Mostra do ObservaSinos “De Olho no Vale” - Ações e reações

  • Sexta, 21 de Fevereiro de 2014

A “Mostra do ObservaSinos: De Olho no Vale” foi uma ação desenvolvida pelo Observatório da realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, em 2013, que apresentou, online e off-line, 16 banners com diferentes indicadores socioeconômicos dos municípios do Conselho Regional de Desenvolvimento - Corede Vale do Rio dos Sinos.

Avalia-se que esta ação atingiu seus objetivos, os quais foram: (1) tornar públicos os indicadores do Vale em diferentes espaços e junto a diferentes grupos e organizações; (2) apresentar o ObservaSinos como ferramenta de in-formação sobre a realidade; (3) promover a análise e o debate sobre a realidade apresentada.

A Mostra ocupou diversos espaços públicos da região. Primeiramente, os banners ficaram expostos em diferentes espaços no campus Unisinos e no Centro de Cidadania e Ação Social - CCIAS, em São Leopoldo. Acadêmicos, professores e funcionários foram convidados, por veículos de comunicação da Universidade, a analisar a realidade apresentada.

No período em que os banners foram expostos no Saguão do Centro 1 da Unisinos, espaço da Escola de Humanidades, a Profa. Clair Ribeiro Ziebell, junto com seus alunos da atividade acadêmica “Seminário Temático de Gênero, Classe e Etnia”, do curso de Serviço Social, analisaram a realidade ali apresentada.

O grupo reconheceu a importância da Mostra como uma atividade complementar à sala de aula, que apresenta desafios à formação profissional: “ensejou um esforço, dentro dos limites de sala de aula, para uma aproximação mais atenta em relação aos dados expostos, enquanto docente e estudantes atuando no campo das políticas sociais públicas, cuja profissão tem como um dos princípios ético-políticos a construção de um novo projeto societário sem dominação-exploração de classe, gênero e etnia”.

Os acadêmicos apontaram que a Mostra desempenhou um papel importante e “é exemplo de ação que pode fomentar, no espaço geográfico de alcance, o monitoramento das políticas públicas pelos gestores das mesmas” e que a democratização da informação pela publicização é “essencial para o controle social, para que a sociedade civil possa estabelecer relações entre os indicadores e o vivido, construindo uma visão objetiva e subjetiva da realidade”.

As mudanças demográficas na região foram percebidas e avaliadas pelos acadêmicos, os quais destacaram “o crescimento populacional no Vale do Sinos, que em dez anos foi de 8%, sendo que a maior parte da população dos municípios da região concentra-se em áreas urbanas: 97,9%.” Enfatizam ainda a questão geracional, quando entre 1980 e 2010 houve a redução de 9% da população com até 14 anos de idade, havendo o inverso em relação a pessoas acima de 65 anos, com um crescimento de 2,9% em relação ao Censo de 1980”.

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Através dos banners também foi possível perceber o crescimento da população idosa na região e, devido a esta mudança, a necessidade de planejamento de “políticas públicas efetivas no sentido de atender às demandas que advêm desse segmento populacional”. Relacionando o aumento da população idosa ao crescimento da expectativa de vida, os alunos enfatizam a necessidade de reflexão “sobre as mudanças em curso na previdência social na última década, entre elas a prorrogação da idade mínima para fazer jus à aposentadoria, o fator previdenciário, a desvalorização dos benefícios e salários, até a reivindicação de direito à (des)aposentação, debate ainda atual”.

    

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A relação de trabalho, emprego e desemprego apresentada foi avaliada por uma estudante, a qual apontou o “grande número de demissões de mulheres na cidade de São Leopoldo, que registra 237 demissões do sexo masculino e 1039 do sexo feminino entre os anos de 2010 e 2011. A partir desse dado, as estudantes questionaram o porquê disso. O que acontece que as mulheres não conseguem se manter no emprego? Será devido às demais funções que as mulheres exercem (mãe, dona de casa, chefe de família e cuidadora dos filhos, dos pais ou de outras crianças)?”.

A turma destaca ainda que “há diversos fatores por trás destas demissões que devem ser explicitados e analisados. Como demonstrativo social, aponta quantitativamente para a realidade; o desafio é a análise qualitativa e numa perspectiva de totalidade, superando os indicadores locais, cujos dados devem ser desvelados na sua complexidade e ainda impulsionar a construção de alternativas para o seu enfrentamento”.

    

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Em relação aos dados apresentados na Mostra sobre violência contra mulheres, os/as estudantes “ressalvam que o dado se reveste de maior importância quando estudos locais e nacionais analisam que a grande maioria das mulheres que sofre violência (psicológica, moral, sexual, física) ainda não denuncia a violência doméstica, não registrando a ocorrência na delegacia da mulher (BO), e menos ainda procura algum serviço especializado na área”. As alunas fazem referência a “uma análise mais abrangente, em que se estima que os indicadores são bem maiores do que os registros oficiais. Assim, mesmo na vigência da Lei Maria da Penha, que protege as mulheres, preocupa-nos os registros de violência social e institucionalizada, exigindo, especialmente dos movimentos de mulheres, mas também ao conjunto da sociedade, o exercício do controle social permanente das políticas e ações locais, regionais e nacional, como, por exemplo, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, o orçamento público respectivo e a publicização que garanta a transparência necessária para a cidadania”.

O alto número de casos de AIDS na região também foi objeto de reflexão. Uma acadêmica destacou “o aumento de mulheres infectadas, fato que já vem sendo observado por estatísticas há mais tempo, quase em paridade com a contaminação masculina. Outra relação a fazer é com o impacto no comportamento das gerações mais longevas, com o aumento da expectativa de vida e maior informação sobre direitos sexuais e reprodutivos, aliados a conquistas de maior independização da sexualidade. Se na ‘terceira idade’, também chamada por alguns estudiosos de ‘melhor idade’, estão libertas do risco de gravidez, por outro lado, são expostas a doenças sexuais transmissíveis, entre elas o HIV, cujos indicadores, quando decompostos, alertam para a vulnerabilidade crescente das pessoas dessa faixa etária”.

Outra acadêmica, a partir dos mesmos dados, recordou que a percepção “dessas questões que envolvem os direitos sexuais e reprodutivos e os demais indicadores se transformam em demandas postas para o exercício profissional das/os assistentes sociais, requerendo uma ação efetiva nesses campos que incidam na transformação local e mais ampla da sociedade”. A mesma estudante apontou que o Observatório “tem o compromisso com a disseminação da informação e com a formação da população e de lideranças locais para análise da realidade, construção e controle social das políticas públicas e protagonismo nos processos de transformação social” (IHU/Folder ObservaSinos); o serviço social também tem esse compromisso, fundamentado nos valores e princípios ético-políticos (Código de Ética e Lei de Regulamentação da Profissão, 1993). A estudante teve um olhar mais atento para os indicadores que dizem respeito à qualidade de vida da população, entendendo que “todo ser humano deveria ter condições dignas de sobrevivência, ou pelo menos ter suas necessidade básicas atendidas, condição necessária, mas insuficiente para a transformação social almejada”.

A turma apontou ainda, a partir do conjunto de ideias que surgiram, “que os diversos indicadores expostos na mostra e tantos outros que expõem as contradições societárias ainda muito presentes, num primeiro momento, vistos isoladamente, parecem não possuir ligação entre si, porém, na perspectiva de totalidade que defendemos, veremos que as várias questões estão relacionadas”.

Os indicadores apresentados nos banners, para o grupo, “anunciam que estamos longe de uma sociedade justa e igualitária, sendo que as causas são múltiplas e têm suas raízes na questão social posta pelo capitalismo, cujas expressões se agravam com as crises que se acumulam, especialmente no Brasil a partir dos anos 1980, com a agenda neoliberal de ‘estado mínimo’ para as políticas sociais, porém, máximo para o capital”.

A turma refletiu sobre as provocações apresentadas ao final de cada banner através das perguntas: O que fazer com essa realidade? O que fazer para mudar esta realidade? E o que fazer para transformar esta realidade?

Ao refletir sobre as diferentes perguntas que indagam a realidade no conjunto dos indicadores sociais, entendem que “transformá-la” é a resposta.

A “Mostra do ObservaSinos: De Olho no Vale” no espaço da Universidade apontou limites, possibilidades e perspectivas sobre os indicadores da região, seu acesso e análise. O debate que ocorreu com os diferentes sujeitos neste espaço indicou a potência desta ação que apresenta uma relação direta com a exigência do protagonismo dos cidadãos da região do Sinos.

Para além da Universidade, a Mostra ocupou diferentes espaços públicos no município de Esteio, no Saguão da Prefeitura Municipal e da Câmara de Vereadores, assim como no Centro Municipal de Educação Básica Oswaldo Aranha. A exposição dos banners e a equipe do ObservaSinos se fez presente no Seminário da alta cúpula da gestão municipal para construção do plano plurianual do município – PPA”.

Os indicadores expostos nos banners serviram para provocar o debate sobre a realidade e as políticas públicas do município de Esteio e sua relação com os demais municípios da região. Apontaram também o reconhecimento da importância da organização dos dados, da informação, para a qualificação do planejamento, monitoramento e controle social das políticas públicas.

O Colégio Estadual Senador Alberto Pasqualini, em Novo Hamburgo, também acolheu a Mostra e a equipe do Observatório, que realizou dois encontros com as turmas de Ensino Médio. A partir da exposição dos indicadores, os alunos analisaram questões relacionadas especialmente ao trabalho juvenil e à mobilidade urbana.

Os banners subsidiaram o debate sobre a realidade do município e da região nas aulas de Sociologia. Esta tematização com os alunos anunciou o reconhecimento da necessidade da construção de indicadores e a importância destes para a construção de uma sociedade menos desigual.

O Colégio Luterano Concórdia, em São Leopoldo, também acolheu a Mostra. As turmas do 6º ano e das 7ª séries, na aula de Geografia, utilizando os banners fornecidos pelo ObservaSinos – IHU, desenvolveram uma atividade com dois objetivos: (1) avaliar a habilidade de leitura e interpretação de informações estatísticas e (2) aproximar o aluno de sua realidade local, onde atua, ou irá atuar, como ser político e cidadão.

A coordenação da atividade desenvolvida na escola relata que esta foi realizada “em trios para os alunos do 6º ano e individual para os das 7ª séries, na qual os alunos receberam folhas sobre a atividade e foram encaminhados ao saguão para a sua realização. Em geral, o resultado foi satisfatório. Os alunos demonstraram habilidade de leitura dos dados e alguns se impressionaram com as informações apresentadas, como o alto índice de casos de AIDS e a média de mortes em acidentes de trânsito”.

A equipe do ObservaSinos visitou a exposição no colégio e teve o retorno das turmas dos 2º e 3º anos, que trabalharam a partir dos banners com informações sobre o destino do lixo dos domicílios e o número de veículos na região.

As turmas apresentaram os seus feitos para a equipe do ObservaSinos. As crianças confeccionaram cartazes sobre a importância do destino do lixo e destacaram a “grande quantidade de carros na região” e o “número de crianças fora da escola”.

A última exposição dos banners neste ano ocorreu durante o III Seminário Observatórios, Metodologias e Impactos nas Políticas Públicas: Estado, Sociedade, Democracia e Transparência.

A “Mostra do ObservaSinos: De Olho no Vale” confirmou a importância do Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos como uma ferramenta de in-formação para a cidadania na região e municípios. Com isso, o Programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU segue o seu propósito para 2014, que é “sistematizar e publicizar os indicadores socioeconômicos e ambientais, promovendo o debate e a análise da realidade do Vale do Rio dos Sinos, em vista do fortalecimento do protagonismo cidadão na implementação, monitoramento, avaliação e controle social de práticas e políticas afirmadoras da sociedade sustentável”.

Ações 2014

A “Mostra do ObservaSinos: De Olho no Vale” segue em exposição online no sítio do Instituto Humanitas Unisinos - IHU. O conteúdo das Oficinas e Seminários realizados pela equipe do Observatório e seus parceiros está disponível no artigo “Aconteceu”, e a programação 2014 pode ser conferida na aba “Vai acontecer”.

Análises produzidas nas mais diferentes temáticas sobre a realidade dos 14 municípios do COREDE Vale do Rio dos Sinos estão disponíveis na seção “De olho no Vale”.

Acesse a página do ObservaSinos – IHU.

Por Marilene Maia e Átila Alexius