periferias e o diálogo com o mundo. E, com o Sínodo sobre a Amazônia, o papa pretende “levar o ser humano a um estado de irmão entre irmãos, corresponsável pela humanidade”. Palavra de Andrea Riccardi, historiador do cristianismo e fundador da Comunidade de Santo Egídio.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada em La Stampa, 06-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Professor, os cardeais eleitores de nomeação bergogliana tornaram-se a maioria absoluta: o que isso significa?
Francisco não quer determinar o seu sucessor, mas sim iniciar processos em torno dos grandes temas que ele considera decisivos.
Como o senhor definiria o consistório desse sábado?
Um “livro” a ser lido. Com muitos assuntos.
Algum exemplo?
O diálogo inter-religioso, representado não por professores, mas por dois missionários, Ayuso e Fitzgerald. A comunicação do Evangelho no meio das pessoas, identificável como Zuppi. A Ásia, com o arcebispo de Jacarta. Com o prelado de Kinshasa, está o coração da África ameaçada pelas seitas. Com Hollerich, arcebispo do Luxemburgo, há a referência ao valor da Europa.
Que papel os novos cardeais deverão desempenhar?
Eles são chamados a levar adiante esses conceitos na Igreja que virá. O papa não visa a construir uma maioria para um Francisco II, mas sim garantir que haja homens revestidos de autoridades que transmitam as sensibilidades desse pontificado.
Nesse domingo, começa o Sínodo sobre a Amazônia: por que ele é importante?
É o percurso iniciado pela Laudato si’, que não é uma encíclica verde, mas sim social: a ecologia é a grande questão social dos nossos tempos. Os problemas ambientais produzem miséria e divisões no mundo.
Mas por que a Amazônia?
A perspectiva sobre a região pan-amazônica é uma perspectiva em que se encontram fatos universais como ecologia, pobreza, evangelização, justiça. O Papa Francisco tem uma visão global do ser humano.
O que isso significa?
A encíclica diz em essência que “tudo está interligado”: da criança no seio de sua mãe, às necessidades daqueles que vivem na miséria, passando pelas disfunções da “mãe terra”. Realidades pisoteadas por um homem que se faz deus e chefe absoluto: assim, ele está construindo para os outros um futuro de “prisões” e, ao mesmo tempo, também aprisiona a si mesmo.
Qual é o objetivo do papa?
Ele propõe uma libertação do ser humano de todos os tempos da couraça do homem-chefe, para levá-lo de volta ao status de irmão entre os irmãos, corresponsável pela humanidade e pela criação.
Os ataques contra Bergoglio são os mais duros que um papa da era moderna já sofreu?
Não. Paulo VI foi ferozmente contestado. Assim como João Paulo II, ridicularizado também pela sua nacionalidade polonesa. Todos os pontífices foram criticados, até mesmo Bento XVI: as reações a algumas de suas intervenções foram muito pesadas.
Quais são as características das manobras contra Bergoglio?
A difusão através das redes sociais, que representam o subjetivismo, ou seja, ‘eu me levanto e critico”. E frequentemente se trata de um subjetivismo organizado. Além disso, a contribuição de prelados alinhados abertamente contra o papa: assim, rompe-se aquele vínculo que manteve a Igreja unida.
Os escândalos financeiros podem enfraquecer o espírito reformador de Francisco?
Não. O chamado de Pignatone à presidência do Tribunal Vaticano confirma a luta em curso contra a corrupção. Bergoglio leva isso a sério.
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“Papa Francisco continua a luta contra aqueles que minam a unidade da Igreja”. Entrevista com Andrea Riccardi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU