16 Outubro 2019
A assembleia sinodal sobre a Amazônia (6 a 27 de outubro) continua a discutir a possibilidade de ordenar ao sacerdócio alguns homens casados de fé comprovada (viri probati). "Na minha diocese, temos 1100 aldeias com poucos padres, muitos deles idosos, que correm de um lado para o outro para celebrar a missa quatro ou cinco vezes por ano e, assim não conseguem oferecer um verdadeiro cuidado pastoral capaz de presença e acompanhamento" explicou Dom Carlo Verzeletti, bispo de Castanhal - Pará, no Brasil, durante o briefing diário.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Stampa, 14-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O sacerdote se torna "um distribuidor de sacramentos poucas vezes por ano", disse o bispo, "e por esse motivo continuo esperando a ordenação de homens casados para que possam acompanhar a vida de seu povo. Não penso - ele especificou - em sacerdotes de segunda categoria, mas formados, pessoas de vida exemplar. Temos muitos sacerdotes excelentes, mas também sacerdotes um tanto clericalizados ... e, em vez disso, existem homens casados extraordinários, com uma vida verdadeiramente eucarística, ou seja, uma vida voltada para os outros, e o fato de viver a Eucaristia no cotidiano é uma maneira de celebrar”.
Além disso, existe uma "violenta invasão das igrejas pentecostais", de forma que, por exemplo, existem em todo o território diocesano 750 igrejas pentecostais e 50 igrejas católicas, com várias igrejas em cada aldeia: "Pedi que o Papa Francisco pudesse olhar com carinho por essa realidade: temos pessoas dignas de serem ordenadas sacerdotes e, se o Papa decidisse nesse sentido, já saberia como indicar pessoas que saberiam desempenhar um trabalho extraordinário", ressaltou D. Verzelletti, que depois indicou as Igrejas irmãs de tradição apostólica como modelo a que se referir.
O padre Giacomo Costa, jesuíta, explicou, em resposta a uma pergunta durante o briefing, que é "redutivo dizer quem é a favor e quem é contra" a hipótese viri probati dentro da assembleia e o prefeito do Dicastério da Comunicação, Paolo Ruffini, destacou que há uma "variedade de posições" e que, acima de tudo, "todas as intervenções sempre se encerram enfatizando que o Sínodo não terá como decidir, mas confiará a questão ao discernimento do Santo Padre", pelo qual não vale "antecipar os tempos". O bispo Verzelletti confirmou que, durante o debate, embora existam posições diferentes sobre o tema, sempre prevalecem a escuta e o "respeito" entre os padres sinodais.
Embora a discussão tenha continuado a abordar desde questões sociais a ecológicas e eclesiais, o padre Costa observou que "está se delineando uma imagem onde tudo está conectado", em consonância com a encíclica papal Laudato si'. Entre as propostas que surgiram, as de um observatório eclesial internacional sobre violações de direitos humanos e a necessidade de advogar a governança internacional com relação à exploração das populações, criminalizadas por seus protestos contra crimes ambientais.
Dom José Angel Divasson Cilveti, salesiano, bispo titular de Bamaccora, refez sua longa experiência na Venezuela, ressaltando que nos anos 1950 a presença da Igreja, embora preciosa, às vezes tivesse um "viés paternalista" e como, a partir do Concílio Vaticano II , cada vez mais entendeu sua função como de acompanhamento respeitoso das populações locais, ajudando-as através de projetos, educação, formação e evangelização a partir das instâncias culturais das comunidades locais.
Josianne Gauthier, secretária geral da Aliança Católica Internacional de Agências de Desenvolvimento (Cidse), explicou por sua vez que a presença de sua organização no Sínodo visa escutar as instâncias representadas pelas populações locais, a fim de promover seus direitos no nível de política internacional, inclusive após o Sínodo.
Durante a manhã, o Papa quis iniciar a nona congregação geral, que abriu a segunda das três semanas do Sínodo, com uma oração pelo Equador, onde protestos antigovernamentais promovidos por povos indígenas estão em andamento há dias. "Esperamos que o que acontece no Equador incentive outros povos", disse José Gregorio Díaz Mirabal, presidente do Congresso de Organizações Indígenas da Amazônia na Venezuela (Coica), enfatizando que, diante dos muitos problemas, das atividades de mineração à violação dos direitos humanos, da migração à poluição, precisa-se de uma "aliança" como aquela presente no Sínodo: "Somos os mártires da Amazônia e nenhum povo escapa dessa realidade", afirmou o representante da comunidade indígena, lembrando a morte de sete pessoas ontem na Venezuela, de mais de 200 pessoas no Brasil, além de violações na Bolívia, Colômbia e outros países da Amazônia.
Paolo Ruffini também confirmou que o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, em Roma para a canonização da Irmã Dulce no domingo, foi recebido durante a manhã desta terça-feira às 8h30 pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, e pelo monsenhor Paul Richard Gallagher. Para o jornalista que perguntou se foi abordado o temor do governo de Jair Bolsonaro de que a Igreja durante o Sínodo represente o Brasil como explorador da Amazônia, o prefeito do Dicastério para a Comunicação explicou que a audiência, "cordial", “deve ser distinta" do Sínodo e se atém às "relações diplomáticas" entre os dois países.
D. Verzelletti, por sua vez, lembrou como a Igreja não questiona a soberania do Brasil sobre a parte da Amazônia que pertence ao seu território, mas também destacou que "os administradores devem cuidar disso" e que "às vezes parece que para resolver os problemas é necessário explorar ainda mais a floresta já destruída" e "as atividades de agronegócio e mineração beneficiam as pessoas ricas e não o povo".
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O Sínodo sobre a Amazônia discute ainda os viri probati: não a sacerdotes distribuidores de sacramentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU