09 Junho 2018
O Documento Preparatório do Sínodo para a Amazônia foi apresentado nesta sexta-feira (8), na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, durante atividade em que a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e a Comissão Episcopal para a Amazônia (CEA) reuniram jornalistas, instituições parceiras e pastorais para divulgar o material.
Angelton Arara, do Mato Grosso, participa da assembleia da Repam em Puerto Maldonado, no Peru, um dia antes do encontro com o Papa. Foto: Tiago Miotto/Cimi.
A reportagem é publicada por Conselho Indigenista Missionário - Cimi com informações do Vatican News e REPAM, 08-06-2018.
“Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral” é o tema do Sínodo que será realizado em outubro de 2019 e também o título do documento preparatório (veja completo aqui).
“O Sínodo Pan-Amazônico é dedicado à preservação de um bioma com seus habitantes e tem como ponto de partida o imenso território do qual fazem parte nove países”, explica Paulo Suess, assessor teológico do Cimi e um dos treze especialistas que assessoram a Comissão Preparatória do Sínodo, em entrevista ao IHU Unisinos.
“Apesar de sua temática regional, esse Sínodo será um sínodo da Igreja universal. A região amazônica servirá como ponto de partida para refletir sobre o futuro não só dessa região, mas do planeta Terra e da humanidade”, acrescenta Suess.
“O texto nos ajuda a sermos corajosos e destemidos nesse desafio de viver a nossa missão como cristãos, filhos e filhas de Deus que aqui vivemos, com alegria, mas sobretudo com profetismo, com ousadia”, afirma Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO) e presidente do Cimi.
Dom Roque é um dos quatro brasileiros que integram o Conselho Pré-Sinodal, junto com o ex-presidente do Cimi e bispo emérito do Xingu, Dom Erwin Kräutler.
Para o secretário geral da CNBB, Dom Leonardo Stein, que presidiu a atividade em Brasília, é muito importante para a Igreja refletir a “sofrida realidade” amazônica. “Realidade sofrida significa os povos estão sofridos, e não apenas os indígenas, mas os ribeirinhos, os povos que vivem do extrativismo, grupos isolados que não têm contato com os brancos”, afirmou.
“O Documento será utilizado nas assembleias territoriais, realizaremos cerca de 40 ao longo dos próximos meses, e esse momento será de escuta das bases: os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, as pessoas das cidades, os jovens. Esse documento vai para as mãos das pessoas que estão na Amazônia”, explicou a Ir. Maria Irene Lopes, assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia, secretária executiva da REPAM-Brasil, Delegada da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR) na Comissão Preparatória do Sínodo.
Após esse período de escuta, os questionários serão retomados pela equipe de assessores, sintetizados e transformados no Documento de Trabalho, que deverá ser encaminhado aos participantes do Sínodo.
O material foi construído por uma equipe de assessores e foi aprovado pelo Vaticano, em abril desse ano, quando houve a primeira reunião do Conselho Pré-Sinodal. O Documento Preparatório é composto por um texto-base, que oferece uma análise da conjuntura atual da Amazônia e aponta percursos e novos caminhos para a Igreja a serviço da vida nesse bioma.
O texto está dividido em três partes, segundo o método ver, discernir e agir. Ao final do material estão algumas questões que permitem um diálogo e uma progressiva aproximação da realidade para que as populações da Amazônia sejam ouvidas.
A primeira parte é o VER, um convite a olhar a identidade e os clamores da Pan-Amazônia. Território, diversidade sociocultural, identidade dos povos indígenas, memória histórica eclesial, justiça e direitos dos povos, espiritualidade e sabedoria, são os pontos apresentados nessa parte do texto. Segundo o documento preparatório, “em sua história missionária, a Amazônia tem sido lugar de testemunho concreto de estar na cruz, inclusive, muitas vezes, lugar de martírio. A Igreja também aprendeu que neste território, habitado por mais de 10 mil anos por uma grande diversidade de povos, suas culturas se construíram em harmonia com o meio ambiente”.
O DISCERNIR é a segunda parte do documento que ilumina as reflexões para uma conversão pastoral e ecológica. O anúncio do Evangelho de Jesus na Amazônia é apresentado a partir das dimensões bíblico-teológica, social, ecológica, sacramental e eclesial-missionária. “Hoje o grito da Amazônia ao Criador é semelhante ao grito do povo de Deus no Egito (cf. Ex 3,7). É um grito de escravidão e abandono, que clama pela liberdade e o cuidado de Deus. É um grito que anseia pela presença de Deus, especialmente quando os povos amazônicos, por defender suas terras, são criminalizados por parte das autoridades; ou quando são testemunhas da destruição do bosque tropical, que constitui seu habitat milenar; ou, ainda, quando as águas de seus rios se enchem de espécies mortas no lugar de estarem plenas de vida”, afirma o texto de preparação.
Por fim, o documento, na última parte, provoca a ação, a AGIR: novos caminhos para uma Igreja com rosto amazônico. O texto reflete o que seria esse rosto, a dimensão profética, os ministérios e os novos caminhos. “No processo de pensar uma Igreja com rosto amazônico, sonhamos com os pés fincados na terra de nossos ancestrais e com os olhos abertos pensamos como será essa Igreja a partir da vivência da diversidade cultural dos povos”, destaca o texto.
Após as reflexões realizadas pelo documento, uma série de questões são apresentadas para contribuir com a escuta das realidades da Pan-Amazônia. O questionário está dividido, metodologicamente, de acordo com as partes do documento para facilitar os trabalhos que serão realizados pelas comunidades e grupos que responderão as perguntas.
O documento preparatório termina com as palavras de Francisco em Porto Maldonado, no momento em que abre, oficialmente, o Sínodo especial para a Amazônia: “Ajudai os vossos Bispos, ajudai os vossos missionários e as vossas missionárias a fazerem-se um só convosco e assim, dialogando com todos, podeis plasmar uma Igreja com rosto amazônico e uma Igreja com rosto indígena”.
“O agir vai exigir de nós sobretudo uma grande disponibilidade de ouvir os gritos de Deus nos gritos dos pobres, para podermos agir de acordo com o coração de Deus e com o sopro do espírito”, avalia Dom Roque Paloschi. “O texto é de vital importância e agora está chegando em todos os cantos da Amazônia, para que todos leiam, reflitam e contribuam para que a Igreja verdadeiramente viva sua missão entre os povos aqui nesta região”.
“Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral” – leia o documento completo
O Sínodo para Amazônia foi uma resposta do Papa Francisco à realidade da Pan-Amazônia. De acordo com Francisco, “ o objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta. Que os novos Santos intercedam por este evento eclesial para que, no respeito da beleza da Criação, todos os povos da terra louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados, percorram caminhos de justiça e de paz”.
Em diversas passagens, o documento preparatório para o Sínodo menciona os povos indígenas e ecoa as palavras ditas pelo Papa Francisco diretamente aos povos, em seu encontro com eles em Puerto Maldonado, no Peru, em janeiro deste ano.
“Para a Igreja universal é de vital importância escutar os povos indígenas e todas as comunidades que vivem na Amazônia, como os primeiros interlocutores deste Sínodo. Por causa disso, precisamos de convivência mais próxima. Queremos saber como imaginam um ‘futuro tranquilo’ e o ‘bem viver’ para as futuras gerações”, afirma o documento em seu preâmbulo.
Em janeiro, o Papa Francisco afirmou que a Igreja precisava escutar os povos indígenas. “Provavelmente os povos amazônicos originários nunca estiveram tão ameaçados em seus territórios como estão agora”, disse o pontífice no encontro, em observação citada no documento.
Assim como ele ressaltou naquela ocasião, o documento aponta que “a riqueza da selva e dos rios da Amazônia está ameaçada pelos grandes interesses econômicos que se alastram sobre diferentes regiões do território”.
“Como podemos colaborar na construção de um mundo capaz de romper com as estruturas que sacrificam a vida e com as mentalidades de colonização para construir redes de solidariedade e interculturalidade? Sobretudo queremos saber: Qual é a missão específica da Igreja, hoje, diante desta realidade?”, questiona o documento.
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Documento Preparatório para Sínodo traça bases para uma Igreja com “rosto amazônico” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU