Movimento pendular, arranjos populacionais e a mobilidade na Região Metropolitana de Porto Alegre

  • Quinta, 11 de Junho de 2015

Os dados censitários são uma preciosa base de informação para subsidiar e promover o debate sobre as realidades, assim como apontar perspectivas para o planejamento, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas.

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou essa base, reuniu e sistematizou as informações para a Região Metropolitana de Porto Alegre – RMPA e Vale do Rio dos Sinos – VS sobre as questões relacionadas à realidade do movimento pendular a partir da pesquisa realizada em 2010.

Movimento pendular é o termo utilizado ao apontar os fluxos do quotidiano das populações entre o local de residência e o local de trabalho e/ou estudo. A tabela 01 apresenta o número de pessoas que frequentavam escola ou creche no período de realização do recenseamento, no município de residência ou não.

Constata-se que 11% das pessoas que frequentavam escola ou creche na RMPA deslocavam-se para outro município para acessar algum equipamento de educação, sendo que 829 pessoas estavam fora do país, estudando. No VS, do seu total de estudantes, 14% se deslocavam para outro município para realizar atividades estudantis e 98 pessoas residentes na região do Sinos estavam fora do país.

A tabela 02 apresenta o número de pessoas por local de exercício de trabalho principal.

Observa-se que 23,4% do total de trabalhadores residentes em algum município da região metropolitana tinham o local de exercício do trabalho fora do município de residência. Para o Vale do Sinos esse percentual é de 28,5%. Foram declaradas 485 pessoas noutro país no período de realização do censo de 2010.

A tabela 03 apresenta o tempo habitual de deslocamento do domicílio para o trabalho. Verifica-se que para a RMPA o maior percentual de trabalhadores tem tempo habitual de deslocamento de seis minutos até meia hora, 49,7% do seu total, seguido de 30% de trabalhadores com tempo habitual de deslocamento de mais de meia hora até uma hora.

Para o VS, os trabalhadores que, em sua maioria, têm tempo habitual de deslocamento de seis minutos até meia hora representam 57,6% do seu total.

Nesta mesma pesquisa foram identificados seis arranjos populacionais, onde estão concentrados 27 dos 34 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, sendo arranjo populacional a forte integração entre dois ou mais municípios. Esta integração ocorre a partir dos movimentos pendulares, que é a necessidade de sair do município de residência para a realização de atividades relacionadas a trabalho e/ou estudo, ou devido à contiguidade entre as manchas urbanizadas, que são a aproximação entre os territórios urbanos.

Observando este fenômeno a partir da regionalização COREDE Vale do Rio dos Sinos, identificam-se quatro arranjos populacionais, onde se encontram 13 dos 14 municípios da região. Apenas o município de Dois Irmãos não participa de nenhum arranjo populacional.

O geógrafo Paulo Roberto Rodrigues Soares, em entrevista concedida à IHU On-Line, destaca que "os locais de trabalho ainda estão relativamente concentrados e os serviços também, então a população ainda tem de se deslocar para as áreas onde se concentram o comércio, os serviços e os empregos".

Soares assinala a falta de conexão entre a expansão das cidades e as mudanças em mobilidade, onde, na reestruturação das metrópoles, primeiro se pensa e se executa a construção dos empreendimentos imobiliários e, depois, a mobilidade.

A mobilidade urbana foi tema da entrevista concedida à IHU On-Line, em novembro de 2013, por Carlos Henrique Carvalho, que teve como destaque as políticas que incentivam o transporte individual.

Carvalho avalia que uma política de mobilidade para o país necessita, “no mínimo, duplicar a malha metroferroviária brasileira e quadruplicar a malha de corredores exclusivos de transporte público urbano. Em termos de recursos, isso com certeza representaria, em médio prazo, um investimento de mais de 80 bilhões de reais”.

Grande Porto Alegre

O impacto das políticas de consumo de transporte individual pode ser percebido pela população gaúcha pelo número de veículos nas ruas. Em maio de 2015, foram contabilizados um pouco mais de 6 milhões de veículos no estado do Rio Grande do Sul, o que equivale a aproximadamente 1 veículo a cada 1,8 habitante. Já na região do Vale do Rio dos Sinos, até outubro de 2014 a frota havia chegado a 751.954 veículos, o que representa um aumento de 5% em relação ao ano anterior. Desta forma, há 1 veículo para cada 1,75 habitante.

O número de veículos nas ruas e o planejamento da mobilidade na Grande Porto Alegre foi argumento para o planejamento do que hoje conhecemos como Trensurb.

Em 1976, tendo como uma das justificativas a redução de fluxo de veículos na BR-116, passou a ser ideado o plano da Trensurb, tendo uma demanda inicial “prevista de 300 mil passageiros por dia” .

Atualmente o trem possui 22 estações, que estão presentes em seis municípios da RMPA: Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Porto Alegre. A atual estrutura tem a capacidade máxima de atendimento de 21.600 passageiros/hora/sentido.

No ano de 2014 a média anual de usuários diários em dia útil foi de 191.251 passageiros. As estações com maior número de usuários ao dia são: (1) Mercado, (2) Canoas, (3) Mathias Velho, (4) Sapucaia e (5) Rodoviária. Os horários com a maior movimentação de passageiros são: manhã, 05h30 - 08h30; tarde/noite, 17h30 - 20h30.

Outra ação realizada a fim de qualificar a mobilidade na metrópole foi a integração com as linhas de ônibus. Atualmente, das 1.200 linhas de ônibus existentes na RMPA, 50% estão ligadas ao trem. A média de passageiros diários na região é de 485 mil. Serviços de táxi também são oferecidos em algumas estações do trem e alguns municípios.

Algumas ações e serviços têm sido realizadas a fim de qualificar a mobilidade urbana. Diante deste, breve, cenário: estas ações e serviços são suficientes para a demanda? 

Notas:

1 – Fonte: site da Trensurb. <http://www.trensurb.gov.br/paginas/paginas_detalhe.php?codigo_sitemap=48 >. Acessado em 10 de março de 2015.

2 – As informações sobre capacidade máxima de atendimento, média anual de usuários diários em dia útil e estações com maiores fluxos são oriundas da “Central de Atendimento ao Usuário”.

3 – Fonte: site da Metroplan - Perfil dos municípios da RMPA e Aglomerados Urbanos. <.">.">http://www.metroplan.rs.gov.br/conteudo/1356/?Perfil_dos_munic%C3%ADpios_da_RMPA_e_Aglomerados_Urbanos>. Acessado em 10 de março de 2015.