Revelação de bispo gay desperta tensões na Igreja da Inglaterra

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09 Setembro 2016

Há tempos se sabe que os bispos da Igreja da Inglaterra não podem estar em relações homoafetivas. A revelação de que o Arcebispo de Canterbury nomeou, no ano passado, um prelado que se encontrava numa relação gay reabriu o debate interno não resolvido sobre o assunto.

A reportagem é de Austen Ivereigh, publicada por Crux, 06-09-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa

A Igreja da Inglaterra enfrenta um de seus problemas recorrentes, quando de repente emergem à superfície divergências profundas existentes entre grupos de fiéis.

A questão agora, como noutros momentos, é a homossexualidade, e foi provocada por duas revelações: que um bispo da Igreja da Inglaterra é gay e vive com o parceiro em uma relação “celibatária”, e que estes dois fatos eram conhecidos do Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, quando consagrou Nicholas Chamberlain em novembro do ano passado.

Depois que uma revista ameaçou expor o caso, Chamberlain, bispo de Grantham, decidiu ser o primeiro bispo da Igreja da Inglaterra a declarar sua homossexualidade e dizer que se encontra em um relacionamento homoafetivo.

Na sexta-feira passada, ele concedeu uma entrevista ao jornal The Guardian dizendo que a decisão de sair do armário não fora sua e que não queria ser conhecido como “o bispo gay”, e sim que esperava ser “um porta-bandeira para todas as pessoas”.

Na entrevista, ele afirmou que está junto com o seu parceiro há muitos anos. “É uma relação fiel, amorosa; pensamos parecido, gostamos da companhia um do outro e compartilhamos a vida”.

A posição oficial da Igreja da Inglaterra é que “o intercurso sexual, como expressão da intimidade fiel, pertence ao matrimônio propriamente e exclusivamente”. As diretrizes da igreja, publicadas em 2012, declaram que o clérigo gay pode estar em união civil, mas não em matrimônio (a Inglaterra introduziu uniões civis a pessoas do mesmo sexo em 2004, e legalizou o casamento homoafetivo em 2012).

De acordo com uma nota emitida pela Câmara dos Bispos em 2013, o mesmo se aplica aos bispos, os quais podem estar em relacionamentos civis “cujas uniões estejam em conformidade como ensino da Igreja da Inglaterra”.

Portanto, porque Chamberlain está em uma relação gay não sexual, ele não viola o ensino religioso, embora até o momento nenhum bispo da Igreja da Inglaterra tivesse se declarado gay ou admitido estar em uma relação homoafetiva.

Em 2003, o então reitor da catedral de St. Albans, Jeffrey John, retirou-se do processo de escolha para o bispado de Reading em 2003 após uma reação em fúria da parte de anglicanos tradicionalistas. Como Chamberlain, ele se encontrava em um relacionamento gay celibatário.

Todas as pessoas envolvidas na nomeação de Chamberlain – inclusive Welby – estiveram cientes desta sua situação pessoal, afirmou o bispo. Segundo ele, durante o processo de nomeações, “exploramos o que significaria, para mim como bispo, estar vivendo dentro dessas diretrizes”.

Essa revelação terá também implicações para a Comunhão Anglicana mais ampla, dado o status especial que tem a Igreja da Inglaterra dentro dela e as profundas divergências existentes em torno do tema. Rowan Williams, ex-Arcebispo de Canterbury, teve como uma de suas tarefas mais prementes a de manter unida a Comunhão Anglicana diante das profundas divisões entre os anglicanos da África e os da América do Norte.

A Igreja da Inglaterra fez fortes críticas à Igreja Episcopal nos EUA por consagrar Gene Robinson, homem abertamente gay também em uma relação não celibatária, como Bispo da Diocese Episcopal de Nova Hampshire em 2003. Essa consagração desencadeou uma crise na Comunhão, e levou à ascensão do “Gafcon”, movimento conservador mundial anglicano que reivindica fidelidade aos ensinamentos bíblicos.

O secretário-geral do Gafcon, Peter Jensen, criticou a nomeação de Chamberlain, dizendo que ele fora feito com um elemento de sigilo e que era “um caso sério de preocupação para os anglicanos biblicamente ortodoxos ao redor do mundo”.

Jensen reconhece que Chamberlain não viola as diretrizes nem tem feito campanha pública para uma mudança no ensinamento da igreja a respeito do sexo e do matrimônio. No entanto, ele falou que a nomeação foi “um erro” que irá exacerbar divisões dentro da Comunhão. 

Welby, quem deverá se juntar ao Papa Francisco em 20 de setembro para um encontro inter-religioso em Assis, declarou em nota que estava “plenamente ciente do relacionamento comprometido e de longo prazo do Bispo Nick” e que a sua nomeação havia sido feita com base em suas habilidades e em seu chamado. “Ele vive dentro das diretrizes episcopais, e a sua sexualidade é completamente irrelevante para o seu cargo”.

Welby, que é casado, disse recentemente que era “constantemente consumido pelo horror” com que a igreja tem tratado os gays, e que tem tido noites em claro por causa disso.

A revelação empoderou a ala progressista da igreja, que há tempos tem proposto que a instituição abandone a sua oposição ao matrimônio homoafetivo.

Neste fim de semana, 14 clérigos da Igreja da Inglaterra revelaram que se casaram com parceiros gays, desafiando as diretrizes episcopais. Eles convidaram o Colégio dos Bispos a “afastarem-se do prejuízo e da dor que, frequentemente, é feito em nome da igreja”.

Seis dos signatários da carta aberta permaneceram anônimos no intuito de, segundo eles, protegerem seus bispos, os quais estão dando um apoio à causa, porém em privado.

O “Changing Attitudes”, grupo que defende uma postura anglicana mais progressista, declarou que havia “pelo menos dez outros bispos na igreja que são gays, muitos dos quais em algum tipo de relacionamento”, ainda que inexista forma de sabermos se esta afirmação é verdadeira.

Estas revelações, no entanto, também irão empoderar a ala conservadora, numa época em que quase uma dúzia de paróquias da Igreja da Inglaterra, no sul do país, anunciaram que estavam criando um “sínodo das sombras” para defender o ensino cristão tradicional.

Em entrevista à BBC no fim de semana, Chamberlain disse que sempre serviu a Deus e ao povo de Deus, acrescentando que “a minha sexualidade faz parte de quem eu sou: nunca procurei fazer dela um segredo”.

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