19 Fevereiro 2019
O cardeal Sean P. O'Malley está pronto para participar de uma grande cúpula em Roma sobre a prevenção do abuso sexual clerical na próxima semana. Na sexta-feira, no Wall Street Journal, e na quinta, no Atlantic, surgiram relatos detalhados de conflitos com o Papa Francisco e outros líderes católicos sobre a melhor forma de lidar com a crise que atinge a Igreja há quase duas décadas.
A reportagem é de Travis Andersen, publicada por The Boston Globe, 15-02-2019. A tradução é Luísa Flores Somavilla.
Segundo o Wall Street Journal, O’Malley reuniu-se com os principais assessores de Francisco em 2017, pela preocupação de que o Vaticano não estivesse cumprindo sua promessa de tolerância zero em casos de abuso, depois de um grupo formado pelo pontífice para lidar com o recurso judicial reduziu as penas dos padres culpados de abusar de menores.
"Se isso vazar, será um escândalo", teria dito O’Malley ao Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, e a outras autoridades do, de acordo com o jornal, além de citar alguém cujo nome se desconhece durante a reunião.
O jornal também fez referência à decisão de Francisco, já relatada pela mídia, de que O’Malley não participasse da comissão organizadora da próxima cúpula do Vaticano. A mudança foi surpreendente, porque o cardeal é considerado um dos conselheiros estadunidenses mais próximos ao Papa e é líder de um conselho do Vaticano sobre prevenção do abuso sexual clerical.
Além disso, o jornal relatou que em 2015 ele convenceu Francisco a criar um tribunal especial para julgar bispos que ignoram ou tentam acobertar casos de abuso, mas o Papa mudou de ideia no ano seguinte.
Peter Saunders, vítima de abuso que fez parte do conselho, relatou ao jornal que o cardeal teria dito o seguinte em relação ao que teria acontecido com o órgão: “Não sei a resposta. Adoraria saber”.
Em entrevista ao Atlantic para a matéria publicada, O’Malley discutiu sua proposta de criar tribunais do Vaticano para julgar bispos que supostamente foram negligentes. Ele disse que o Papa "estava convencido a fazê-lo de outra forma”. Acrescentou, ainda, que “ainda estamos esperando os procedimentos serem claramente articulados" e que Francisco compreende a gravidade da crise de abusos, afirmando que "seu encontro com as vítimas impactou profundamente a vida e o ministério do Papa".
Em um comunicado ao The Globe na sexta-feira, o porta-voz de O'Malley, Terrence Donilon, disse que ele e o pontífice permanecem próximos.
"O cardeal tem sido uma força em direção à mudança desde sua primeira experiência com vítimas de abuso clerical, há mais de 25 anos. Sei que tem esperança que a conferência da próxima semana seja exitosa, que é parte do compromisso do Santo Padre com os sobreviventes, o clero e a comunidade católica global. O cardeal e o Papa Francisco têm uma boa relação há muitos anos. É um relacionamento sólido e saudável. E ele está disposto a apoiar o Papa naquilo que for necessário na liderança da Igreja.”
Segundo Donilon, O’Malley está em Roma devido a reuniões previamente agendadas e vai participar da cúpula na próxima semana.
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Desentendimentos entre o cardeal O'Malley e o Papa Francisco em relação à crise de abuso clerical - Instituto Humanitas Unisinos - IHU