23 Setembro 2019
Periferias, migrações, exploração de recursos naturais, mudanças sociais e vulnerabilidade familiar, corrupção, proteção ambiental. Esses são os temas no centro do próximo Sínodo sobre a Região Pan-Amazônica. Também as informações mais recente confirmam que "os problemas da Amazônia são os problemas do planeta, dizem respeito a todos e não apenas a uma terra ou a uma cultura", como ressalta Enzo Bianchi, fundador da comunidade monástica de Bose.
"Os problemas da Amazônia são os problemas do planeta, dizem respeito a todos e não apenas a uma terra ou a uma cultura". Desse ponto parte Enzo Bianchi para aprofundar os temas que estarão no centro do Sínodo sobre a Amazônia, que será realizado no Vaticano de 6 a 27 de outubro próximo.
A entrevista é de Alberto Baviera, publicada por SIR, 21-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Irmão Enzo Bianchi, por uma série de razões, incluindo notícias recentes, a Amazônia de um lugar bem definido e distante de nós tornou-se representativa de todo o mundo. O que podemos esperar como Igreja e como ocidentais desta Igreja irmã convocada em Sínodo?
A atitude que os cristãos podem ter em relação a essa terra, em relação a esses povos, em relação a essa cultura deve ser um modelo para todas as relações entre a Igreja e as culturas.
Em que sentido?
O fenômeno da fé que deve ser inculturado nas pessoas, nos povos, é um fenômeno ao qual prestamos pouca atenção no passado.
O Papa nos pede para fazer uma revisão e realmente nos questionarmos como um povo possa expressar sua fé, sua liturgia, sua vida cristã em termos que lhe são próprios. É uma exaltação da diversidade na unidade católica, é colocar o acento no fato que o Espírito Santo é sempre multiforme, como a Sabedoria de Deus é multicolorida de acordo com o que as Escrituras dizem.
É uma grande mudança ...
É um grande desafio, não é fácil. O Papa indicou esse horizonte profético, há reações e contraposições a esse caminho, polêmicas. Mas acredito que seja um caminho obrigatório, cristão.
No Papa não há outro desejo que a evangelizar todos as pessoas, de todas as culturas. Devemos nos colocar nesse caminho, ainda que com atraso e talvez com dificuldade e esforço.
Também no Instrumentum laboris fala-se mais de uma vez de “Igreja profética". Como o Sínodo sobre a Amazônia pode ajudá-la a assumir esse perfil?
Na medida em que serão delineados, por exemplo, a comunidade cristã, os ministérios e a diaconia dentro dela. Mas também na medida em que serão abertos caminhos litúrgicos com modos de celebrar mais adequados à cultura e ao povo. Isso é algo que diz respeito a todos. Também nós, na Itália, devemos nos perguntar o que significa celebrar a liturgia em 2019. Certamente teremos revisões a fazer, promover uma dinâmica, uma nova maneira que possa ir ao encontro dos homens de hoje.
Se lá ocorre o problema daqueles que não se tornam cristãos, nós temos aquele das novas gerações que não frequentam mais à missa e não sentem nenhuma atração pela liturgia católica. O que queremos fazer? Aceitar os fatos ou repensar para poder dialogar, inclusive liturgicamente, com as novas gerações.
O senhor, que participou do Sínodo de 2018, conhece bem as dinâmicas da discussão e do discernimento entre os participantes. Quais serão os aspectos decisivos, do seu ponto de vista?
O problema é o caminho das Igrejas, se elas são capazes ou não de um discernimento comunitário. Porque tudo reconduz ao discernimento: o Papa, o Sínodo, até a literatura teológica. Aliás, realmente podem ser abertos caminhos de discernimento comunitário, que são uma novidade na Igreja? Porque no plano pessoal já se refletiu e isso foi praticado sobretudo nos últimos séculos. Mas naquele comunitário, eclesial, que é sempre um discernimento sinodal, é um caminho todo a ser criado, a ser inventado. E quando um caminho deve ser feito por um povo, é um caminho longo, implica tempos longos, educação, amadurecimento, assunção de novas formas.
É um novo caminho, o Papa o indicou como a fronteira do terceiro milênio.
No Sínodo sobre a Amazônia, obviamente, também se falará sobre o meio ambiente e a "ecologia integral" ...
Essa foi a profecia do Papa Francisco. Primeiro, tivemos aqueles que pensavam em ecologia, os "verdes", que não conseguiam pensar nos pobres. E aqueles que pensavam nos pobres e que seguiam mais as linhas sociais, mas não levavam em conta a ecologia. Com a Laudato si', o papa conseguiu mostrar que são duas faces da mesma moeda.
O futuro da terra diz respeito aos pobres, o futuro dos pobres diz respeito à terra.
Na Amazônia, temos esses dois temas que se cruzam: por um lado, a custódia de nossa terra, que é nossa Mãe; pelo outro lado, como os pobres sobre esta terra podem encontrar morada, uma habitação na justiça e na paz.
Temas sobre os quais o Santo Padre nunca deixa de insistir ...
É o grande horizonte profético indicado por Francisco. O Papa, creio, indicou três horizontes: dentro da Igreja, a sinodalidade; com toda a humanidade, a fraternidade; e o terceiro, que diz respeito ao mundo inteiro, toda a criação, toda a Terra, é o problema ecológico e da justiça. Esses são os três desafios, os três horizontes do terceiro milênio, que o Papa com profecia soube identificar e nos indicar.
Estaremos à altura do desafio?
Espero que sim. O Papa tem uma força, acredito que alguns comecem a entender até mesmo nas beiras da Igreja e, inclusive, fora dela. Pode ser que uma sinergia se abra, eu ousaria dizer, mais ampla dos católicos para essas metas.
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Sínodo sobre a Amazônia. “O Papa indica um horizonte profético”, afirma o monge Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU