10 Janeiro 2012
O Manifesto pela Terra e pelo Homem de Pierre Rabhi (foto) é um verdadeiro programa político.
A opinião é de Carlo Petrini, chef italiano fundador do movimento Slow Food, em artigo para o jornal La Repubblica, 07-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O Manifesto pela Terra e pelo Homem de Pierre Rabhi remonta a 2008 e agora foi publicado na Itália. Especialmente na França e na África, Rabhi é uma das figuras mais carismáticas dos movimentos ecológicos, da agricultura orgânica e biodinâmica. Talvez seja um pouco menos conhecidos entre nós [italianos], além das sempre atentas redes ambientalistas, até porque as suas publicações na Itália são muito raras.
Isso não diminui o fato de ele ser uma figura extraordinária, e que esta tradução que é publicada Editora Add (169 páginas) nos permita nos aproximarmos mais agilmente da sua visão do mundo e da vida. Antes de falar a respeito, porém, é bom começar da sua história.
Nascido em 1938 na Argélia, Rabhi logo perdeu seus pais e foi adotado por um casal francês. Passou os anos da sua primeira formação em Paris, onde, mais do que as escolas, frequentou as fábricas, lugares que lhe forneceram um bom material para as suas primeiras reflexões profundas sobre a natureza humana.
Depois, nos anos 1960, decidiu se mudar para o campo com a esposa, precisamente para Ardeche, no sudeste da França, em um território bastante difícil do ponto de vista agronômico, o que, no entanto, não afetou a sua capacidade de abraçar e favorecer a vida. Ou melhor, as dificuldades do território se tornaram um estímulo. Logo se aproximou, no início dos anos 1970, das teorias de Steiner e de Pfeiffer sobre a agricultura orgânica e biodinâmica, e lentamente transformou a sua pequena fazenda naquela que ele define hoje de "um oásis de vida".
Enquanto isso, ele se ocupou em viajar e ensinar aos agricultores – especialmente os africanos e de zonas pobres do planeta – aquele que ele também define como "agroecologia": um modo simples e harmônico com a Natureza para fazer com que os terrenos frutifiquem sem depredar recursos e reconquistar a própria soberania alimentar; para se alimentar conjugando as próprias exigências com as do ambiente e, enquanto isso, circundar-se de beleza. Um fator, este último, que vai muito além da simples questão estética (e, por isso, revolucionário), decisivo em todas as suas reflexões, muito altas e muito compreensíveis ao mesmo tempo.
A popularidade na sua terra adotiva cresceu muito ao longo dos anos, ao ponto de, em 2002, arriscar seriamente se candidatar ao Eliseu: um agricultor presidente teria sido um belo sonho, mas os obstáculos, nesse caso, eram verdadeiramente insuperáveis.
Que essa anedota sobre a sua vida não nos deixe enganar: Rabhi foi e continua sendo um agricultor e, como todos os verdadeiros agricultores, tem um modo de pensar animado por um amor quase fisiológico pela simplicidade. É absolutamente guiado por aquele bom senso que, embora muito imediato em quem o pratica com convicção, é realmente um dos modos de pensar mais complexos que se possa imaginar: leva em conta as conexões escondidas em torno do eu e adquire poder de forma diretamente proporcional à complexidade que envolve.
Daí surgem palavras plenamente compartilháveis, que, na primeira parte do livro, dedicada à Terra, talvez não revelarão nada de novo àqueles que frequentam essas temáticas, mas são expressas com uma linearidade e uma imediaticidade que tornam o instrumento – a forma de manifesto – muito mais útil e eficaz.
Ele vai ainda mais fundo na segunda parte, com o tema do humanismo, que nos fala da necessidade de uma profunda revolução das consciências para mudar paradigmas, em particular a partir da compreensão e da riqueza da beleza. "Pode a beleza salvar o mundo?", pergunta-se Rabhi retoricamente, e se entende que o seu encante diante da harmonia da natureza não é simples arrebatamento poético, mas sim estrutura, programa político, compreensão do complexo, do escondido, respeito pela delicadeza dos sistemas ecológicos, mas também tributo à grandeza que os agricultores ainda podem expressar sobre esta Terra tão maltratada.
A mensagem de que beleza, prazer ou paisagem são os verdadeiros pressupostos para uma gestão ecológica da coisa humana ainda não é totalmente compreendida hoje: enquanto tantas consciências ambientalistas se despertam, o belo e o bom infelizmente continuam sendo muitas vezes tabus, confundidos com um luxo para poucos. No entanto, eles devem ser a norma para todos, a partir da sua simplicidade mais imensa, se quisermos que a qualidade de vida se torne algo real, em vez de uma boa intenção repetida ao infinito.
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O agricultor que pode salvar as nossas terras. Artigo de Carlo Petrini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU