A Igreja da Guiana Francesa está decidida a assumir as decisões do Sínodo para a Amazônia como caminho de futuro. Motivados por essa proposta, 250 inscritos, além daqueles que se fizeram presentes em algum momento ao longo do evento, denominado Segundo Sínodo da Igreja da Guiana Francesa, que foi convocado de 23 a 26 de fevereiro. O objetivo era encarnar na Guiana Francesa o dinamismo e as resoluções geradas pelo Sínodo para a Amazônia, que teve sua assembleia sinodal de 6 a 27 de outubro, recolhidas no Documento Final e na exortação Querida Amazônia.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Entre os presentes encontravam-se os padres da diocese, junto com religiosos e religiosas e um destacado número de líderes das paróquias e dos povos indígenas, dentre eles um bom número de jovens. O Sínodo tem sido momento de escuta dos gritos dos povos da Amazônia e os gritos da floresta amazônica, seguindo o esquema da assembleia sinodal em Roma, intervenções de quatro minutos e quatro minutos de oração e reflexão depois de quatro intervenções, para perguntar ao Espírito o que ele está nos dizendo através desses testemunhos.
(Foto: Luis Miguel Modino)
Entre os participantes estavam pessoas de todas as classes sociais e de todas as idades, indígenas, Bushingués, Creoles, Hmong, brasileiros, moradores da cidade. Foi momento para muitos dos presentes descobrir uma realidade muitas vezes desconhecida, que provocou indignação, mas também esperanças e desejos de melhora.
Partindo do estudo de Laudato Si, do Documento Final do Sínodo e da exortação Querida Amazônia, foram elaboradas 24 propostas, aprovadas quase por unanimidade, a partir de cinco sonhos: social, ecológico, cultural, pastoral e sinodal. Cabe destacar que cada moção foi traduzida em Aluku, wayana e kali'na para que cada pessoa pudesse entender o que estava votando.
(Foto: Luis Miguel Modino)
Dentro do sonho social a Igreja da Guiana, manifestou sua indignação pelas injustiças e crimes de ontem e de hoje, especialmente contra os povos indígenas, dos quais querem se tornar mais próximos. Por isso, está prevista uma celebração solene de pedido de perdão pela cumplicidade com a colonização, o tráfico de escravos e outros crimes do passado, prevista para 10 de maio de 2020 (Dia de Comemoração da Abolição da Escravatura na França). Também apoiam as demandas dos povos da floresta pela ratificação da Convenção 169 da OIT sobre os Direitos dos Povos Indígenas e uma maior autonomia para que a Guiana Francesa possa legislar de acordo com o território e estabelecer leis regionais adaptadas à realidade amazônica. Também pedem maior controle para pôr fim à exploração clandestina do ouro, à poluição dos rios e a qualquer tentação de exploração excessiva dos recursos florestais.
O sonho cultural deve levar a entender a missão desde um diálogo respeitoso com as diferentes culturas, promovendo uma liturgia mais em harmonia com a riqueza das diferentes culturas, multiplicando os intercâmbios culturais e fomentando o conhecimento da cultura e as raízes de cada um, sempre escutando os indígenas, a quem cabe decidir o que querem preservar e o que querem mudar, à luz da mensagem de Jesus.
(Foto: Luis Miguel Modino)
Assumir a Laudato Si e Querida Amazônia é ponto de partida do sonho ecológico. Desde aí, a Igreja da Guiana Francesa faz um chamado a reduzir ao máximo o uso de combustíveis fósseis (consumo de gasolina, plástico, etc.) e a promover as energias renováveis. Além disso, promover a compostagem, reciclagem, triagem de resíduos e trabalho comunitário para a limpeza dos rios, e limitar o uso de papel nas paróquias.
Desde a amizade com Jesus, as paróquias devem ser renovadas para viver numa família alegre, calorosa e acolhedora, uma Igreja de maior proximidade, itinerante e presente no meio do povo para aprender. A través das famílias das cidades do litoral se pretende acolher jovens indígenas e bushinengués que chegam para estudar. Também foi aprovada a proposta de novos ministérios, inclusive em aldeias remotas, com mulheres, homens.
(Foto: Luis Miguel Modino)
O sonho sinodal quer levar a tornar os leigos atores privilegiados, especialmente as mulheres, passando de uma Igreja clerical para uma Igreja sinodal, onde todos participam das decisões relativas à missão e à vida comunitária. A implementação das decisões do Sínodo da Igreja da Guiana Francesa serão acompanha pelo Conselho Pastoral Diocesano, promovendo que os encontros entre as paróquias não sejam reservados apenas aos sacerdotes, mas que, na medida do possível, incluam os principais agentes pastorais, diáconos, religiosos e religiosas, responsáveis pela catequese e outros serviços paroquiais.
A Igreja da Guiana Francesa pretende apresentar os resultados do Sínodo dos Bispos e do Sínodo Diocesano aos representantes eleitos e líderes políticos, administrativos e militares da Guiana Francesa. Durante esta celebração vão dar-lhes a encíclica "Laudato Si", a Exortação Pós-Sinodal Querida Amazônia, o Documento Final do Sínodo dos Bispos e as Moções do Sínodo da Diocese de Caiena.
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