22 Outubro 2011
O último livro do historiador italiano resume décadas de estudos sobre a URSS e se concentra sobre os fenômenos que desgastaram a sociedade, como a enorme difusão do alcoolismo. "Entre os genocídios que marcaram a história do país, há também aquele menos conhecido da deportação dos tchetchenos". "As reformas tentadas por Gorbachev contribuíram para o colapso, porque aumentaram a ineficiência do sistema".
A reportagem é de Leopoldo Fabiani, publicada no jornal La Repubblica, 14-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"A vinte anos de distância, já é claro que, no colapso da União Soviética, a extraordinária difusão do alcoolismo também teve um papel de primeiríssimo plano, ao mesmo tempo sintoma e causa de uma degradação social e demográfica que contribuía para tornar a situação absolutamente insustentável".
Quem oferece uma perspectiva, até agora pouco comum, para olhar para a crise do império comunista, é Andrea Graziosi, 57 anos, professor de história contemporânea em Nápoles, fellow em Harvard, associé na École des Hautes Études de Paris. O seu último trabalho, L"Unione Sovietica 1914-1991, que será publicado nestes dias (Ed. Il Mulino, 688 páginas) é uma síntese dos seus estudos há décadas sobre a história da URSS.
O livro percorre novamente aqueles acontecimentos que marcaram o século XX e as vidas de milhões de homens à luz da documentação mais recente e, ao mesmo tempo, apresenta o debate historiográfico tendo saído hoje das paixões ideológicas da Guerra Fria, quando prevaleciam as demonizações sem apelo ou as exaltações que negavam os dados de fato mais elementares. Uma história que Graziosi descreve como "sempre imprevisível". Começando pela tomada do poder por Lênin em 1917, que surpreendeu o mundo inteiro, para acabar na incrível dissolução pacífica de uma superpotência dotada de imensos arsenais atômicos.
E, exatamente há 20 anos, em 1991, a União Soviética deixava de existir, entre o "golpe" de agosto, frustrado pela reação de Boris Yeltsin, e o 25 de dezembro, quando no Kremlin a bandeira tricolor russa tomava o lugar da vermelha da URSS.
Eis a entrevista.
Professor Graziosi, já foram dadas muitas explicações para o colapso soviético: da pressão dos EUA de Reagan às reivindicações nacionais, da crise econômica às escolhas políticas de Gorbachev. Em geral, parte-se da queda do Muro de Berlim em 1989.
Eu não acredito que a queda do Muro tenha sido uma das causas do colapso soviético. Em vez disso, o oposto é verdadeiro. Quero dizer que o muro caiu porque a URSS estava em crise, e é daí que devemos partir, da crise estrutural do sistema. Quando Mikhail Gorbachev assumiu o poder em 1985, todos, dos dirigentes às elites cultas das cidades, estão conscientes de que "o país está no extremo", como se lê em um relatório oficial. E a população sabe muito bem que, no Ocidente, vive-se muito melhor. O próprio Gorbachev repete obsessivamente: "Assim não é possível seguir em frente". É a situação econômica e social que são insustentáveis. Todo o grupo dirigente, compacto, pensa que as reformas são necessárias. Mas são justamente as reformas o fator desencadeador do colapso.
É um raciocínio paradoxal?
Não, eu defendo que, a partir do momento em que o sistema só produz ineficiência, a aceleração imprimida por Gorbachev aos mecanismos econômicos só aumenta essa ineficiência. Em 1989, todos os indicadores econômicos, renda nacional, dívida pública, inflação, balança comercial, pioraram. Nesse ponto, Gorbachev muda de estratégia. Ele já não acredita que o sistema comunista baseado no partido único e a economia de estado podem ser salvos. E decide, ao contrário, que se pode conservar a estrutura estatal contanto que se separe o seu destino do destino do sistema socialista. Aqui se abre a ruptura com o resto do grupo dirigente, que depois levará ao golpe de 1991.
Essas reformas estavam erradas, então?
Era absolutamente necessário mudar, mas a mudança levou ao fim de um sistema que poderia, ao contrário, declinar lentamente sabe-se lá até quando. Depois, levemos em conta que a glasnost de Gorbachev também fez deflagar o enorme problema da história soviética.
Em que sentido?
A "transparência" gorbacheviana reabriu o debate sobre os expurgos stalinianos, 700 mil fuzilados em 15 meses entre 1937 e 1938. Depois de décadas, vieram à luz os fatos das fomes provocadas por Moscou em 1934 na Ucrânia e no Cazaquistão, onde morreram de fome, respectivamente, 4 milhões e 1,5 milhão de pessoas. E tornou-se impossível para os dirigentes reformistas sustentar qualquer forma de continuidade com esse passado.
Muito se debateu sobre a natureza "genocida" da União Soviética. Qual é a sua opinião?
Eu não gosto muito dessas discussões, porque se faz uso de categorias jurídicas que servem pouco para a compreensão histórica. Em todo o caso, o sistema soviético foi genocida, sem dúvida. Um episódio menos conhecido dentre tantos outros: em 1944, em duas semanas, foi deportada para a Ásia Central toda a população da Chechênia, e 20%, um percentual assustador, não sobreviveram. Eram sobretudo velhos e crianças. O Holocausto continua sendo uma outra coisa, porém, porque nos massacres soviéticos nunca houve a vontade do extermínio total, presente, ao contrário, na Shoah.
Com a "glasnost", também se torna de domínio público o enorme problema do alcoolismo.
Quando se olha para as estatísticas demográficas, verifica-se um dado impressionante. De 1945 a 1965, a expectativa de vida na União Soviética aumenta exatamente como no Ocidente. Depois piora, mas só para os homens. E a explicação está na difusão do alcoolismo, que Gorbachev tenta combater com políticas proibicionistas, logo abandonadas porque a produção do álcool é estatal, e os cofres do Estado têm uma necessidade absoluta dessa receita.
Quais são as causas desse fenômeno?
As explicações possíveis são muitas. A vodka é um dos poucos bens de consumo disponíveis, e, portanto, todos a compram. Ou diz que os homens desafogam assim a frustração devida à incapacidade de se realizarem no trabalho criativo. O fato é que não se encontra nada comparável em nenhum outro país industrial avançado. E isso é um sinal inequívoco de que a situação social na União Soviética havia chegado a um ponto verdadeiramente insustentável.
As consequências também foram pesadas sobre a condição feminina.
No pós-guerra, as mulheres soviéticas se encontraram em uma situação terrível. Os homens eram poucos e muitas vezes abandonavam as esposas por companheiras mais jovens. As políticas demográficas favoreciam os filhos ilegítimos. Muitas vezes, cabiam às mulheres os trabalhos mais humildes, e elas tinham que criar seus filhos sozinhas, ou encontravam em casa maridos alcoolizados e violentos. Foram a parte sadia e forte da sociedade, mas certamente sofreram muito.
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"Assim ruiu a União Soviética". Entrevista com Andrea Graziosi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU