09 Outubro 2019
Participaram da 3ª Congregação Geral do Sínodo para a Amazônia 183 Padres sinodais, na presença do papa. Entre as propostas, a valorização dos leigos e a ordenação diaconal para as mulheres.
A reportagem é de M. Michela Nicolais, publicada por AgenSIR, 08-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Pensar na possibilidade de uma ordenação diaconal para as mulheres, a fim de valorizar a sua vocação eclesial.” É uma das propostas que surgiram durante a 3ª Congregação Geral do Sínodo para a Amazônia, da qual participaram 183 Padres sinodais, na presença do Papa Francisco.
“Diante da urgência de pastores para a evangelização da Amazônia – relata o Vatican News sobre as intervenções na Sala – é preciso uma maior apreciação da vida consagrada, mas também de uma forte promoção das vocações autóctones, junto com a possibilidade de escolher ministros autorizados para a celebração da Eucaristia ou de ordenar diáconos permanentes que, na forma de equipe, acompanhados por pastores, possam administrar os sacramentos.”
O Sínodo refletiu sobre a importância de uma Igreja de comunhão “que inclua mais os leigos, para que a sua contribuição sustente o trabalho eclesial”.
“A complexidade da vida contemporânea, de fato, requer competências e conhecimentos específicos para os quais os sacerdotes nem sempre podem oferecer todas as respostas. Por isso, diante dos inúmeros desafios da atualidade – incluindo o secularismo, a indiferença religiosa, a proliferação vertiginosa de igrejas pentecostais – a Igreja deve aprender a consultar e escutar mais a voz do laicato.”
“A demanda de novos ministérios nasce das comunidades e, em particular, do risco de que haja católicos de primeira e de segunda categorias: aqueles que podem participar da Eucaristia e aqueles que não podem.” Foi assim que Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, voltou ao tema dos “viri probati” durante o briefing dessa terça-feira na Sala de Imprensa vaticana.
Outro tema muito presente neste início de Sínodo foi o da degradação ambiental: “A destruição da natureza contradiz a fé cristã e pede a todos a responsabilidade de por um novo conceito de desenvolvimento e de progresso”, disse Ruffini, enfatizando como muitos Padres indicaram a necessidade de que, em matéria de degradação ambiental, “não se pense apenas na Amazônia, mas também no modo como as indústrias extrativas que operam na Amazônia estão conectadas com os países individuais onde elas estão registradas”.
“A própria Igreja é um complexo ecossistema”, disseram os Padres, que apontaram para o “risco de um desmatamento da cultura católica”.
Finalmente, esteve muito presente na Sala o tema da escuta dos povos indígenas, “também para sanar as feridas do passado” e ‘superar toda forma de colonialismo”.
“Nunca ouvi dizer que 20 populações amazônicas praticam o infanticídio. Quem faz tais afirmações deve pelo menos trazer provas documentadas.” Foi assim que o cardeal Pedro Ricardo Barreto Jimeno, arcebispo de Huancayo, Peru, e vice-presidente da Repam, respondeu à pergunta de um jornalista.
“Se há algo que Jesus nos ensina é defender a vida humana”, lembrou o cardeal: “Toda vida humana é sagrada. Se alguém afirma que essas práticas são possíveis, está desconhecendo a mensagem do Evangelho”.
“Nem tudo são rosas e flores nas populações indígenas”, disse Barreto: “Falar em ‘pureza original’ significa desconhecer a natureza humana. Mas devemos reconhecer a sua sabedoria ancestral: eles enriqueceram esse bioma que nós estamos usando”.
“Nem todos os povos originais são perfeitos, alguns têm práticas não coerentes com práticas internacionais e os direitos humanos”, disse Victoria Lucia Tauli-Corpuz, relatora especial das Nações Unidas sobre os direitos das populações indígenas, que se referiu à Declaração da ONU a esse respeito, “em que se afirma que os Estados devem respeitar os direitos dos indígenas, mas também que os povos indígenas têm a obrigação de fazer com que as suas tradições estejam alinhadas com os padrões dos direitos internacionais”.
“Ainda temos tempo, mas o tempo é agora.” Moema Maria Marques de Miranda, leiga franciscana, assessora da Repam e de “Igrejas e Mineração”, escolheu essa metáfora para falar da urgência de enfrentar com decisão a crise ambiental, que ameaça comprometer seriamente o futuro do planeta.
“Ninguém viveu a possibilidade do fim da vida no nosso planeta como esta geração”, foi a tese da antropóloga, segundo a qual “compreender a emergência da crise ambiental aproximar saberes diferentes que devem se encontrar, e encontrar pontos de contato”.
“Os incêndios na floresta amazônica brasileira provocaram fumaça até São Paulo e fizeram com que o céu escurecesse: ‘tudo está interligado’, como lemos na Laudato si’, não é uma imagem poética, é a imagem de como o planeta Terra funciona.”
São dois, para Marques, os “grandes projetos” que atualmente se chocam em matéria ecológica: “O projeto predatório, voltado para a ganância do lucro, típico das indústrias extrativas, e o sustentável, plural, de povos que aprenderam a conviver por milênios com a floresta”.
“Ninguém pode construir pontes no meio de um abismo”, foi a tese da oradora: “A Igreja quer se colocar ao lado dos pobres, é a opção do Sínodo. Não é por acaso que Greta e um papa que vem do fim do mundo são a voz de uma forma de vida compatível com o ambiente”.
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Sínodo para a Amazônia: valorizar os leigos e “pensar na possibilidade de uma ordenação diaconal para as mulheres” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU