05 Setembro 2019
Na semana passada, os bispos da Amazônia brasileira, se reuniram em Belém para estudar o Instrumento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia. Depois de três dias de encontro, os participantes do encontro redigiram uma carta que neste 4 de setembro, em nome da Rede Eclesial Pan Amazônica – REPAM, foi entregue pelo bispo da Prelazia do Marajó, Dom Evaristo Pascoal Spengler, acompanhado de muitos membros da REPAM e indígenas, ao Presidente da Comissão Geral para debater a preservação da Amazônia, o deputado Alessandro Molon, e o Presidente da Frente Ambientalista da Câmara deputado Ailton Tattoo.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
A carta, que tem provocado mal-estar em setores do governo brasileiro, é um chamado a toda a sociedade para defender a Amazônia, “chão sagrado que Deus criou em sua generosidade e que devemos zelar e cultivar para as presentes e futuras gerações”, e seus povos, uma preocupação presente entre os bispos da Amazônia desde 1952, como relatava Dom Evaristo diante dos presentes, sempre numa perspectiva de debater sobre os problemas ambientais e da evangelização na região.
Alessandro Molon e Dom Evaristo (Foto: CNBB)
O bispo do Marajó, afirmava que “esse Sínodo tem que ser compreendido como uma continuação da Laudato Si' do Papa Francisco, a preocupação do Papa com a nossa Terra, como o nosso Planeta, que ele chama de a Casa Comum”. Dom Evaristo tem lido alguns dos parágrafos da carta, fazendo ênfase na defesa da Amazônia e a exigência de medidas urgentes aos governos, assim como das angustias e denúncias que aparecem na carta.
Retomando as palavras do Papa Francisco em Puerto Maldonado, o bispo denunciava que “a Amazônia está num contexto global de disputa”, consequências de “visões de mundo diferentes, por diferentes modos de ver a relação com o ambiente, modos diferentes de tratar com a economia”. Ele tem colocado de um lado a atitude “dos povos tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, que preservam o meio ambiente”, e do outro “o agronegócio, as madeireiras, as mineradoras, invadindo, poluindo, destruindo o meio ambiente”, um confronto de modelos globalizado.
Dom Evaristo (Foto: CNBB)
Diante dessa realidade, o bispo do Marajó tem deixado claro que como Igreja, “nós estamos do lado dos fracos, assim agiu Jesus, Jesus defendeu os pobres, os vulneráveis, os fracos, a Igreja se compromete com os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, e todos os povos vulneráveis de nossa Amazônia”, palavras que provocaram aplausos entre os presentes. O que Dom Evaristo tem pedido é “a solidariedade, o compromisso desta comissão com essa causa indígena pela qual muitos no Brasil e no exterior estão lutando”.
Dom Evaristo Spengler afirma que “a Amazônia tem chamado a atenção do Brasil e do mundo, especialmente pelo desmatamento e pelas queimadas que levaram nuvens de fumaça até São Paulo no último mês”. Diante dos muitos jornalistas presentes, que perguntaram sobre o por que a Igreja se preocupa em ter um Sínodo para a Amazônia neste momento, se teria algo a ver com a política no Brasil, o bispo respondia que “a Igreja tem uma longa história na Amazônia desde o século XVII e reuniões regulares sobre a Amazônia desde 1952”. Por isso, ele enfatizou que “o Sínodo é uma continuidade da ação da Igreja ao longo destes séculos, e também uma continuidade da ação do Papa na preservação da Casa Comum com a sua encíclica Laudato Si'”.
(Foto: CNBB)
É por isso, afirma Dom Evaristo, que “o Sínodo quer aprofundar a forma da evangelização da Amazônia em nossos dias, ao mesmo tempo, que quer buscar uma forma nova do cuidado da criação que Deus nos deixou, sem destruí-la, para que a vida continue a ser possível em nosso planeta”. Isso só é possível se seguir as palavras do Papa Francisco, que segundo o bispo do Marajó, “tem recomendado uma vida mais sóbria, sem tanto consumismo, que se alastra por todas as partes do mundo”.
A resposta do deputado Alessandro Molon, tem sido de agradecimento pela “realização deste Sínodo da Amazônia em outubro próximo”, pedindo que seja transmitido à presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e ao Papa Francisco, “nossa alegria com a realização e com a escolha desse tema”, e junto com isso, tem manifestado que “nós esperamos, sim, que a Igreja continue com sua coragem de colocar o dedo na ferida e de dizer aquilo que precisa ser dito sobre a preservação da Amazônia”.
Se desmarcando da opinião de alguns governantes, se referindo claramente a posturas oficiais, inclusive do próprio Presidente da República, que tem admitido publicamente o monitoramento dos bispos que vão participar do Sínodo pela ABIN (Agência Brasileira de Informação), o deputado tem enfatizado que o congresso felicita a CNBB e o Vaticano pela escolha do tema e pela realização, reconhecendo que “é grande nossa esperança com o que sairá do Sínodo da Amazônia”, pelo que Alessandro Molon tem parabenizado e enviado um grande abraço à CNBB e ao Papa Francisco. Diante das palavras do presidente da comissão, Dom Evaristo tem finalizado dizendo que “a Igreja continuará a ser essa Igreja profética, que denuncia o que deve ser denunciado, que está contra os desígnios de Deus aqui nessa terra”.
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“A Igreja se compromete com todos os povos vulneráveis de nossa Amazônia”, afirma Dom Evaristo Spengler na Câmara Federal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU