05 Junho 2018
A floresta Amazônica representa um terço das florestas tropicais do mundo, além de conter mais da metade da biodiversidade do planeta. O desmatamento na região representa hoje a liberação de 200 milhões de toneladas de carbono por ano (2,2% do fluxo total global). Conheça abaixo a importância de manter as florestas em pé, baseado na cartilha de mesmo nome publicada pelo IPAM em 2001, com texto de Cláudia Azevedo (Professora da UFPA e então Pesquisadora do IPAM) e fotos de Toby (IPAM) e Edivan Carvalho (IPAM). Com dados atualizados em julho de 2010 por Simone Mazer (IPAM).
A informação é publicada por IPAM, 04-06-2018.
A floresta Amazônica representa um terço das florestas tropicais do mundo, desempenhando papel imprescindível na manutenção de serviços ecológicos, tais como, garantir a qualidade do solo, dos estoques de água doce e proteger a biodiversidade. Processos como a evaporação e a transpiração de florestas também ajudam a manter o equilíbrio climático fundamental para outras atividades econômicas, como a agricultura.
A região Amazônica tem um papel preponderante no uso múltiplo dos recursos hídricos (água potável, navegabilidade, aproveitamento energético, pesca, lazer, etc). A região Amazônica concentra 20% da água doce do planeta. A manutenção de florestas nas margens de rios evita erosões, assoreamentos e garante alimento para vários organismos aquáticos.
As florestas da Amazônia funcionam como grandes barreiras contra incêndios, não deixando que o fogo, que escapa de campos agrícolas e pastagens, se espalhe. A vegetação alta e densa das florestas e sua capacidade de permanecer sempre verde e exuberante, mesmo nos meses de seca, são o segredo deste importante serviço ecológico. O sombreamento da floresta mantém sua umidade e a protege contra os incêndios. O fogo que escapa da agricultura e da pecuária queima cercas, culturas perenes (como cupuaçu e a laranja), plantações florestais e pastagens, causando um prejuízo de mais de U$ 107 milhões por ano à sociedade brasileira. Quando ocorre a exploração madeireira sem os cuidados em reduzir os impactos sobre o ambiente ou as florestas são desmatadas, as “barreiras” florestais gigantes são substituídas por vegetação altamente inflamável e o risco de incêndio aumenta.
Embora cobrindo apenas 7% da superfície terrestre, a floresta Amazônica contém mais da metade da biodiversidade do mundo, representando um tesouro inestimável para a humanidade e um grande potencial para o desenvolvimento da biotecnologia. Na floresta encontramos, por exemplo, essências variadas, substâncias para o combate às pragas e para o desenvolvimento de produtos farmacológicos, além de conter um grande potencial para a geração de novas fontes de recursos utilizáveis.
Cinco milhões de pessoas (entre populações tradicionais e familiares) no Brasil vivem na ou da floresta. Na Amazônia, a extração de produtos não-madeireiros (óleos, resinas, ervas, frutos e borracha) contribui economicamente para a vida de 400 mil famílias de extrativistas. Os recursos florestais, desde que racionalmente utilizados, trazem benefícios econômicos às populações locais, fixam o homem no campo e melhoram sua qualidade de vida.
No Brasil, existem cerca de 460.000 índios divididos em 225 sociedades indígenas e 180 línguas. Apenas 12,41% das terras do país estão delimitadas aos índios. A Amazônia Legal abriga 69% dessas terras e 55% das populações indígenas, as quais dependem da floresta para perpetuarem seu modo de vida e sua cultura. Dos índios amazônicos, 63 referências de índios não contatados, indicando a existência de uma riqueza cultural ainda desconhecida. A longa e acumulada experiência dos povos indígenas em relação ao uso dos recursos da floresta é uma fonte de informação valiosa para a ciência e a tecnologia moderna.
As belezas naturais e a variedade cultural dos povos da Amazônia podem ser convertidas em benefícios econômicos através do ecoturismo ou do etnoturismo, gerando empregos diretos e indiretos. Segundo a Organização Mundial de Turismo, o ecoturismo cresce 20% ao ano em relação aos 7,5% do turismo convencional. No Brasil, embora essa atividade ainda esteja se desenvolvendo, meio milhão de pessoas praticam ecoturismo, gerando 30.000 empregos diretos, movimentando cerca de 500 milhões de reais por ano. Na Amazônia, surpreendentemente, esta atividade ainda é incipiente e pouco explorada.
A região Amazônica é uma das maiores produtoras de madeira tropical do mundo, já utilizando 350 espécies de árvores para fins comerciais. A falta de planejamento nas atividades de exploração gera um desperdício de cerca de 60% nas serrarias. A exploração racional não esgota o recurso, reduz desperdícios e, comparada a agropecuária extensiva, gera o dobro de empregos e paga salário quatro vezes maior. A Certificação Florestal, mecanismo que assegura ao consumidor que determinado produto provém de áreas bem manejadas, incentiva a exploração madeireira de impacto reduzido, a qualificação da mão de obra, traz benefícios sociais e aumento o retorno econômico da atividade.
O incentivo à atividade agrícola em certas regiões da Amazônia é questionável. O retorno econômico da agricultura extensiva é de 10% contra 71% da exploração madeireira de manejo sustentável. Grande parte da agricultura familiar na Amazônia, pobre em recursos e tecnologia, persiste baseado nos nutrientes advindos da floresta convertidos através do secular sistema de corte-e-queima. A intensificação da agricultura e a recuperação de áreas abandonadas em certas regiões diminuiria a pressão sobre as florestas.
O retorno econômico da pecuária extensiva na Amazônia é de apenas 4% contra a exploração madeireira de manejo sustentável com desempenho de 71%. Além disto, a relação tributária potencial do setor madeireiro em relação a pecuária extensiva é de 8 para 1. Se o caráter extensivo fosse substituído pelo intensivo, com manejo sustentável dos solos, a pecuária poderia continuar crescendo e as pastagens atuais suportariam o dobro do rebanho, sem a necessidade de aberturas de novas áreas.
As florestas da Amazônia funcionam como grandes armazéns de carbono, o qual se encontra estocado nos tecidos vegetais. Quando a floresta é derrubada e queimada, este carbono é liberado para a atmosfera, o que contribui para o aumento da temperatura da Terra devido ao efeito estufa (0,7ºC no último século). Os efeitos associados ao contínuo aumento das emissões de CO² (9 bilhões de toneladas por ano) e de outros gases para a atmosfera, são mudanças no clima, quebra de safras agrícolas e o aumento do nível do mar, o que poderia inundar as cidades litorâneas. As emissões de carbono para a atmosfera provêm da queima dos combustíveis fósseis (80%) e das mudanças no uso da terra (20%), principalmente o desmatamento. O desmatamento na Amazônia libera 200 milhões de toneladas de carbono por ano (2,2% do fluxo total global). Por outro lado, a Amazônia armazena em suas florestas o equivalente a uma década de emissões globais de carbono.
Fontes:
A Importância das Florestas em Pé na Amazônia (2001. IPAM, Cláudia Azevedo-Ramos)
Evolução Histórica do Extrativismo (IBAMA, Rafael Pinzón Rueda. Disponível aqui)
Incêndios causam US$ 5 bilhões em prejuízo (2009. REVISTA DA MAEIRA, Ed.69. Disponível aqui)
Ecoturismo: viagem sustentável (2004, INSTITUTO AQUALUNG. Disponível aqui)
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A importância das florestas em pé na Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU