18 Junho 2019
Mas então este Sínodo sobre a Amazônia será um "cavalo de Tróia" para avançar as propostas revolucionárias na Igreja como a abolição do celibato e o sacerdócio feminino? "Eu absolutamente nego isso. Tudo o que é doutrina, essência, permanece inalterado. O resto pode ser estudado ou até mesmo inventado”. O cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral da Secretaria do Sínodo dos Bispos, tenta silenciar as polêmicas que, já com bastante antecedência, acompanham a reunião de 6 a 27 de outubro próximo dedicada às regiões pan-amazônicas.
A entrevista é de Luca Attansio, publicada por Vatican Insider, 17-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Apresentando na Sala de Imprensa do Vaticano o Instrumentum laboris, o documento guia das discussões dos padres sinodais, o cardeal – na mesa dos palestrantes ao lado de monsenhor Fabio Fabene, subsecretário do Sínodo dos Bispos e do padre Humberto Miguel Yáñez, professor de Teologia Moral na Universidade Gregoriana - abordou com os jornalistas dois pontos específicos do texto que atraíram a atenção geral: o 129 dedicado, precisamente, aos novos ministérios: do feminino ao viri probati (uma expressão que, no entanto, não aparece sequer uma vez nas cento e trinta e uma páginas do Instrumentum); e o ponto 127 em que se pede para "reconsiderar" a ideia que o exercício da jurisdição esteja ligado em todas os âmbitos (sacramental, judicial, administrativo) e permanentemente ao Sacramento da Ordem. Em essência, para desconectar o poder do governo da ordenação sagrada.
Algo vai mudar então? A autoridade será do bispo ou, por exemplo, de um conselho de homens sábios?
A questão é compreensível, há muito o que estudar sobre esse ponto: é um problema doutrinário e não apenas disciplinar. Fala-se em munus, há três munera - santificandi, docendi e regendi – incindíveis como tais. Não se pode simplesmente dar uma resposta do tipo: pois bem, eu dou o poder de santificar e excluo o resto. Do ponto de vista de decisão final, no que diz respeito à oportunidade, o Papa quando ordena um sacerdote ou um bispo dá os três munera. Depois também poderia dizer: um dos três, você não pode exercê-lo. Mas exercício é uma coisa, em vez disso, dar a sacramentalidade como tal é outra. A autoridade de governo é um assunto que precisa de mais estudos. Está sendo levado em conta nestes tempos. Há um passo à frente na consideração de certas funções que não são ligadas ao sacramento da ordem.
Esta reflexão aplica-se a toda a Igreja universal?
Quero esclarecer que estamos falando de um Sínodo de caráter especial, centrado em uma região específica que tem temáticas e necessidades específicas. Além disso, devemos lembrar que o Instrumentum laboris apresentado hoje não é um documento definitivo, mas o fruto da reunião de vozes e de propostas que as pessoas, o povo, nos ofereceu. Houve um longo processo de escuta, que dura há quase dois anos: o Instrumentum laboris é a coleta de todas essas perguntas. E a resposta será dada pelos padres sinodais que abordarão o que está contido no documento. Nele, entre outras coisas, deve ser destacada a referência à Evangelii gaudium e à Laudato Si', que nelas contêm referências aos padres da Igreja, às Escrituras, aos magistrados dos pontificados anteriores.
Segundo o senhor, essas ideias sobre os "novos caminhos" que surgirão durante o Sínodo - como a possibilidade de ordenação sacerdotal de homens com famílias constituídas - poderiam ser aplicados, mais que em territórios que vivem situações semelhantes como as Ilhas do Pacífico ou o Congo, por países como a Alemanha? Os bispos alemães logo se reunirão para um sínodo nacional em que se espera, entre outros temas, um debate sobre o celibato...
Está claro que isso tem uma repercussão universal, porque a Igreja é universal. O importante é entender que a Igreja não é uma esfera monolítica, mas, como diz o Santo Padre, um poliedro. Existe um pluralismo, mas tudo deve ser reduzido à unidade sempre na diversidade. Existem regiões especiais, com situações totalmente diferentes, o contexto histórico e geográfico da Alemanha é bastante diferente do da Amazônia ... De qualquer forma, tudo o que não toca a doutrina como tal, a precisa mensagem do Evangelho, pode ser de alguma forma estudado e adaptado aos tempos, lugares e circunstâncias.
O Instrumentum fala de ministério para as mulheres. O senhor que conheceu esses lugares de perto poderia dar um exemplo de um papel que as mulheres poderiam desempenhar na prática?
A presença feminina é fundamental, tanto no âmbito da vida consagrada como na própria população indígena local. Algumas mulheres já têm papéis importantes, por exemplo, como catequistas. Neste caso, o que nos é pedido é estudar a atribuição de um ministério oficial. Já existe o acólito e o lecturer que não fazem parte do sacramento da Ordem, que começa com o diaconato. São ministérios que não tocam o sacramento, veremos o que nos será proposto. Também se fala em ‘inventar’ outros ministérios. Porque não? Não tenha ideia, mas, por exemplo, fala-se tanto em ecologia que é verdade que é um tema civil, mas toca a todos nós... Repito: tudo o que não toca a estrutura, a essência, pode ser modificado, inventado. Como na liturgia! Vamos pensar, por exemplo, no campo da música: antes havia apenas o canto gregoriano, depois vieram os hinos, depois os cânticos de Santo Afonso, as canções folclóricas e entraram na para-liturgia e também na liturgia.
O senhor falava de uma representação de vinte indígenas que participará da assembleia sinodal. Com que critério foram escolhidos?
Pedimos à Repam, a Rede eclesial pan-amazônica que está nos dando uma grande ajuda na preparação do Sínodo, que os escolha nos nove distritos pan-amazônicos. Vamos ver, estamos abertos a todas as propostas.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Sínodo sobre a Amazônia, Baldisseri: não é um prelúdio para a abolição do celibato e do sacerdócio feminino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU