22 Abril 2024
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que nos próximos dias seu país aumentará "a pressão política e militar sobre o Hamas" para liberar os 133 reféns israelenses.
A reportagem é publicada por Página|12, 22-04-2024.
As autoridades da Faixa de Gaza descobriram nas últimas horas uma nova vala comum no pátio de um hospital em Jan Yunis, de onde recuperaram 60 corpos neste domingo, elevando para 34.100 o número de mortos em todo o enclave palestino desde o início da ofensiva do Exército israelense. Desde a sexta-feira passada, um total de 210 corpos foram encontrados no hospital Naser, enquanto ainda há cerca de 2.000 desaparecidos na região, de acordo com um porta-voz da equipe de defesa civil do enclave, independente do Hamas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que nos próximos dias seu país aumentará "a pressão política e militar sobre o Hamas" para conseguir a libertação dos 133 reféns israelenses. Após mais de seis meses de ofensiva contra o movimento islamista palestino, o líder israelense continua determinado a lançar uma ofensiva terrestre em Rafah, no extremo sul de Gaza. A comunidade internacional mostrou preocupação com essa possível operação, já que cerca de 1,5 milhão de pessoas estão aglomeradas nesta cidade.
Medical crews evacuate the bodies of dozens of Palestinians who were found in a mass grave in the courtyards of Naser hospital in Khan Younis city. pic.twitter.com/q6Jt3dKr0v
— Eye on Palestine (@EyeonPalestine) April 21, 2024
O Exército israelense se retirou de Jan Yunis durante a madrugada de 7 de abril, após quatro meses de combates e bombardeios, também contra residências e população civil. Os dois principais hospitais da região, Amal e Naser, foram arrasados e totalmente inoperantes após sofrerem o cerco das tropas israelenses, que atacaram ambos os centros sob a premissa de que escondiam supostos milicianos do Hamas e da Jihad Islâmica.
O Hamas disse neste domingo que a descoberta da vala comum no hospital Naser "reforça a extensão dos crimes e atrocidades cometidos pelo exército de ocupação sionista". O episódio lembra o que aconteceu no hospital Al Shifa, o mais importante e localizado no norte do enclave, que ficou totalmente fora de serviço devido a um cerco israelense que durou duas semanas no final de março.
Após a saída das tropas israelenses do hospital em 1º de abril, as autoridades de Gaza descobriram uma vala comum com uma dezena de corpos enterrados, incluindo pacientes, mulheres e idosos. No total, cerca de 400 corpos foram recuperados no hospital e nos arredores nos dias seguintes. "Alguns corpos estavam nus, o que certamente indica que sofreram tortura e abuso", disse a Defesa Civil.
Esse macabro descobrimento ocorre após a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovar no sábado uma ajuda militar de 13 bilhões de dólares para seu aliado Israel. Neste domingo, o Hamas considerou que essa ajuda dá "luz verde" a Israel "para continuar a agressão brutal" contra os palestinos e acusou Washington de ter "responsabilidade política, jurídica e moral pelos crimes de guerra" cometidos por Israel.
Enquanto isso, a violência continua na Cisjordânia ocupada, onde uma operação do Exército israelense que durou mais de dois dias deixou 14 mortos no campo de refugiados de Nur Shams, na cidade de Tulkarem. Neste domingo, o campo amanheceu com cerca de 50 casas destruídas e os residentes chocados, enquanto por toda parte podiam ser encontrados buracos de estilhaços, escombros causados pelas escavadeiras israelenses e vestígios de sangue seco.
"Estiveram por cerca de 56 horas e destruíram tudo, não deixaram nada. Chegaram com as máquinas escavadeiras e arrasaram com tudo, com as ruas, as casas. Mataram jovens. Não deixaram nada", disse à agência EFE Asraf al Ayan, palestino de 47 anos e dono de uma floricultura em Nur Shams, destruída pelas tropas israelenses. Outros dois palestinos morreram em confronto com soldados no cruzamento de Beit Einun, perto da cidade cisjordaniana de Hebron, enquanto uma mulher foi abatida por tiros de soldados em um controle militar ao norte do vale do Jordão.
Além disso, um socorrista da Meia-Lua Vermelha Palestina morreu baleado por colonos ao tentar ajudar alguns feridos na aldeia de Al Sawiya, ao sul de Nablus, onde dezenas de israelenses atacaram casas de palestinos. Desde o ataque do Hamas em 7 de outubro, 483 palestinos morreram na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental; a maioria por fogo israelense em confrontos armados, mas também após atirarem pedras ou sem representarem risco para as tropas, segundo testemunhas.
Em uma mensagem por ocasião da celebração da festa de Páscoa judaica, o primeiro-ministro Netanyahu disse que "em vez de abandonar suas posições extremistas, o Hamas se beneficia de nossas divisões e se sente encorajado pelas pressões dirigidas contra o governo israelense", motivo pelo qual "lhes daremos golpes dolorosos e isso acontecerá em breve".
Netanyahu culpou novamente o grupo islamista por ter rejeitado todas as propostas de cessar-fogo em Gaza que permitiriam a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, apesar de o Hamas há meses estar pedindo um cessar-fogo "definitivo" como pré-requisito, algo ao qual Netanyahu se opõe. As demandas do Hamas nas negociações não mudaram: o fim da ofensiva, a retirada das tropas de Gaza, o retorno dos deslocados do norte às suas casas e a entrada de ajuda humanitária suficiente para reconstruir o enclave.
O primeiro-ministro emitiu um aviso a Washington, depois que o veículo de imprensa americano Axios publicou recentemente que o Departamento de Estado planeja sancionar o batalhão ultraortodoxo do Exército israelense, Netzah Yehuda, por possíveis violações dos direitos humanos na Cisjordânia ocupada. "Lutarei ferozmente para defender as Forças de Defesa de Israel, nosso exército e nossos soldados. Se alguém acha que pode impor sanções a uma unidade do exército, lutarei com todas as minhas forças", garantiu Netanyahu.
A guerra em Gaza avivou outras tensões no Oriente Médio, especialmente com o inédito ataque do Irã a Israel em 13 de abril, com cerca de 350 drones e mísseis, a maioria dos quais foram interceptados. Neste domingo, o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Jamenei, elogiou os "sucessos alcançados pelas forças armadas nos últimos eventos", que ilustram a "grandeza" do Irã na cena internacional.
A República Islâmica afirmou que o ataque foi uma resposta ao bombardeio de seu consulado em Damasco em 1º de abril, atribuído a seu arqui-inimigo Israel, que matou sete membros da Guarda Revolucionária iraniana, dois deles com o posto de general. Israel prometeu retaliar e veículos de imprensa oficiais iranianos relataram na sexta-feira explosões perto de uma base militar no centro do país, embora o Exército israelense tenha se abstido de comentar o ocorrido.
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Mais de 200 corpos recuperados da vala de um hospital em Khan Yunis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU