15 Agosto 2016
Horas depois do Dia Internacional dos Povos Indígenas, as imagens de fontes de água da Amazônia tingidas de petróleo voltaram a aparecer no Peru. O quinto derramamento do ano até agora foi detectado na manhã de quarta-feira no distrito de Nieva, região da Amazônia peruana, e segundo a organização indígena Aidesep afetou dez comunidades nativas da tribo awajún.
A reportagem é de Jacqueline Fowks, publicada por El País, 12-08-2016.
Ever Yangua Carhuapoma, representante da cidade de Condorcanqui, na província a que pertenece Nieva, escreveu no Facebook que o vazamento foi encontrado por moradores no vale de Uchichiangos, localizado no quilômetro 365 do Oleoducto Norperuano, da estatal PetroPerú, às 6h da manhã da quarta-feira. O vale é uma fonte de água.
"O lugar está distante duas horas e meia de viagem (de carro) de Inayo, no distrito de Imaza, onde aconteceu o vazamento de dois meses atrás", explicou Yangua. De acordo com o funcionário municipal, Uchichiangos abastece as comunidades nativas de Tunduza Puerto, Japaime Escuela e Yantana, que ficam na parte baixa em direção ao rio Nieva.
O vazamento de Imaza, o primeiro do ano, foi detectado no fim de janeiro, e os 2.000 barris afetaram o vale do Inayo e os rios Chiriaco e Marañón, onde os moradores das comunidades próximas tomam banho, pegam água e pescam para consumo próprio.
A reação tardia da PetroPerú para conter os danos causou, na época, uma forte crítica dos moradores de Lima, devido à divulgação em mídias sociais e canais de TV de imagens de menores de idade que recolhiam o petróleo do rio, sem luvas ou qualquer proteção, depois que um membro da empresa ofereceu pagar 45 dólares (135 reais) para cada galão da substância que fosse recuperado.
No entanto, poucos dias depois, no início de fevereiro, na região de Loreto, aconteceu outro vazamento, de aproximadamente 1.000 barris de betume - o petróleo cru - em comunidades muito distantes de estradas e até mesmo de transporte fluvial. As ações da PetroPerú para controlar os danos em Morona e outras comunidades foram menos fiscalizadas, devido ao alto custo do transporte para os líderes indígenas.
Em março, um grupo de pessoas afetadas tomou à força um helicóptero e reteve a trabalhadores estatais durante várias horas, sob a exigência de que o Governo incluísse sua comunidade entre as que estavam em estado de emergência, para que pudessem receber água e alimentos.
Em meados de fevereiro, o Organismo Supervisor de Investimentos em Energia e Mineração (Osinergmin) multou a PetroPerú em mais de 3 milhões de dólares (9,2 milhões de reais), por não haver adequado sua infraestrutura para manter a integridade do Oleoduto Norperuano. A decisão foi tomada após um processo administrativo, devido ao derramamento que afetou a comunidade Cuninico, em Loreto, em 2014. A entidade reguladora também ordenou, na época, que a estatal parasse de bombear petróleo até que tivesse a certeza de que não havia mais falhas no duto, de 40 anos de idade. A medida, no entanto, não foi acatada.
Em 19 de fevereiro, moradores detectaram outro vazamento em Jaén, Cajamarca, que afetou terras utilizadas para a agricultura. Embora a empresa tenha negado, em princípio, que se tratava de um vazamento, Órgão de Avaliação e Fiscalização Ambiental (Oefa), ligado ao Ministério do Ambiente, confirmou a informação.
Por último, em 24 de junho, o morador Hermógenes Huamán avisou à polícia sobre outro caso em Barranca, na província Datem del Marañó, em Loreto. Dias depois, o então ministro do Ambiente, Manuel Pulgar Vidal, mostrou à imprensa um documento da PetroPerú que continua a informação sobre uma falha no sistema de transporte de betume de uma estação para outra; era o que havia vazado em Barranca. Era a prova de que a estatal havia desrespeitado a ordem de não continuar bombeando. A PetroPerú foi multada novamente e denunciada ao Ministério Público.
O presidente da PetroPerú, Germán Velásquez, renunciou ao cargo logo depois de descoberta a nova infração, mas os vazamentos continuaram. Em um comunicado divulgado na tarde de quarta-feira, a companhia petrolífera afirmou que uma equipe especial para lidar com emergências está trabalhando "para conter os vazamentos do produto".
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Quinto vazamento de petróleo do ano pinta de preto a Amazônia peruana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU