23 Janeiro 2020
Um bispo alemão revidou ao Papa Bento XVI e ao cardeal Robert Sarah pelas controversas declarações deles sobre a obrigatoriedade do celibato sacerdotal, lembrando que a disciplina “não é uma lei imutável da Igreja”.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Novena News, 20-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Eu acolho o celibato e acho que faz sentido conectar esse modo de vida ao sacerdócio, mas não é uma conexão essencial”, admitiu o bispo de Erfurt, Ulrich Neymeyr, à agência de notícias alemã DPA, no dia 19 de janeiro.
O prelado lembrou que sempre houve padres casados na Igreja Católica, como os pastores protestantes e os clérigos anglicanos que hoje se convertem ao catolicismo e têm suas ordens sagradas reconhecidas.
“Pedro também era casado”, observou Neymeyr, referindo-se ao apóstolo de Jesus e, por tradição, o primeiro papa.
O bispo disse que, pessoalmente, “ficaria feliz em poder ordenar agentes de pastoral casados como padres”, especialmente aqueles que já têm experiência em lidar com as demandas do ministério paroquial, do casamento e da família.
Dessa maneira, Neymeyr se somou a outros bispos alemães que pedem uma revisão do celibato sacerdotal obrigatório. Prelados como Dom Peter Kohlgraf, bispo de Mainz, por exemplo, que declarou que “o celibato não é a forma mais perfeita de seguir a Cristo”, ou Dom Georg Bätzing, bispo de Limburgo, que afirmou que “não prejudica a Igreja se os padres forem livres para escolher se querem viver no casamento ou se querem viver sem o casamento”.
As declarações de Neymeyr sobre a possibilidade do celibato opcional para os padres não apenas refuta a posição de Bento e de Sarah, mas também dão apoio ao Papa Francisco, que, segundo várias fontes, está se preparando – em sua próxima exortação apostólica sobre o Sínodo da Amazônia – para relaxar a demanda pelo celibato nessa região e permitir que diáconos permanentes casados com famílias sejam ordenados padres.
A opinião do bispo de Erfurt – junto com as dos bispos de Mainz e Limburgo – também mostra a amplitude da compreensão na Igreja alemã da importância do sacerdócio celibatário, que é uma das quatro principais questões em debate no “caminho sinodal” da Igreja alemã.
As outras três questões em discussão no processo de reforma de dois anos são o exercício do poder e da autoridade na Igreja, o papel das mulheres e a moral sexual.
E, a julgar pelas quase mil submissões que os bispos alemães receberam de leigos antes da primeira assembleia sinodal entre os dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro em Frankfurt, cada uma dessas questões suscita tanto interesse quanto a possibilidade de haver padres casados no futuro.
Segundo a agência de notícias católica alemã KNA, mais de 940 sugestões e questões para o “caminho sinodal” foram enviadas aos bispos no início de janeiro, embora os prelados continuem aceitando outros comentários e observações até o dia 23 de janeiro.
Mas, embora o “caminho sinodal” seja uma resposta consensual às falhas da Igreja expostas pela crise dos abusos sexuais clericais – e as assembleias e fóruns sinodais contarão com as contribuições do clero e de leigos, assim como de especialistas externos – ainda há um debate na Igreja alemã sobre o quão longe o “caminho” pode e deve ir.
“Ainda não está claro que escopo em termos de tomada de decisão será concedido a cada Igreja local e quanta diversidade regional a unidade católica pode suportar”, disse Dom Franz Jung, bispo de Würzburg, por exemplo, aos participantes na recepção de Ano Novo da Cúria diocesana.
Outros bispos alemães, como Franz-Josef Overbeck, de Essen, estão adotando ansiosamente o caminho sinodal como uma chance para que a Igreja vire a página da crise da pedofilia e se torne “menor e mais humilde”.
Em uma declaração lida nas igrejas de Essen no início de janeiro, Overbeck disse que a Igreja deve permitir “respostas diferenciadas e múltiplas e se abster de se elevar acima das outras pessoas de um modo prepotente e arrogante”.
Overbeck também pediu mais freios e contrapesos ao poder do clero, a revisão do pesado fardo do celibato obrigatório para os padres e uma resposta ao clamor de muitos que não conseguem entender por que as mulheres são mantidas fora das posições de liderança da Igreja.
Sobre este último ponto, o bispo de Essen havia dito anteriormente no sermão de Ano Novo que a justiça de gênero é a “questão do século” e, como tal, algo que a Igreja não pode evitar.
Não que Overbeck pretendesse, como esclareceu mais tarde, suscitar falsas esperanças sobre a questão da ordenação de mulheres, que aparentemente foi encerrada por uma instrução de 1994 do Papa João Paulo II.
“Mas eu também pertenço àqueles bispos que não querem fechar a porta a esse respeito”, disse Overbeck em uma reunião de padres e leigos da sua diocese em meados de janeiro.
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Bispo alemão contra-ataca Bento e Sarah: o celibato sacerdotal “não é uma lei imutável” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU