23 Setembro 2019
Jair Bolsonaro tem um plano secreto para o desenvolvimento da Amazônia: prevê a construção de uma usina hidrelétrica, a expansão da rede rodoviária e o deslocamento da populações do interior da região. O plano está contido em documentos confidenciais que as Forças Armadas tiveram a tarefa de preparar, com detalhes vazados e revelados pelo The Intercept, o site do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que teve acesso a gravações de reuniões oficiais justamente sobre a iniciativa.
A reportagem é de Raffaella Scuderi, publicada por La Repubblica, 21-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O plano, escreve The Intercept, "prevê incentivos para grandes obras públicas que atraem populações não indígenas de outras regiões do país para se estabelecerem na Amazônia", incluindo uma usina hidrelétrica e uma ponte sobre o rio Amazonas no Estado de Pará - que já detém o recorde de desmatamento no país - e a extensão até a fronteira com o Suriname da BR-163, que atravessa o Brasil do Rio Grande do Sul até o Pará.
De acordo com o material examinado pela Intercept, o objetivo da operação é reafirmar a soberania do Brasil sobre seu território, inclusive contra um suposto risco de invasão por parte da China. Não foi por acaso, portanto, que foi nomeada “Barão de Rio Branco”, nome do famoso personagem histórico José Paranhos, que é considerado o pai da diplomacia brasileira, lembrado por ter consolidado as fronteiras do país no início do século no ano passado.
O outro objetivo do plano seria garantir o controle estatal dos territórios amazônicos e relançar seu crescimento econômico, resistindo ao que o governo considera como pressões internas e externas - por parte de ambientalistas, governos estrangeiros e Igreja Católica. – por uma internacionalização da floresta tropical e a ameaça de "invasão" de imigrantes chineses nas áreas de fronteira. Segundo os responsáveis do governo, aos populações indígenas representam um obstáculo ao desenvolvimento da região.
A iniciativa foi apresentada em uma série de reuniões a portas fechadas por altos oficiais militares, que ilustraram sua convicção de que a China promove migrações para regiões de fronteira que considera estratégicas, como "na fronteira com a Sibéria", onde hoje há mais chineses que cossacos", e o desejo é" agir para impedir que o mesmo problema chegue aqui".
Além do medo de uma invasão chinesa, a iniciativa também parece retomar outra preocupação já expressa por Bolsonaro, ou seja, a existência de um suposto "plano dos três A" (Andes-Amazônia-Atlântico) com o objetivo de criar um "corredor ambiental" da cordilheira andina até a costa leste da América do Sul, que comprometeria a soberania do Brasil sobre sua parte da floresta amazônica.
Por enquanto, Bolsonaro prorrogou por mais 30 dias a atuação do exército contra os milhares de incêndios que atingiram a Amazônia. Os soldados foram enviados à região para ajudar os bombeiros e a polícia que combatem as chamas que estão consumindo grandes porções do "pulmão verde" da Terra. Com essa prorrogação, a iniciativa permanecerá em vigor até 24 de outubro, quando é esperada uma redução dos incêndios devido à chegada da estação chuvosa. Segundo o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, em um mês de atividade, o exército atacou mais de 500 focos e apreendeu mais de 50 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente.
O presidente brasileiro poderá participar dos trabalhos da Assembleia Geral da ONU em Nova York. Os médicos o autorizaram a viajar, apesar da recente intervenção. Bolsonaro passou por várias operações depois do ataque à faca sofrido um ano atrás, durante um comício na campanha eleitoral presidencial.
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Amazônia, o plano secreto de Bolsonaro: soberania do Brasil, usinas, desmatamento e rodovias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU