01 Abril 2013
Educadores e políticos continuam discutindo se os computadores são uma boa ferramenta de ensino. Mas um número cada vez maior de escolas está adotando uma nova abordagem ainda mais polêmica: pedir aos estudantes que levem para o colégio seus próprios smartphones, tablets, laptops e até consoles de videogame.
As autoridades educacionais dizem que os equipamentos dos próprios alunos são a maneira mais simples de acessar uma nova geração de aplicativos de aprendizado que podem, por exemplo, lhes ensinar matemática, aplicar testes e permitir que compartilhem e comentem redações com os colegas.
Os defensores dessa nova tendência, chamada BYOT (de "bring your own technology", ou "traga sua própria tecnologia"), dizem que há outra vantagem: a economia de dinheiro nas escolas com dificuldades.
A reportagem é de Matt Richtel, publicada no jornal The New York Times e reproduzida pelo Portal Uol, 31-03-2013.
Alguns grandes distritos escolares no centro da Flórida e perto de Houston e Atlanta já aderiram e estão recebendo ligações e oferecendo visitas a administradores de centenas de outros distritos que consideram seguir seu exemplo.
Mas a BYOT tem muitos céticos, mesmo entre aqueles que veem benefícios no uso de mais tecnologia nas salas de aula.
"As escolas esperam que haja uma solução grátis porque elas não têm dinheiro", disse Elliot Soloway, professor de informática na Universidade de Michigan, que dá consultoria a muitos distritos escolares sobre o uso de computadores para promover o aprendizado. "Se você examinar as iniciativas em educação pública, isso capta bem o momento."
Mas Soloway também disse que fica "assustado" com a ideia de que as escolas usem essa nova tendência como uma solução orçamentária rápida, porque não há evidências de que uma sala cheia de estudantes usando equipamentos diferentes possa melhorar o aprendizado.
Roy Pea, professor de ciências do aprendizado na Universidade Stanford, também tem dúvidas. Ele é coautor do Plano Nacional de Tecnologia Educacional, apoiado pela Casa Branca e publicado em 2011, que defende salas de aula centradas na tecnologia.
Mas ele disse que a abordagem BYOT poderá ser contraproducente se os professores forem obrigados a criar aulas em torno de dispositivos diferentes –ou seja, submetendo o currículo à tecnologia.
"Por que eles estão tão contentes em ter esses equipamentos se alguns anos atrás não os queriam na sala de aula?", perguntou Pea sobre os administradores escolares.
O distrito escolar de Volusia County, no centro da Flórida, vizinho a Daytona Beach, é um dos lugares que costumava ter placas nas escolas advertindo os estudantes de que celulares não eram permitidos. Mas as placas foram substituídas nos últimos dois anos por outras que dizem "BYOT".
As autoridades escolares de Volusia dizem ter percebido que devem aproveitar a ligação dos alunos com seus equipamentos, em vez de combatê-la. Ao mesmo tempo, o distrito descobriu que o custo de fornecer e manter computadores para estudantes estava se tornando proibitivo.
Desde a mudança, as autoridades de Volusia dizem que não encontraram muitos problemas de suporte técnico ou queixas de professores. Os estudantes estão mais envolvidos, segundo elas, e o único problema que costuma ocorrer é o aluno esquecer de carregar a bateria do seu aparelho.
"É quase como trazer a lição de casa", disse Jessica Levene, diretora de tecnologia do aprendizado no distrito de Volusia, onde 21 das 70 escolas estão usando BYOT. "Não esqueça de trazer seu equipamento --e que ele esteja carregado."
Ela admitiu que os alunos podem trocar mensagens com maior facilidade agora, mas que a escola os mantém ocupados em seus dispositivos. Os administradores do distrito temiam inicialmente que os estudantes mais pobres não tivessem equipamentos, mas descobriram uma espécie de "relação invertida" entre a renda familiar e a sofisticação dos aparelhos, especialmente os smartphones, disse Don Boulware, diretor de serviços de tecnologia do distrito.
Na Escola Elementar Woodward Avenue, no distrito de Volusia, a professora de 5ª série Dana Zacharko disse que seus alunos tendem a trazer smartphones ou iPod Touches. Ela disse que encontrou aplicativos que permitem ensinar todo tipo de matéria.
Por exemplo, um trabalho recente sobre frações usava um aplicativo chamado "Factor Samurai". Um número aparece na tela e o aluno tem de cortá-lo com o dedo --como se estivesse usando uma espada de samurai-- para que ele seja dividido em valores menores. Mas os alunos perdem pontos se tentarem cortar os números primos.
Zacharko também vai começar um debate em classe sobre um trabalho de leitura pedindo aos alunos para usar seus dispositivos para escrever comentários em um fórum online. "A digitação nesses equipamentos é incrível", ela disse.
O fato de os alunos da mesma sala poderem usar equipamentos diferentes não é uma desvantagem, porque todos acessam as mesmas lições na internet, disse Lenny Schad, do Distrito Escolar Independente Katy, perto de Houston, que iniciou um programa com uma sigla diferente: BYOD, que significa "traga seu próprio dispositivo".
"A internet é o grande equalizador", disse Schad.
Ele acrescentou que os equipamentos dos estudantes não pretendem substituir os professores, mas podem ser usados como ferramentas para trabalho. Ele notou que o conceito está pegando e que já fez dezenas de apresentações para outros distritos e educadores sobre a iniciativa de seu distrito.
"Minha mensagem é: não deve ser 'se' vamos fazer isso, mas 'quando' vamos fazer", disse Schad, que este ano se mudou para o Distrito Escolar Independente de Houston, onde pretende empregar uma estratégia semelhante. "Não sei como os distritos não adotam este modelo."
Ele disse que os políticos que são contrários ao BYOT estão se agarrando a uma ideia irreal de que os distritos devem fornecer computadores aos estudantes. "Em um smartphone não há limites", disse Schad. "Este é o mundo em que eles vivem e nós o estamos trazendo para a sala de aula."
Outro distrito que adotou o esquema de BYOT é o Forsyth County em Cumming, Geórgia, perto de Atlanta. Como seu programa BYOT começou em 2008, mais de 300 pessoas vieram no ano passado de outros distritos de todo o país para avaliar sua experiência. O distrito de Forsyth tem uma visita planejada para esta primavera com 160 vagas para educadores visitantes de todo o país –que já está lotada.
Em Forsyth os dispositivos mais comuns são iPhones, iPod Touches, telefones e tablets Android. Eles são eficazes para os estudantes responderem a perguntas de múltipla escolha em sites de matemática ou responderem a testes, disse Anne Kohler, uma professora de educação especial no Colégio South Forsyth. Ela diz que políticos e outros que se opõem à ideia de usar esses equipamentos em aulas estão atrasados.
"Eles não compreendem como os garotos adquirem conhecimento", disse ela. "Não são eles que estão realmente ensinando."
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Escolas dos EUA adotam modelo de ensino com celulares e tablets pessoais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU