08 Outubro 2019
Na missa de abertura do sínodo 2019 para a região pan-amazônica, o Papa Francisco pediu aos bispos reunidos que acolham uma “prudência audaciosa”, em vez de se contentar com o status quo.
O comentário é de Thomas Reese, publicado por Religion News Service, 07-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Com isso ele respondia aos críticos, entre os quais alguns bispos, que sentem que o papa está afastando a Igreja de seu ensino e prática tradicionais.
A missa, celebrada no último dia 6 na Basílica de São Pedro, foi o começo oficial da assembleia sinodal sobre a Amazônia, evento que durará três semanas e que irá discutir e propor soluções para os problemas da região, especialmente os que desafiam o meio ambiente, os povos indígenas e a evangelização.
Ainda que a maior parte das pessoas pensem a prudência como um controle da espontaneidade e criatividade, o papa citou o Catecismo da Igreja Católica, que ensina que a prudência “não deve ser confundida com a timidez ou com o medo”.
“A prudência não é indecisão, não é um comportamento defensivo”, disse o papa na homilia. “É a virtude do pastor que, para servir com sabedoria, sabe discernir, sensível à novidade do Espírito”.
O papa rezou para que possamos “receber a prudência audaciosa do Espírito”.
Francisco então visou aqueles que se opõem às suas iniciativas de ouvir os povos indígenas e de adaptar o Evangelho às culturas locais. Criticou os que querem fazer “triunfar apenas as próprias ideias” e que desejam “queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”.
“Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto!”, perguntou-se. “Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização!”
“Jesus veio trazer à terra, não a brisa da tarde, mas o fogo”, completou.
Em vez de defender o status quo, Francisco exortou o sínodo para que reacenda o fogo, o “amor ardente a Deus e aos irmãos”. Do contrário, o dom de Deus desaparece, “sufocado pelas cinzas dos medos”.
“Então, reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de deixar as coisas correr sem se fazer nada”, disse.
“Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo ‘sempre se fez assim’, então o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação de defender o status quo”.
Ao longo das semanas, este sínodo irá se voltar a temas políticos e religiosos polêmicos.
Interesses políticos e econômicos estão presentes aqui porque o papa e a maioria dos membros desta assembleia têm sido atuantes na defesa dos direitos dos povos indígenas e suas terras.
O papa e os bispos também demonstraram preocupação com os prejuízos ocorridos nas florestas da Amazônia, que tornaram pior o aquecimento global.
Conservadores religiosos estão preocupados com a proposta para debate no sínodo sobre haver padres casados. Eles também rejeitam a noção de que o catolicismo deveria se adaptar às culturas indígenas. Eles não veem nada de bom nas religiões indígenas, as quais categorizam como superstições pagãs.
Este sínodo faz parte de um processo iniciado com sessões de escuta ao longo da região amazônica. Os resultados destas sessões foram incorporados em um documento de trabalho distribuído aos participantes do encontro antes de eles virem a Roma. O papa vê este processo sinodal como um modo de ser Igreja que envolve escutar, discernir e agir de uma forma que sirva ao Povo de Deus e a toda a humanidade.
Os pastores deveriam falar e agir somente depois que terem ouvido, de acordo com o papa.
Embora a homilia deste domingo tenha encorajado os membros o Sínodo dos Bispos a serem ousados, a liturgia de abertura foi bastante tímida. Em si, pouca coisa ela demonstrou em termos de música ou ações que refletissem as culturas da Amazônia. Foi uma típica missa pontifícia com o coro cantando música palestrina. Perdeu-se uma oportunidade de, realmente, fazer-se aquilo que o papa pregou.
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Papa pede ao Sínodo que acolha uma “prudência audaciosa”, não o status quo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU