17 Setembro 2019
Os planos dos bispos alemães para a realização de um processo em dois anos de consulta e deliberação sobre temas centrais que desafiam a Igreja Católica devem se conformar com o direito canônico universal e ser aprovados pelo papa, disse o prefeito da Congregação para os Bispos.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por Catholic News Service, 13-09-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O Cardeal Marc Ouellet, prefeito, enviou uma carta datada de 4 de setembro ao Cardeal Reinhard Marx, de Munique e Freising, e anexou uma análise feita pelo Pontifício Conselho para os Textos Legislativos dos estatutos sobre o “modo sinodal” alemão.
O Pontifício Conselho disse que, ao propor um processo que inclui “deliberações vinculantes” com novas regras para a Igreja na Alemanha, os bispos estavam, com efeito, planejando um “conselho plenário”, o que exigiria uma aprovação prévia do Papa Francisco.
Matthias Kopp, porta-voz da Conferência Episcopal Alemã, disse, em 13 de setembro, que “a avaliação do Pontifício Conselho se refere à versão inicial de junho de 2019 do texto dos estatutos, e não considera a versão atualizada em julho e após o encontro do conselho permanente (da Conferência) em agosto”.
A versão mais recente, segundo ele, “não contém mais as passagens que a avaliação menciona”. Kopp acrescentou que Marx está em contato com Ouellet e que irá se reunir com ele “em Roma na próxima semana para esclarecer qualquer mal-entendido”.
Na carta, que os bispos alemães postaram em seu sítio eletrônico, Ouellet referia-se à carta que Francisco escreveu aos católicos alemães em junho “para repetirem alguns princípios básicos a uma ‘caminhada sinodal’ efetiva vivida em sintonia com a Igreja universal”.
Ouellet disse esperar que a avaliação do Pontifício Conselho feita sobre os estatutos – avaliação que os bispos alemães também postaram – “possa contribuir para a regulação do trabalho da ‘caminhada sinodal’ de forma que um evento tão importante para o Povo de Deus na Alemanha, celebrado em comunhão com toda a Igreja, reforce as raízes eclesiais e relancem a missão evangelizadora da Igreja nesse país”.
Os bispos alemães começaram a debater os planos para esse encontro em setembro de 2018 depois terem publicado um estudo que revelava a estimativa de 3.700 casos de abuso sexual reportados na Igreja Alemã de 1946 a 2014.
Em resposta ao estudo e à sensação generalizada de que algo precisava mudar, os bispos e algumas lideranças católicas leigas começaram a pensar na realização de um encontro nacional de católicos em estilo “sinodal”, onde a experiência e a voz de todos fosse acolhida e onde os bispos não seriam os únicos a tomar as decisões.
As preparações focaram quatro áreas principais: o exercício de poder e autoridade na Igreja; a moralidade sexual; o sacerdócio, incluindo a questão do celibato obrigatório; e o papel da mulher na Igreja, incluindo a possibilidade de se abrir mais áreas ministeriais para elas.
Em resposta, o Pontifício Conselho questionou: “Como uma igreja particular pode deliberar de uma maneira vinculante se os temas com os quais lida tocam toda a Igreja?”
O Pontifício Conselho também objetou que a versão inicial dos estatutos parecia implicar que a Conferência Episcopal e a Comissão Central dos Católicos Alemães “são iguais” e enviariam um número igual de participantes, dividiriam os deveres da presidência das assembleias e teriam um voto igual.
“Esta igualdade entre os bispos e os leigos não pode existir eclesiologicamente”, afirma o texto do Pontifício Conselho. Embora todos os católicos estejam chamados à participação ativa na Igreja, “não significa que a Igreja se estruture democraticamente e que as decisões são feitas por uma maioria dos fiéis”.
De acordo com Conselho Pontifício, num sínodo diocesano, num conselho plenário ou no “modo sinodal” alemão, realizar um estudo, uma consulta e tomar decisões são tarefas separadas pertencentes a membros diferentes da Igreja com base em seus papéis.
E, embora os bispos sejam os únicos que podem tomar decisões vinculantes na maior parte dos assuntos, se a questão impacta a Igreja de forma mais ampla, somente o papa pode decidir, explicou o Pontifício Conselho.
Na carta de junho aos católicos alemães, Francisco insistiu que o processo em que a Igreja alemã está embarcando deve focar no fortalecimento da fé do povo e no testemunho da Igreja.
Ao tentar resolver os problemas e as deficiências, disse o papa, há a tentação de acharmos que “a melhor resposta seria reorganizar as coisas, fazer mudanças e ‘consertos’ que permitiriam a vida da Igreja ser posta em ordem e em harmonia”.
Em vez disso, continuou, a Igreja deve adotar uma atitude que “busque viver e fazer que o Evangelho seja transparente e que rompa com o pragmatismo cinza da vida cotidiana da Igreja, em que tudo transcorre normalmente, mas, na realidade, a fé se desgasta e se degenera em mesquinhez”.
No começo de setembro, ao se reunir com os bispos da Igreja Católica ucraniana, Francisco declarou que a consulta aos leigos é parte essencial da deliberação dos bispos, não para que possam mudar o ensino católico, mas para pregar com mais eficiência o Evangelho.
“Porque tem um perigo: acreditar, hoje, que percorrer um caminho sinodal ou ter uma atitude de sinodalidade significa fazer uma pesquisa de opiniões, o que pensa este, esse, aquele... e depois realizar um encontro, pôr-se de acordo... Não, o Sínodo não é um Parlamento!”.
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Autoridades vaticanas dão diretrizes para encontro da Igreja alemã - Instituto Humanitas Unisinos - IHU