17 Janeiro 2019
As mulheres atuaram como diáconas na Europa durante cerca de um milênio, em uma variedade de papéis ministeriais e sacramentais, de acordo com Phyllis Zagano, autora e professora de religião da Hofstra University, e Bernard Pottier, SJ, membro do corpo docente do Institut d’Études Théologiques, de Bruxelas, em uma entrevista esta semana com a revista America.
A reportagem é de Brandon Sanchez, publicada em America, 15-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Elas ungiam mulheres doentes, levavam a comunhão para mulheres doentes”, disse Zagano. Elas também participavam dos batismos, atuavam como tesoureiras e, em pelo menos um caso, participaram de uma anulação.
Discutindo essa anulação, Zagano disse que uma mulher na Síria “reclamou que seu marido estava batendo nela. Foi a diácona quem examinou as contusões e testemunhou junto ao bispo. Pois bem, para mim, isso é uma anulação: ela está fornecendo a informação”.
“Mas eu acho que é falso dizer que todas faziam as mesmas coisas em todo o lugar”, acrescentou Zagano.
O Pe. Pottier disse que conseguiu encontrar fortes evidências de diáconas nos registros e histórias da Igreja, mas “não em todos os lugares e nem sempre, porque essa também era uma escolha do bispo”.
Em uma entrevista com Michael J. O’Loughlin, correspondente nacional da America, no dia 14 de janeiro, Zagano e o Pe. Pottier, que atuam na Comissão de Estudo do Vaticano sobre o Diaconato das Mulheres, discutiram suas pesquisas sobre as diáconas e a Igreja primitiva. Eles enfatizaram que os papéis das diáconas variavam muito dependendo da geografia. Os dois membros da comissão estavam em Nova York para um simpósio no Centro Fordham sobre Religião e Cultura intitulado “O futuro das diáconas”, que se reuniu no dia 15 de janeiro.
Zagano disse: “Havia ordenação. A evidência mais interessante disso é o fato de que as cerimônias de ordenação [que nós descobrimos] para as diáconas eram idênticas às cerimônias de ordenação para os homens”.
O Pe. Pottier disse que as mulheres começaram a atuar como diáconas “muito cedo” na Igreja oriental, mas, no século X, esse ministério terminou. No Ocidente, as mulheres atuaram como diáconas entre aproximadamente o século V até os séculos XI ou XII.
Zagano dedicou grande parte de sua carreira ao estudo do papel das diáconas, mais recentemente em Roma, a convite do Papa Francisco.
“Eu pude ver manuscritos originais”, disse. “Pude ver livros originais do século XVII.” Ela teve a chance de reler grande parte do material que já havia estudado e “realmente encontrei algumas coisas novas para mim”.
“Foi uma experiência extraordinária”, acrescentou, “porque eu ia para casa à noite, e normalmente, na casa do Santo Padre, um cardeal ou um bispo, ou quatro cardeais e quatro bispos, estariam à mesa de jantar. Então, as conversas depois do trabalho eram igualmente emocionantes para mim.”
Ela acrescentou: “[Alguns cardeais] estavam muito interessados no assunto. Outros cardeais não estavam tão interessados. E eu recebi algumas reclamações, principalmente da África, de que estávamos tentando empurrar uma ideia estadunidense sobre a África. Eu disse: ‘Ninguém está empurrando nada a ninguém’”.
Não está claro o que o Vaticano fará com o relatório da comissão, de acordo com Zagano e o Pe. Pottier. A comissão vaticana não foi encarregada de fazer recomendações ao papa, mas sim de pesquisar a “realidade histórica” das diáconas, disseram.
Questionada sobre suas esperanças para o papel das mulheres na Igreja no futuro, Zagano disse: “Eu espero que a Igreja não negue aquilo de que precisa”.
“Eu realmente acredito que a Igreja precisa de mais pessoas no ministério”, disse. “Eu falo com bispos e cardeais da América do Sul. Um bispo disse que tinha cinco milhões de católicos e 400 padres”.
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Membros de comissão vaticana defendem que mulheres atuaram como diáconas durante um milênio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU