31 Outubro 2019
“Ecoam, como um grito, as considerações do Papa Francisco em sua Laudato Si’, quando clama para que a humanidade tome consciência da “necessidade de realizar mudanças de estilo de vida, de produção e de consumo” e quando aponta para uma nova economia mundial onde países ricos aceitem dividir a riqueza”, escreve Roberto Mistrorigo Barbosa, membro das Comunidades de Vida Cristã – CVX e da Comissão Nacional de Formação do Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB.
Em 2015, na Encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco apelou de forma contundente para que as lideranças de todo mundo ouçam o “grito da Terra e o grito dos pobres”. Essa metáfora diz muito sobre como a humanidade tem se comportado em relação ao planeta e a seus membros mais necessitados, ou seja, é preciso que a natureza e os pobres gritem para que sejam ouvidos. Mas não basta apenas que os poderosos ouçam, é urgente que tomem alguma atitude.
Nesse sentido, recente pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) coloca em números e perspectiva o descaso dos líderes brasileiros. Os resultados mostram que em apenas um ano aumentou em 2 milhões o número de pessoas vivendo em situação de pobreza; outros 2 milhões se transformaram em miseráveis.
Mas tão cruel quanto a miséria que se abate sobre mais de 54 milhões de brasileiros é a gigantesca má distribuição da riqueza. Nesta mesma pesquisa, o IBGE detectou que a parcela mais rica do país, cerca de 10%, tem renda 17,6 vezes maior que os mais pobres. Os endinheirados concentram 43,1% de todo rendimento, ao passo que os 40% mais pobres detêm apenas 12% da riqueza.
Na avaliação dos pesquisadores, cortes no programa Bolsa Família, o aumento do desemprego e da informalidade aliados à crise econômica tem causado essa rápida deterioração na renda das famílias.
Ao mesmo tempo em que as pessoas sofrem com a pobreza, a natureza também mostra sinais evidentes de esgotamento, como bem ilustra o Instrumentum Laboris do Sínodo Pan-Amazônico quando expressa que “a Amazônia clama por uma resposta concreta e reconciliadora”. A divisão deste documento não poderia ser mais didática, sendo a primeira parte intitulada “a voz da Amazônia”, a segunda “ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres” e a terceira “Igreja profética na Amazônia: desafios e esperanças, a problemática eclesiológica e pastoral”.
Infelizmente, não são poucos os exemplos da irresponsabilidade para como meio ambiente. Na própria Amazônia, o ano de 2019 foi devastador, com o aumento das queimadas chamando a atenção de toda a opinião pública mundial. Neste mês de outubro, o Nordeste do Brasil sofre com o maior vazamento de petróleo em suas praias, em toda sua história. Desastres parecidos como esses e com o de Mariana, em Minas Gerais, que matou o Rio Doce, tem se tornado comuns.
Ecoam, portanto, como um grito, as considerações do Papa Francisco em sua Laudato Si’, quando clama para que a humanidade tome consciência da “necessidade de realizar mudanças de estilo de vida, de produção e de consumo” e quando aponta para uma nova economia mundial onde países ricos aceitem dividir a riqueza: “Chegou o momento de aceitar um certo decrescimento em algumas partes do mundo, aportando recursos para que seja possível crescer de maneira saudável em outras partes. É insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem mais e mais, enquanto outros não podem viver de acordo com sua dignidade humana”.
E em busca dessa nova economia, dessa nova maneira de nos relacionarmos com o outro e com a natureza, cabe também ouvir as palavras de Santa Dulce dos Pobres: “O importante é compreender o trabalho em favor dos necessitados como uma missão escolhida por Deus” e “O que fazer para mudar o mundo? Amar. O amor pode, sim, vencer o egoísmo”.
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O grito da Terra e o grito dos Pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU