18 Fevereiro 2020
Após a publicação da exortação pós-sinodal sobre a Amazônia, a associação católica de mulheres “Maria 2.0”, de Colônia, Alemanha (katholische Fraueninitiative “Maria 2.0” Köln), se sente fortalecida. É o que afirma Maria Mesrian, teóloga e membro da associação Maria 2.0.
A entrevista é publicada por Domradio.de, 12-02-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O papa se expressa contra o clericalismo e, indiretamente, deixa espaço livre para as mulheres. Você desejava um claro “sim” aos “viri probati”, isto é, que os homens casados pudessem ser padres em casos excepcionais?
Não, pelo contrário, estamos muito aliviadas por não se ter sido decidido pelos viri probati, porque teria sido mais um golpe contra as mulheres. Antes do Sínodo para a Amazônia, os delegados haviam expressado o desejo de “personae probatae” (isto é, mulheres e homens). Mas depois passou-se apressadamente para os “viri” (isto é, apenas homens). Ninguém sabia por quê. De todos os modos, agora eles não estão presentes no documento, e é bom assim. Não teria sido uma solução.
Mas sinto que nem mesmo os ministérios ordenados para as mulheres são uma solução...
Eu não esperava nada do documento, de modo que não estou tão decepcionada. Pelo contrário: o ponto central do documento está na proteção do ambiente, nas condições de existência das pessoas que vivem na Amazônia, e cujos meios de subsistência são massivamente ameaçados pela excessiva exploração da natureza. E nós, do nosso eurocentrismo, devemos nos dar conta de que lá se trata efetivamente de sobrevivência.
Portanto, não se tratava, em primeiro lugar, das mulheres na Igreja, mas sim de temas ambientais e de convivência pacífica...
Precisamente, e do papel da Igreja nisso. A Igreja pode ter uma grande influência difundindo determinadas convicções, e o documento está absolutamente à altura disso. Quanto ao papel das mulheres, o papa escreve no número 99 que, na Amazônia, há comunidades que seguiram em frente durante décadas sem um padre e que foram as mulheres que lideraram as comunidades. O que isso significa para a função do padre? A continuação lógica é: o papa é contra o clericalismo. E isso nos dá uma grande abertura para dizer: simplesmente façam!
O documento papal evidencia que os ministérios ordenados para as mulheres não seriam uma solução. Consideremos os argumentos. Sobre o clericalismo, você já se expressou. Qualquer pessoa que quisesse reforçar a importância e o envolvimento das mulheres na Igreja somente através do seu acesso ao ministério diminuiria o seu valor e clericalizaria as mulheres. Mas o valor delas na Igreja não é subestimado?
Se sempre precisamos de uma legitimação para o que fazemos – talvez as mulheres alemãs sempre estejam na vanguarda nisso –, então naturalmente seria uma subestimação. Mas, na Amazônia, há décadas, as mulheres desempenham – e Roma sabe disso – o serviço diaconal. Elas presidem as celebrações eucarísticas, batizam, simplesmente fazem. Não foram a Roma com a intenção de pedir autorização. Eu acho que devemos compreender os sacramentos a partir de dentro e agir no sentido do Evangelho, ou seja, estar lá pelas pessoas. É disso que Francisco está falando. E, quando uma mulher encarregada da pastoral dos enfermos está ao lado do leito de um moribundo que pede a unção dos enfermos, ela o abençoa. Esse é um sinal da salvação de Deus. Portanto, é um sacramento. É preciso entender a teologia dos sacramentos nessa lógica.
Então, você não se sente bloqueada por Francisco, mas sim encorajada?
Com esse documento, sinto-me também encorajada, porque é o que a “Maria 2.0” faz. Celebramos liturgias da palavra. Vivemos a Igreja que imaginamos. Acolhemos as pessoas. E, mesmo no Caminho Sinodal, eu não vejo nenhum retrocesso. Eu contradigo vivamente os críticos. Organizamos uma oração com 600 mulheres e homens na Catedral de Frankfurt. Foi uma festa, e continuamos nesse caminho. A Igreja agora se abriu. Eu apelo agora aos bispos alemães para que apoiem o futuro presidente da Conferência Episcopal, se ele vier do âmbito dos reformadores. O Papa Francisco também diz que deseja uma Igreja sinodal. E uma Igreja sinodal decide localmente. Claro que deve haver garantias jurídicas. Mas é um primeiro passo importante que a direção não esteja ligada ao ministério.
Mas a direção de uma paróquia realmente não tem nada a ver com o clericalismo?
É isso. Não é automático que o pároco seja o chefe de uma paróquia pelo fato de ter o ministério. O mesmo vale para as dioceses: o ministério não significa soberania gerencial, e existem órgãos de recurso, que dão segurança... Mas não devemos regulamentar tudo o que tem a ver com a interioridade da nossa fé. Devemos simplesmente fazer!
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Iniciativa “Maria 2.0” acolhe favoravelmente a exortação pós-sinodal “Querida Amazônia” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU