08 Outubro 2019
O atual Sínodo abordará os problemas da região de frente, diz o bispo do Peru que participou da preparação da assembleia especial.
A reportagem é de Claire Lesegretain, publicada por La Croix International, 07-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O bispo jesuíta Gilberto Alfredo Vizcarra Mori, de Jaén (Peru), e presidente do Centro Amazônico de Antropologia e Aplicações Práticas (CAAAP), participou ativamente da preparação da assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia (6 a 27 de outubro). Ele espera que a Igreja desempenhe um papel importante, para que as forças da região aprendam a viver de modo mais humano.
Como vocês prepararam a assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia?
Todos os bispos e agentes de pastoral ajudaram a preparar o documento de trabalho. Essa preparação começou em janeiro de 2018, quando o papa lançou a assembleia em Puerto Maldonado. Nosso primeiro encontro de bispos ocorreu lá, após a partida do papa. A partir desse momento, foi elaborado um primeiro esboço dos tópicos importantes para a assembleia, e foi proposta uma comissão de trabalho, que depois foi ratificada pelo papa e pela Secretaria do Sínodo. Pelo menos 85.000 pessoas de toda a Amazônia estiveram envolvidas na preparação do Sínodo, muitas das quais não pertencem necessariamente à Igreja.
Em particular, houve um encontro importante em março na Georgetown University, em Washington, com líderes indígenas, cientistas, cardeais e representantes da ONU. Fui a várias comunidades no coração da floresta tropical, a lugares muito isolados onde eu nunca havia estado antes e onde as pessoas nunca haviam visto um bispo antes!
Encontramos as mesmas realidades eclesiais nos nove países relacionados com a Amazônia?
Sim, a situação é quase a mesma em todos os lugares. Existem cerca de 300 grupos étnicos e, portanto, 300 modos de vida semelhantes na floresta. Também há migrantes que precisam aprender a preservar a floresta e os rios. A Igreja na Amazônia está tentando escutar a todos. Uma de suas características tem sido a de trabalhar com animadores comunitários, homens e mulheres, que acompanham as comunidades, preparam para os sacramentos e celebram a liturgia dominical quando o padre não pode comparecer.
Existem diferenças de opinião entre os bispos da Amazônia?
Não, acho que todos estamos muito cientes da necessidade urgente de um trabalho mais profundo de inculturação e interculturalidade. De fato, a modernidade agora está presente em todos os lugares, até mesmo no meio da floresta, e os povos indígenas estão buscando uma conexão com essa modernidade a fim de poderem transmitir os seus próprios conhecimentos.
Algum bispo da Amazônia se recusou a entrar na dinâmica do Sínodo?
Acho que não. Todos vemos esse Sínodo como um passo no processo de renovação e reforma da Igreja. Como diz a palavra “Sínodo” – “caminhar juntos” – queremos escutar as pessoas, com o Senhor guiando a todos nós. Somos convidados a uma conversão para aprender a viver de uma forma mais humana.
Na sua opinião, qual é o principal desafio desse Sínodo?
A vida da floresta e dos povos indígenas está ameaçada por invasões [de mineradoras e petroleiras etc.] que não levam em conta a natureza e as culturas amazônicas. Como o papa disse em Puerto Maldonado, “os povos da Amazônia nunca estiveram tão ameaçados quanto hoje”. A Igreja quer dizer em voz alta o que está acontecendo aqui. O principal desafio, portanto, é a ecologia integral, escutar as pessoas que podem nos ensinar exatamente em que consiste uma relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza – e o ser humano e Deus.
De que mudanças a Igreja precisa na Amazônia?
Um dos seus problemas é a diminuição do número de missionários: leigos, padres e religiosos. Até 30 anos atrás, missionários ocidentais ou locais iam para lá para um trabalho pastoral de longo prazo. Hoje, o trabalho dos agentes de pastoral e dos líderes comunitários deve ser fortalecido, e, para isso, devemos analisar que tipo de ministérios podem ser promovidos.
O que o senhor, pessoalmente, espera desse Sínodo?
É a primeira vez que eu participo de uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos. Eu pude viver uma experiência de escuta do Espírito Santo, pela voz dos bispos reunidos e por tudo o que foi reunido em nossas comunidades. Espero que essa experiência de conversão me dê mais entusiasmo para ser um missionário.
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“O Sínodo é um passo no processo de renovação e reforma da Igreja”. Entrevista com Gilberto Alfredo Vizcarra Mori, bispo jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU