Retratos: Vila Labirinto e São Jorge

  • Sexta, 22 de Abril de 2016

O acesso a serviços básicos que geram bem-estar à população ainda é limitado. De acordo com a pesquisa das acadêmicas Emanuelle e Isadora, as moradias das Vila Labirinto e São Jorge são desprovidas de instalações adequadas e os acessos e vias são bem limitados, não oferecendo, por exemplo, acessibilidade básica para ambulâncias, bombeiros e cadeirantes.

Ampliar a análise e o debate sobre as realidades do Vale do Rio dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre a partir das contribuições de acadêmicos e trabalhadores por meio de sistematizações de pesquisas e/ou experiências de intervenção é o objetivo do edital de Apresentação de trabalhos para publicação pelo ObservaSinos/Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Em 2015, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promoveu o edital a fim de dar espaço para pesquisas e/ou experiências na região dos Sinos e Região Metropolitana de Porto Alegre, que contou com a participação de trabalhos que analisaram diferentes realidades a partir de diferentes perspectivas.

O trabalho “Retratos: Vila Labirinto e São Jorge: Análise das realidades do Vale do Sinos” foi realizado pelas acadêmicas em Arquitetura e Urbanismo da Unisinos Emanuelle Carraro e Isadora Bresciani.

Eis o texto:

Para as cadeiras de Atelier de Projeto VI e Atelier VI: Seminário de Interação, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no período de 2015/2, na qual o tema de projeto era Habitação de Interesse Social, foi desenvolvido um trabalho fotográfico e de levantamento de informações e dados da população residente nas Vilas São Jorge e Labirinto, pertencentes ao bairro Duque de Caxias, na cidade de São Leopoldo. A proposta do projeto era readequar o local para os moradores, de maneira que pudessem ter maior qualidade de vida; dessa forma, decidiu-se acompanhar a rotina e vivência dos que ali habitam, a fim de compreender suas necessidades e problemas enfrentados.

De uma visão geral, observou-se que as Vilas e seus habitantes estão em situação irregular, pois a área em questão era, inicialmente, parte pública e parte de propriedade particular. Os primeiros moradores chegaram em meados de 1980, onde o que havia no local era apenas uma área de vegetação densa. Hoje vivem cerca de 300 famílias em um aglomerado de moradias, desprovidas de instalações adequadas. Os acessos e vias são bem limitados, não oferecendo, por exemplo, acessibilidade básica para ambulâncias, bombeiros e cadeirantes. As redes de telefonia, água e esgoto foram instaladas em 1993, portanto foram pouco mais de 10 anos sem saneamento básico.

Atualmente, parte dos lotes da Vila São Jorge vêm sendo regularizados, a fim de conseguir a escritura dos mesmos, porém alguns moradores apresentam resistência por temer aumentos de custos com impostos consequentes dessas regularizações. As condições de habitação já se elevaram muito em relação a alguns anos atrás devido à grande atuação da associação de moradores. Essas melhorias para a maioria já são suficientes, o que impede de a área toda adequar-se à legislação.

Os primeiros pontos que chamam a atenção ao chegar ao local são a grande densidade habitacional e a falta de infraestrutura adequada, principalmente na Vila Labirinto, que faz interface com a estação de trem Unisinos. Seguido disso, vem o sentimento de insegurança que, depois de entrar no local, passa despercebido devido à receptividade e simpatia dos moradores, sempre dispostos a contar sua história. Através do trabalho fotográfico e das visitas conseguimos compreender um pouco do que é esse orgulho que as pessoas de lá carregam pelo lugar onde vivem. Muitas saíram de suas terras natais em busca de um emprego e de uma vida melhor e conquistaram seus espaços aos poucos. Costumam dizer que o nome Vila São Jorge foi dado ao local devido ao próprio santo, que era um guerreiro.

Independentemente de todos os problemas que a área possui, seus moradores não deixam morrer o espírito de comunidade, a convivência e o respeito pelo local em que moram, bem como pelos vizinhos. O destaque do trabalho fotográfico se dá para as crianças, que não param de
sorrir e correr, mesmo que não tenham com o que brincar. Na mão delas, até um dia de recolhimento de restos de material para descarte vira brincadeira. As famílias costumam se reunir para conversar e tomar chimarrão e, mesmo enfrentando problemas, como falta de segurança, áreas propícias a alagamentos em época de chuva, escassez de áreas verdes e de lazer, não deixam de demonstrar sua satisfação por terem conquistado seu lugar.

Através desse trabalho, é possível entender o significado de pertencer a algum lugar. Por meio de fotografias e relatos de moradores, obteve-se o conceito para o projeto no local: “Retratos: da rotina, das relações, da convivência”

Fotografia: Carolina Grimm, Emanuelle Carraro e Isadora Bresciani

Evelyn, 11 anos. Uma das brincadeiras comuns entre as crianças é recolher descartes dos outros moradores (pedaços de madeira, papel, tecidos, ...) e levá-los para perto da área do Horto Florestal, pois o serviço de recolhimento de lixo não passa por dentro da Vila. O que não é recolhido, acaba sendo queimado ali mesmo, as vezes até pelas próprias crianças.

Wesley, 10 anos. Ao fundo, o carrinho que as crianças carregavam com os descartes.

 

Dona Cleusa, moradora desde 1980, proprietária de um bar dentro da Vila. Vinda de São Luiz Gonzaga, em busca de trabalho, conta que quando chegou à área das Vilas, o que havia era apenas vegetação densa. Declara orgulho por ter conquistado seu lugar, e diz que não abriria mão dele por nada.

Andresa e Eduarda, mãe e filha. Apesar da timidez, os moradores nos receberam muito educadamente e não se incomodaram por estarem sendo fotografados por pessoas desconhecidas.

Vagner, ou “Vaguinho”, como é conhecido pelos amigos. As crianças adoraram nos mostrar a Vila e contar como as coisas funcionam. Também pediram que fossem fotografados individualmente.

Rua Jose Francisco e Rua do Calçadão. A primeira foi nomeada em homenagem a um dos primeiros moradores da Vila, e a segunda, por ser uma das únicas ruas a ter calçamento durante um longo tempo, além de ser a única que possui emplacamento de logradouro público. Atualmente, todas as ruas da Vila São Jorge possuem calçamento. As da Vila Labirinto continuam sendo de chão batido, por serem administradas por uma Associação de moradores diferente.


Por Emanuelle Carraro e Isadora Bresciani