03 Outubro 2019
Que os bispos do Sínodo tenham a liberdade e a audácia para traçar novos caminhos, pedindo o dom da escuta.
O comentário é de Laura Valtorta, publicada por Mondo e Missione, 02-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Instrumentum laboris nasceu de centenas de momentos de escuta e reflexão, onde milhares de mulheres, homens, indígenas, consagrados e consagradas, sacerdotes e bispos da região pan-amazônica compartilharam os desafios e as possíveis respostas para "novos caminhos de evangelização" que a partir da Amazônia podem ser propostos a toda a Igreja. O documento se desdobra em quatro grandes temas – a escuta, o diálogo, a inculturação e a profecia - que se unem à temática central: dar à Igreja Amazônica um rosto amazônico.
Se é verdade que o pastor deve ter o cheiro das ovelha, na Amazônia a Igreja deve ter o perfume dos índios, dos quilombolas, dos ribeirinhos, o cheiro daqueles que são forçados a deixar suas casas por causa da destruição causada pelos grandes projetos de "desenvolvimento", os habitantes das imensas periferias das metrópoles.
Devido à sua estrutura geográfica, a Igreja Amazônica tem o germe da pluralidade, não pode ser pensada como uniforme; superando a tentação da homogeneidade deve saber assumir modelos eclesiológicos diferenciados, cientes de que se trata apenas de modos culturais diferentes de expressar a mesma fé.
Outro aspecto que caracteriza o rosto da Igreja amazônica é a pobreza. Uma pobreza social feita de fome, analfabetismo, mortalidade infantil, mas também pobreza religiosa, com o número exíguo de padres a serviço das comunidades, apenas 3% do clero nacional. Por esse motivo, é necessário olhar para outra pobreza, a evangélica, que deve se tornar um elemento identificador de seu rosto.
Uma igreja com rosto amazônico deve saber tomar decisões sobre três aspectos em particular: ministérios, ecologia e inculturação dos ritos e da liturgia. A Igreja na Amazônia deve saber repensar os ministérios eclesiais a serem conferidos aos leigos e leigas. No Instrumentum laboris do Sínodo, existe a ousada proposta de conceder a homens já idosos, com famílias estáveis e de preferência indígenas, a possibilidade de celebrar a Eucaristia nas comunidades mais remotas; mas a mesma ousadia é necessária para identificar o ministério das mulheres, que desempenham um papel central na maioria das comunidades.
Outra característica é a defesa e proteção da natureza. Porque, como diz o Papa Francisco, não existem uma crise social e uma crise ambiental, apenas uma crise que une o grito da terra com o grito dos pobres e só pode ser superada através da conversão à ecologia integral.
Finalmente, a Igreja deve ser capaz de integrar os ritos tradicionais dos povos indígenas e adaptar a liturgia. São ritos que expressam uma visão cosmológica, uma relação sagrada com a natureza, com os ancestrais e com o Criador. A liturgia deveria, portanto, ser capaz de integrar a riqueza das diferentes línguas nativas, dos cantos, danças, símbolos que tornaria o Mistério celebrado mais próximo. Que os bispos do Sínodo tenham a liberdade e a ousadia para traçar novos caminhos, pedindo o dom da escuta. “Escuta de Deus, até ouvir com ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade de Deus nos chama" (Episcopalis Communio, 6).
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Igreja com rosto amazônico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU