Mais americanos rejeitam a religião, mas fiéis seguem firmes na fé

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06 Novembro 2015

Os americanos como um todo estão se tornando menos religiosos, mas aqueles que se consideram pertencentes a uma religião estão, em média, tão comprometidos com os seus credos quanto o estavam no passado – em certos aspectos, estão ainda mais comprometidos.

A reportagem é de Lauren Markoe, publicada por Religion News Service, 03-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa

Um estudo publicado nesta quinta-feira (5 de nov.) pelo Centro de Pesquisas Pew (Pew Research Center) e intitulado “2014 US Religious Landscape Study”, que buscou estudar o panorama religioso em 2014 nos Estados Unidos, também mostra que quase todos os principais grupos religiosos se tornaram mais abertos a aceitar a homossexualidade desde que o primeiro estudo do gênero foi realizado em 2007.

Este novo estudo pode trazer algum consolo aos que lamentam o aumento inegável nos Estados Unidos dos “nones”, ou seja: dos sem religião, pessoas que afirmam não ter afiliação religiosa.

“As pessoas que dizem ter uma religião – o que ainda é a ampla maioria da população – não demonstram uma diferença discernível nos níveis de observância”, disse Alan Cooperman, diretor de pesquisas sobre religião do Centro Pew.

“Eles relatam participar das celebrações religiosas com a mesma frequência com que o faziam anos atrás. Esetas pessoas rezam com a mesma frequência que antes, e da mesma forma elas estão propensas a dizer que a religião desempenha um papel muito importante em suas vidas diárias”, continuou. “Em algumas situações, há inclusive pequenos aumentos nos níveis das práticas religiosas destas pessoas”.

Mais adultos afiliados religiosamente, por exemplo, leem as Escrituras com regularidade e participam em pequenos grupos de oração em comparação a sete anos atrás, segundo a pesquisa. E 88% dos adultos com filiação religiosa disseram rezar diária, semanal ou mensalmente – a mesma porcentagem dos que informaram rezar regularmente no estudo de 2007.

“Devemos nos lembrar de que os Estados Unidos continua sendo um país de fiéis”, falou Gregory A. Smith, diretor associado de pesquisa do Pew, “com quase 9 de cada 10 adultos dizendo acreditar em Deus”.

Esta crença em Deus caiu cerca pontos percentuais nos últimos anos, resultando principalmente por causa do crescimento da parcela daqueles que afirmam ser “sem religião”, que dizem não acreditar em Deus. Mas mesmo entre os cristãos – 98% dos quais dizem acreditar em Deus –, menos pessoas acreditam com certeza absoluta: 80% em 2007 comparado aos 76% em 2014.

77% dos adultos pesquisados descrevem-se como sendo filiados a uma religião, o que representa um declínio dos 83% que disseram o mesmo na pesquisa de 2007.

Os pesquisadores do Centro Pew atribuem estas quedas à morte dos fiéis mais velhos e a um aumento no número dos millennials – pessoas nascidas entre 1981 e 1996 – que afirmam não ter filiação religiosa.

Os pesquisadores também descobriram que, enquanto a religiosidade no país diminui, uma espiritualidade geral está em ascensão, com 6 de cada 10 adultos dizendo sentir, regularmente, uma “profunda sensação de paz e bem-estar espiritual”, 7% a mais do que em 2007. Também está em ascensão o número de pessoas que vivenciaram uma “profunda sensação de maravilhamento” para com o universo, que também subiu para 7%.

Estas tendências fazem sentido, segundo Andrew Walsh, historiador da religião e professor da Trinity College em Hartford, Connecticut, posto que a filiação religiosa no país, hoje, está “cada vez mais moldada pela escolha pessoal e menos pelo legado da família ou comunidade”.

Embora o ambiente social atual, especialmente para os adultos, permita aos americanos escolherem não se filiar a uma instituição religiosa, disse Walsh, muitos “ainda têm a sua espiritualidade de certo modo”.

Um sinal é a proliferação de estúdios de yoga em todo o território nacional. A maioria dos entusiastas da prática meditativa, que combina respiração com posturas físicas, não estão buscando se converter ao hinduísmo, segundo Walsh. Porém, estas pessoas podem achar a atividade gratificante espiritualmente.

Cooperman alertou, no entanto, contra tirarmos a conclusão de que uma tal espiritualidade esteja substituindo os tipos mais tradicionais de experiências religiosas, tais como participar de cultos ou missas.

“Pelo contrário, as pessoas nesta pesquisa que manifestaram mais espiritualidade são aquelas que se enquadram nas formas convencionais de religião”, disse ele, “e os participantes da pesquisa que são os menos atraídos pela religião tradicional, incluindo os ‘sem religião’, relatam níveis muito mais baixos de experiências espirituais”.

Os números mais surpreendentes apresentados no estudo descrevem uma mudança nas atitudes dos cristãos para com os americanos homossexuais.

Ainda que a pesquisa em análise não seja a primeira a documentar esta mudança, ela demonstra em detalhes como os membros de um amplo espectro de denominações – até mesmo aquelas que oficialmente se opõem à homossexualidade – transformaram as suas opiniões.

A quantidade de evangélicos protestantes, por exemplo, que diziam concordar que a “homossexualidade deveria ser aceita pela sociedade” pulou 10 pontos percentuais entre 2007 e 2014 – de 26% para 36%.

O aumento entre os católicos foi ainda maior: de 58% para 70%.

Para as igrejas protestantes historicamente negras, a aceitação pulou de 39% para 51%.

“Apesar das tentativas de se representar as pessoas religiosas como monoliticamente contrárias aos direitos da comunidade LGBT, isto não é o que acontece e estes números estão aí para provar”, disse Jay Brown, coordenador de pesquisa e educação da Human Rights Campaign Foundation, grupo americano de defesa dos direitos dos homossexuais.

“Há um apoio crescente às pessoas LGBTs e às nossas famílias, em muitos casos não sendo apesar das religiões das pessoas, mas porque o próprio fundamento de suas crenças incentiva o amor, a aceitação e o apoio para com demais seres humanos”, disse ele.

Os não filiados a alguma religião, no entanto, demonstraram o mais alto índice de aceitação das pessoas gays: 83%.

Quanto ao aborto, as atitudes se mantiveram constantes, conforme tem sido o caso desde que a Suprema Corte tornou o aborto um direito constitucional em 1973.

O estudo mostra que 53% dos americanos creem que o aborto deveria ser legal em todos (ou quase todos) os casos, com opiniões dentro das denominações religiosas alterando-se um pouco desde o estudo de 2007.

Outros achados do estudo incluem:

• Uma minoria de judeus (40%) e a ampla maioria dos muçulmanos (90%) dizem não comer carne de porco, consumo do qual é proibido pelos judeus e pela lei islâmica. O hinduísmo não permite comer bife, e quase 7 em cada 10 hindus (67%) dizem não comer esta carne.

• Quase 9 em cada 10 americanos dizem que as instituições religiosas unem as pessoas e fortalecem os laços comunitários, e 87% dizem que elas desempenham um papel importante na ajuda aos pobres e necessitados.

• As mulheres rezam mais do que os homens, com 64% dizendo rezar todos os dias, em comparação com os 46% dos homens que dizem fazer o mesmo.

• Quanto à evolução, mais de 62% dos americanos dizem que os seres humanos evoluíram com o passar dos tempos, enquanto que cerca de um terço (34%) dizem que os humanos sempre existiram em sua presente forma.

• Seis em cada 10 adultos, e três quartos dos cristãos, acreditam que a Bíblia ou outra Escritura sagrada, é a Palavra de Deus. Cerca de 31% – e 39% dos cristãos – acreditam que os seus textos deveriam ser interpretados literalmente.

O “2014 US Religious Landscape Study” entrevistou 35.071 americanos, e tem uma margem de erro de 1%, para mais ou para menos. A porção da pesquisa divulgada na quinta-feira, que focaliza as crenças e práticas religiosas, é a segunda de duas partes. A primeira, divulgada em maio, descobriu que o paí está significativamente menos cristão do que o era sete anos atrás.

 Isaque Gomes Correa

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