Vale do Sinos: sinais de mudança no mundo do trabalho

  • Segunda, 14 de Maio de 2012

O ObservaSinos, neste mês de maio busca manter-se em sintonia com os grandes debates acerca do mundo do trabalho buscando compreender, a partir da realidade do Vale do Sinos, suas expressões, mudanças, desafios e possibilidades. 

O mundo e o Brasil vivem ainda o impacto de grandes mudanças no trabalho, sobretudo a partir da década de 90. Não só mudaram as estruturas produtivas, pelo fato das novas demandas de consumo, como também o país ficou exposto, e de maneira não muito planejada, à economia internacional, ficando cada vez mais dependente e influenciado pela lógica própria do mercado externo.

O impacto das mudanças mostram uma realidade cada vez mais interligada. Não somente se alteram as estruturas de produção frente à demanda de novos empreendimentos industriais ou tecnológicos, como também a própria produtividade se expõe frente ao fenômeno do mercado global, suas crises e seus efeitos, moldados por novos padrões de consumo. Assim, em âmbito nacional, chegamos a um pico de produtividade em 2010 e a partir de então, inicia-se um ciclo de redução no ritmo de crescimento, um período de estagnação que afeta em muito a realidade do trabalho.

Loricardo de Oliveira, sindicalista atuante no Vale do Sinos e Tesoureiro CUT/RS, relaciona que o debate atual sobre a realidade do trabalho e o fenômeno da desindustrialização, também aqui no Vale ,  precisa ser ligado com a discussão sobre as estratégias para o futuro e isso supõe atenção e cuidado. “O debate sobre a desindustrialização pode correr riscos de haver somente benefícios aos empresários e as contrapartidas aos trabalhadores ficarem a segundo plano”.

Temos, em perspectiva econômica mais ampla, um conjunto de medidas e de políticas, que, no cenário regional são traduzidas com características próprias. No Vale, entre as características da realidade do trabalho, constata-se o fenômeno da terceirização  e da rotatividade da mão-de-obra, entre outros. Quanto à questão da terceirização, ocorre, sobretudo, a possibilidade de muitos empregos virem a ser contratados sem acompanhamento dos sindicatos, inclusive sob um regime de péssimas condições de trabalho. Afirma Loricardo de Oliveira. “Empregos na economia de serviços vem aumentando, a média salarial ainda pequena, as contrapartidas sociais limitadas aos interesses das empresas e a alta rotatividade da mão de obra, especialmente onde predomina o setor do calçado” (Campo Bom e Sapiranga. Neste quadro, completa o sindicalista, há de se inserir a questão da sazonalidade do comércio, traduzida principalmente na realidade do emprego temporário, como outro fator de rotatividade.

A constatação desta realidade de mudanças pode ser percebida pela visualização dos dados indicadores, ao retratarem a flutuação negativa (Indústria), estagnada (agropecuária) ou positiva (serviços, comércio e construção civil), divulgados na semana passada pelo ObservaSinos. De igual forma, a publicização e análise dos dados, apontam para a inter-relação existente entre a questão do trabalho, a desaceleração do crescimento, as questões demográficas e a reflexão sobre as políticas para o setor, assunto também debatido pelo ObservaSinos, como introdução a toda esta série de debates sobre o trabalho (A realidade do trabalho no Vale do Sinos e o cenário de mudanças e crise, 30.04.2012).

Portanto, quando o Ministério do Trabalho e Emprego divulga a relação entre admitidos e desligados no período 2012/2011, primeiro trimestre, percebe-se as tendências que caracterizam a realidade do trabalho na região. Apesar de uma flutuação positiva (Indústria de transformação e Serviços) e equiparada (comércio), na comparação com o primeiro trimestre de 2011, o número de desligados (7%) foi superior ao número de admitidos (2,1%). Assim, torna-se possível, visualizar, pela tabela abaixo, a flutuação havida nos três setores que mais contribuíram nesta relação entre admitidos e desligados.

A realidade dos dados, como se sabe, reflete uma tendência característica na região, onde interagem diversos e distintos elementos: reestruturação do setor produtivo, sazonalidade, mobilidade, demandas por qualificação, etc. Neste sentido, Carlos Finck, Secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Tecnologia e Turismo (SEDETUR) de Novo Hamburgo, opina sobre a relação entre admitidos e demitidos e seus efeitos, afirmando haver uma relação entre a oferta, a procura e a mobilidade: “as pessoas migram pela oferta de maiores salários”, analisa o Secretário.

Quanto à realidade da indústria e sua configuração regional, considera Finck que, “as empresas tiveram um crescimento negativo de 5% no primeiro trimestre do ano. Novo Hamburgo registrou um pequeno crescimento na indústria de transformação, nos serviços e na construção civil. O alto número de oferta de vagas deve-se ainda a falta de melhor qualificação para determinadas áreas”, conclui o Secretário.

De todo modo, o que se percebe, e os dados indicadores ilustram, é que a realidade do trabalho precisa ser repensada sob outros enfoques. Faz-se urgente a organização de uma agenda onde os atores, trabalhadores, empresários e governo, possam perceber os desafios do presente e as perspectivas de um futuro próximo, de transformações radicais nesta realidade. Metas de empregos, condições de trabalho, contratos coletivos nacionais, investimento em qualificação com metas de gratuidade para famílias de baixa renda, política de controle de sonegação da previdência social, são algumas das propostas a serem inseridas nesta agenda, defende o sindicalista Loricardo de Oliveira.

Neste processo de debate e formação, o ObservaSinos procura dar sua contribuição e oportuniza para esta semana (16.05) a “Oficina sobre os dados censitários da amostra da Região do Vale do Sinos - Censo 2010". Os/as interessados/as poderão fazer suas inscrições pelo sítio eletrônico da Unisinos.