01 Outubro 2019
Os depoimentos são publicados por L'Osservatore Romano – donne chiesa mondo - setembro de 2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sou uma mulher crente, cresci em uma família cristã e aprendi a amar o Senhor e sua Igreja. No meu caminho, sempre aceitei como dado de fato ter um confessor homem, ver as catequistas dependerem do pároco e também a mim - quando prestei este ou outros serviços eclesiais - aconteceu o mesmo.
Então nasceu minha filha e comecei a ver a realidade com olhos diferentes: a desvantagem socioeconômica das mulheres começou a se tornar intolerável para mim, mas o que me fez sofrer foi perceber o quanto fosse subordinada a condição das mulheres na Igreja, a minha comunidade
Então, me vi revendo minha história e repensando a quando eu tinha vinte anos e comecei a me fazer as primeiras perguntas sobre a vocação. Lembrei-me do sentimento de injustiça quando percebi que, para os sacerdotes que nos acompanhavam, a vocação de meus amigos homens tinha mais interesse, quase mais valor, do que a minha ou das minhas amigas.
Como mãe, perguntei-me: em que Igreja minha filha crescerá? Numa igreja em que toda autoridade é apenas masculina? Em que se conta que as mulheres são doces e acolhedoras e, ao contrário, os homens são racionais e capazes de liderança?
Comecei a conversar sobre isso com outras mulheres e percebi que era uma experiência comum; então fundei a associação Mulheres para a Igreja que quer ajudar as mulheres a se tornarem agentes reconhecidas de mudança, em um sentido igualitário, na Igreja.
Agora, às vésperas do Sínodo sobre a Amazônia, que discutirá sobre aquelas terras, mas também sobre a Igreja universal, pergunto-me como justificar o fato de que, mais uma vez, a moção final não será votada pelas mulheres. Há um ano, por ocasião do Sínodo sobre os jovens, colaboramos para coletar quase dez mil assinaturas e pedir o direito de voto pelo menos para as superioras maiores presentes, mas sem sucesso. Desta vez vai mudar alguma coisa? Ter a possibilidade de expressar 1-2 votos em uma assembleia de 300 pessoas é algo pequeno, mas seria pelo menos um sinal.
No blog “Il Regno” Piero Stefani escreveu: “Um drama da Igreja Católica atual é que o ato das mulheres de se emanciparem da diaconia para entrar na dimensão plena do discipulado é muitas vezes obrigado a assumir o aspecto da reivindicação”...
Para mim, que não gosto de reivindicação, mas desejo uma Igreja mais justa, é difícil entender o que fazer. Uma coisa, no entanto, eu entendi: sou filha, não escrava e, portanto, sou livre para falar, agir e, acima de tudo, esperar uma Igreja igualitária para minha filha e para todas as meninas, garotas, mulheres do mundo.
Mulheres corajosas e criativas que não têm medo de ir às margens para entender melhor o mundo em transformação, para levar o Evangelho às situações mais difíceis e às pessoas mais desesperadas. Mulheres consagradas. A Igreja está acostumada a enviá-las ao mundo para levar justiça. Mas será capaz de reconhecer seu potencial de trazer justiça dentro dela mesma?
Falaremos sobre isso no dia 3 de outubro na Biblioteca Vallicelliana, na reunião “E você irmã, o que você diz?”, Promovido pela Voices of Faith, que há sete anos trabalha para uma Igreja que valoriza suas mulheres - inclusive como líderes, especialistas e teólogas. Dez oradoras de todo o mundo discutirão o papel das mulheres consagradas na formação da Igreja do amanhã.
Não é por acaso que o encontro ocorrerá pouco antes do Sínodo dos Bispos, que delineará o futuro da Igreja na Amazônia. Embora dedicados à situação específica da região, também teremos que nos perguntar sobre a própria organização desses processos de tomada de decisão e sobre o motivo pelo qual as irmãs não fazerem parte dele, apesar de estarem entre as pessoas mais envolvidas no cotidiano das comunidades cristãs.
O encontro será aberto pela famosa "Nun on the Bus", Simone Campbell, envolvida no debate sobre cuidados de saúde pública nos EUA, seguida de um diálogo entre Irene Gassmann, prioresa do mosteiro suíço de Fahr e o bispo Felix Gmür, presidente da Conferência Episcopal do mesmo país. Outras sete palestrantes falarão sobre sua experiência em contextos culturais específicos, formulando propostas para a Igreja universal (Anne B. Faye, Mary J. Mananzan, Doris Wagner, Chris Burke, Shalini Mulackal, Madeleine Fredell e Teresa Forcades). Também ouviremos uma gravação de Marinella Huapaya Venegas, leiga consagrada do Peru, que falará sobre a Igreja local, onde os leigos, por necessidade, são responsáveis pelas comunidades e pela liturgia. O evento terminará com a oração "Passo a passo", composta por mulheres de diferentes contextos eclesiásticos, sob a orientação da Prioresa Gassmann.
Outras beneditinas do mosteiro Fahr chegarão a Roma, especialmente para este encontro e para o coletiva de imprensa em 1º de outubro, às 17h, na Associação de Imprensa Estrangeira. No ano passado, antes do Sínodo sobre os jovens, elas participaram da campanha #votesforchatolicwomen e sua foto ficou famosa em todo o mundo. Em apenas alguns dias, o apelo para conceder o voto às religiosas presentes nos sínodos foi assinado por quase dez mil católicos.
A atividade dessas irmãs mostra que a discussão sobre igualdade na Igreja não é um capricho, nem deseja seguir modelos do "mundo", mas é o resultado de uma profunda experiência de oração e da contemplação da mensagem do Evangelho
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Sínodo: (1) Mais uma vez as mulheres não votam - (2) E você, irmã, o que você diz? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU