15 Julho 2019
O Papa Francisco diz repetidamente que “o tempo é superior ao espaço” e, em seis anos e três meses do seu pontificado, no dia 8 de julho para ser exato, ele deu o passo de nomear sete mulheres – superioras gerais de ordens religiosas – para uma Congregação vaticana. Foi algo inédito. Como membros da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, essas mulheres terão voz como parte do órgão global mais diretamente envolvido em questões relacionadas à sua vocação.
A opinião é do jornalista estadunidense Don Clemmer, ex-profissional de comunicação da Conferência dos Bispos dos EUA. O comentário é publicado por National Catholic Reporter, 13-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O papel das mulheres na Igreja tem sido frequentemente discutido durante a era Francisco, e não sem atritos. Até mesmo os apoiadores do papa às vezes se perguntam abertamente onde acaba o seu profundo e intencional discernimento inaciano e onde começa a limitação da sua visão sobre a igualdade das mulheres e talvez a sua própria autoridade.
O fato de tantos serem deixados adivinhando sobre a vida interior de uma pessoa – um homem como ele – deveria indicar que uma abordagem adicional é necessária. Nomeadamente, a próxima assembleia geral do Sínodo dos Bispos (que provavelmente ocorrerá nos primeiros anos da próxima década) deveria ser dedicada ao papel das mulheres na vida da Igreja.
A importância dessa questão – uma questão que a Igreja não pode mais se dar ao luxo de postergar – acompanha a crescente importância que Francisco atribuiu ao Sínodo dos Bispos durante o seu pontificado. Essas reuniões periódicas de algumas centenas de bispos e inúmeros observadores de todo o mundo para aconselhar o papa sobre vários assuntos são eventos de grande alcance, literalmente cheios do Espírito, longe dos arranjos pró-forma em que eles haviam se tornado há poucas décadas.
Os sínodos da era Francisco também foram um dom para a Igreja, com frutos reais: das exortações Amoris laetitia (sobre a família) e Christus vivit (sobre os jovens), aos simples atos de engajamento e de escuta que deram forma a essas reuniões.
Um sínodo sobre as mulheres seria tão universal quanto o sínodo sobre os jovens, e tão particular quanto o sínodo deste ano sobre a região amazônica, compartilhando com essas duas reuniões, ao mesmo tempo, a qualidade de oferecer uma voz/plataforma a pessoas frequentemente marginalizadas na Igreja.
Tudo isso não significa que as mulheres não tenham experimentado um progresso com o Papa Francisco. Em 2014, ele nomeou um número recorde de mulheres – cinco – para a Comissão Teológica Internacional, órgão que aconselha a Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano. Na época, Francisco ofereceu a essas estudiosas talentosas o infame elogio de compará-las a “cerejas sobre o bolo” (...).
Nomeações de alto nível por parte de Francisco também poderiam ser vistas como algo que se ajusta aos padrões históricos da sinodalidade e da colaboração na Igreja. Por exemplo, o Papa Pio XII fez reformas litúrgicas unilaterais – como encurtar o jejum pré-Comunhão e restaurar a Vigília Pascal – apenas para que seu sucessor, João XXIII, convocasse um Concílio Ecumênico uma década depois, permitindo que toda a Igreja se apropriasse do processo de renovação.
Mais recentemente, Francisco permitiu que uma comissão para estudar a reforma do processo de nulidade cumprisse completamente o seu curso antes de convocar o segundo Sínodo para discutir a vida familiar em 2015.
Agora, uma comissão sobre as mulheres diáconas foi considerada inconclusiva sobre se as mulheres diáconas dos primeiros séculos da Igreja tinham um ministério sacramental. Um bispo dos Estados Unidos confidenciou que o fato de Francisco evitar uma conclusão era um esforço para fomentar uma discussão pública real e substancial em toda a Igreja – de fato, trazendo a sinodalidade para a equação, sem sequer convocar tal evento. O mesmo bispo também disse que, se a ordenação realmente está fora de questão, Francisco precisa fazer “algo real” pelas mulheres.
Nessa linha, provavelmente serão necessários a deliberação e o discernimento de uma discussão sinodal para desfazer o nó que Francisco deixou na Evangelii gaudium, ao destacar o problema, especialmente para as mulheres na Igreja, quando “a potestade sacramental é demasiadamente identificada com o poder”. E a história recente sugere fortemente que um sínodo envolvendo – e ouvindo – as mulheres seria especialmente poderoso.
Na reunião de fevereiro sobre a proteção dos menores realizada no Vaticano, duas mulheres – a irmã nigeriana Veronica Openibo, líder da Sociedade do Santo Menino Jesus, e a jornalista mexicana Valentina Alazraki – fizeram os discursos considerados mais amplamente como aqueles que mais fugiram da mesmice em relação à Igreja e que mais desafiaram os bispos à transparência e à responsabilização.
Se um sínodo sobre questões referentes às mulheres aumentasse o número de observadores para algo parecido com um diálogo entre bispos e mulheres – leigas e religiosas, de todas as idades, culturas e origens – a discussão subsequente (e o eventual documento magisterial de um papa) poderia ser sísmico para a vida da Igreja.
Uma frase popularmente atribuída a Thomas Merton é de que a maior tentação humana é se contentar com pouco. Se a Igreja deve ir além das questões funcionais de nomear mulheres para certos papéis e cargos, e realmente deve abrir as possibilidades para um papel “capilar e incisivo” que Francisco diz que elas devem ter, então o Espírito Santo, trabalhando através das discussões de um processo sinodal, vai desempenhar um papel fundamental. É hora de entrar nesse espaço.
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Próximo Sínodo dos Bispos deveria se concentrar nas mulheres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU