Trabalho e suas interfaces foram o destaque de 2018 no ObservaSinos

  • Quarta, 2 de Janeiro de 2019

10 anos de ObservaSinos

Há dez anos, em 2008, em um cenário de crise financeira mundial a partir da queda da bolsa de valores dos Estados Unidos, Dow Jones, que foi amplamente tematizada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, juntamente com outras questões a ela relacionadas, foram realizados os primeiros movimentos de criação do Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos. O interesse de analisar temas de fronteira, com destaque para o Trabalho, ensejou a realização deste debate pelo IHU em um evento dirigido ao público do Vale do Sinos intitulado “Conversas sobre o mundo do trabalho e da vida dos trabalhadores”.

Trabalhadores, políticos e pesquisadores dos 14 municípios do Vale do Rio dos Sinos se reuniram para apresentar dados com as temáticas: trabalho formal e informal, mulheres no mercado de trabalho, educação, pessoas com deficiência (PCDs), desenvolvimento regional, entre outros. A preocupação era como a crise econômica repercutiria no emprego da região.

Nessa época o Observatório ainda não havia sido criado e, conforme a coordenadora do ObservaSinos, Marilene Maia, foram os participantes que indicaram a necessidade de um espaço para aprender a utilizar as bases de dados. “Eles indicaram a importância do acesso e análise às bases de dados, em vista de melhor subsidiar a análise e intervenção nas realidades”, conta.

Após a demanda dos trabalhadores no ano anterior, o IHU promoveu o Fórum de formação dos indicadores do Vale do Sinos. O evento também reuniu trabalhadores, gestores governamentais, lideranças e pesquisadores que debateram sobre as diferentes bases de dados públicas das esferas mundial, nacional e estadual. Ao final do ano e do fórum percebeu-se a importância de contar com um espaço para reunir e publicizar os dados dos municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre e do Vale do Rio dos Sinos

Com a ideia inicial de ser um programa do IHU voltado para o mundo do trabalho, o ObservaSinos completou seu décimo ano de atuação reunindo e promovendo a análise sobre as diferentes realidades dos 14 municípios do Vale do Rio dos Sinos, contextualizados pelos 34 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre. Uma das ações para comemorar o seu trabalho de sistematização, análise e publicização de dados sobre as realidades do Vale do Sinos foi o “Especial do trabalho Vale do Sinos”. A série histórica do ObservaSinos abordou grandes temas sobre o trabalho entre os anos de 2003 e 2016, período de grande movimentação e transição econômica, política e social no Brasil.

Confira os principais pontos da série histórica do ObservaSinos.

Especial do trabalho no Vale do Sinos

Geração e gênero

Uma das primeiras constatações do Especial do trabalho no Vale do Sinos foi o aumento da participação das mulheres, que cresceu em mais de 40%, passando de 113.366 em 2003 para 159.544 em 2016. Apesar da maior inclusão das mulheres no mercado de trabalho, a desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda persiste. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, a desigualdade foi de 28,62%, representando uma diferença de R$ 1.224,70.

Infográfico: Homens e mulheres com vínculo ativo no mercado formal do Vale do Sinos (2003-2016)

Além da desigualdade salarial, até outubro de 2018, o Vale do Sinos registrou uma média diária de 12 casos de mulheres vítimas de ameaça, 6 de lesão corporal e 1 de estupro. Ao todo, já foram registrados 5.774 casos de violência contra a mulher.

Em relação à geração, constatou-se que os jovens representavam 39,7% dos empregados em 2003; já em 2016 esse percentual passou para 30,4%. A participação daqueles que estão na faixa etária acima de 50 anos dobrou. Em 2003 era de 8,7%, passando a ser de 17,21% no ano de 2016.

Infográfico: Numero de trabalhadores do Vale do Sinos por faixa etária (2003-2016)

Deve-se destacar que não é apenas o mercado de trabalho que apresenta um maior envelhecimento. Além do estado gaúcho, o Brasil e o Vale do Sinos também apresentam envelhecimento da sociedade como um todo. A região do Vale do Sinos recebe destaque por duas tendências demográficas: a observável diminuição da população de crianças e adolescentes e o movimento ascendente da população idosa nos primeiros anos deste milênio.

Frente ao cenário de maior desemprego de jovens, 50,3% dos homicídios no Vale do Sinos envolveram essa faixa etária em 2016. Para os dados até 04 de setembro deste ano, o Rio Grande do Sul contabilizou 1.307 jovens acolhidos em unidades socioeducativas, sendo 25,7% com idade entre 12-16 anos, 32,7% com 17 anos e 41,7% entre 18-20 anos.

Preocupados com o futuro das juventudes, o ObservaSinos, professores da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha e pesquisadores da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos e da Universidade La Salle - UnilaSalle reuniram-se para organizar uma integração de trabalho entre as três instituições. A parceria vem da necessidade de investigar e prospectar os processos de educação profissional em cenários de transformação do mundo do trabalho na contemporaneidade.

Escolaridade e renda

Os dados da Rais ainda mostraram que mais de 65% dos trabalhadores não haviam completado o ensino médio em 2003. Em 2016, a realidade mudou, já que mais de 61% tinham ensino médio completo, superior incompleto e superior completo. Apesar da maior escolaridade do eleitorado da região nos últimos anos, o Vale do Sinos possui 48,53% do eleitorado com ensino fundamental incompleto. Esse corte de grau de instrução possui o maior número de eleitores e se torna uma característica comum entre os municípios do Vale do Sinos.

Infográfico: Grau de instrução dos trabalhadores no Vale do Sinos (2003-2016)

Pelo lado da renda, a participação de trabalhadores ganhando na base da pirâmide também melhorou. Entretanto, esse aumento foi apenas entre aqueles que ganhavam entre 0,5 e 1,5 salários mínimos. Em 2003 representavam 12% dos trabalhadores, passando a representar 30% no ano de 2016.

Infográfico: Número de trabalhadores por faixas de salário mínimo no Vale do Sinos (2003-2016)

Os dados concernentes à escolaridade por cor, raça e etnia no Vale do Sinos mostram que o ensino médio completo apresenta uma das maiores percentagens entre branco, preto, pardo, amarelo e indígena. Apesar de estarem próximos no nível de escolaridade, os pretos continuam sendo os que apresentam a menor média salarial na região (R$ 1.750,29), seguido dos pardos R$ 1.905,54, amarelos R$ 2.029,75 e brancos R$ 2.267,94.

Em 2003, esses trabalhadores estavam em ocupações relacionadas à produção de calçados. Já no ano de 2016, a profissão que teve mais trabalhadores foi a de vendedor do comércio varejista. A maioria das profissões que cresceram na região estão ligadas ao comércio e serviços, como armazenista, assistente administrativo e técnico de enfermagem. As profissões que perderam espaço estão ligadas à indústria de calçados, como preparador de calçados, acabador de calçados e trabalhador polivalente da confecção de calçados.

Saúde e segurança

Os setores que tiveram maiores acidentes de trabalho foram justamente ligados ao comércio e serviços. As atividades de atendimento hospitalar foram as que tiveram maior ocorrência, (12,9%) e comércio varejista de mercadorias em geral teve 6,2% dos acidentes. Os acidentes de trabalho foram, em sua maioria, decorrentes de três tipos de lesões: corte, laceração, ferida contusa e punctura (25%); fratura (21%), contusão e esmagamento (20%).

Em 2003 no Vale do Sinos, foram registrados 5.237 acidentes de trabalho, 18 em cada mil trabalhadores sofreram um acidente de trabalho no ano. Em 2016, a taxa de acidentes foi de 15 a cada mil trabalhadores, totalizando 5.346 acidentes de trabalho na região. Ou seja, foram em média 14 acidentes de trabalho por dia no ano de 2016.

Infográfico: Quantidade de acidentes de trabalho no Vale do Sinos (2003-2016)

Na região, 91,8% dos estabelecimentos de trabalho possuem 19 empregados ou menos, tendo em vista que são ligados a comércio e serviços. Os dois setores representaram 73% dos estabelecimentos em 2016, sendo que o primeiro aumentou em 37% entre 2003 e 2016 e o segundo, em 50,1% no mesmo período. Quando isso ocorre, a empresa não é obrigada a ter Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, representação dos trabalhadores que tem o compromisso na prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho.

Outra questão que poderá afetar a saúde e segurança do trabalhador foi o fim da parceria de Cuba com o Mais Médicos no Brasil. Só em 28 municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre eram 180 médicos de Cuba. Novo Hamburgo, que ajudou a eleger Jair Bolsonaro, dando 75,5% dos votos válidos, será o mais afetado pelo fim da parceria, pois contava com 21 médicos cubanos, número maior que o de Porto Alegre, que possuía 15 profissionais do país.

O Ministério da Saúde ainda divulgou em dezembro de 2018 um novo levantamento dos municípios brasileiros que estão em situação de alerta ou risco para o surto para doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. O ObservaSinos constatou que, na Região do Sinos, seis municípios estão em situação de alerta de surto de dengue, zika e chikungunya, enquanto outros seis estão em situação muito baixa ou inexistente.

2018 - O ano dos 10 anos do ObservaSinos

(Arte: Lucas Schardong)

Em 2019

Para 2019, o ObservaSinos está planejando seminário, oficinas e ciclo de estudos e debates com destaque para saúde, educação, segurança, meio ambiente, trabalho, proteção social e renda. As temáticas escolhidas têm relação com a Campanha da Fraternidade de 2019, cujo tema propõe o debate sobre as Políticas Públicas e tem como inspiração “serás libertado pelo direito e pela justiça”.

Destacam-se também o IX Seminário Observatórios, promovido pela Rede de Observatórios Sociais, que terá por objetivo analisar esses grandes sete temas a partir do novo governo empossado em 2019; as oficinas, que devem tematizar diferentes articulações como o acesso à base de dados, permitindo o controle das políticas públicas; e a Ecofeira Unisinos, a qual continuará no campus Unisinos São Leopoldo, e suas atividades culturais, mantendo-se como um espaço que busca proporcionar uma alimentação saudável junto à comercialização justa e ao consumo consciente.

Assim como foi feito em 2018, o ObservaSinos pretende ampliar a participação nos cursos de Economia, Jornalismo e Serviço Social, só que também nos cursos do campus da Unisinos Porto Alegre. A partir da parceria com os três cursos, foi possível ampliar o Especial do trabalho para Porto Alegre. A parceria com os cursos ainda possibilitou a publicação de dois artigos no site do ObservaSinos: “Faixas salariais e mercado de trabalho no Rio Grande do Sul” e “Disparidades salariais entre homens e mulheres no mercado de trabalho gaúcho”.

A programação de 2019 do ObservaSinos estará disponível em breve aqui.

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