11 mil idosos morrem por doenças crônicas na Região Metropolitana de Porto Alegre

  • Quarta, 1 de Abril de 2020

Há duas semanas, no dia 17 de março, o governo do Rio Grande do Sul projetou que o estado poderia ter 3,5 mil infectados pelo novo coronavírus (Covid-19), caso o número fosse no mesmo ritmo da Coreia do Sul, Itália e Irã. Tudo indica que o Rio Grande do Sul seguirá o ritmo do Japão, já que alcançou quase 300 infectados em 20 dias. Observa-se que o coronavírus atinge com prevalência a população idosa, que tem a saúde mais vulnerável, agravada ainda por outras doenças crônicas.

Diante deste cenário e com o objetivo de ampliar os dados para a análise da realidade do coronavírus e seus desafios para o Estado, a sociedade e as políticas públicas, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, analisa os dados da mortalidade ocasionada por doenças crônicas na população de risco da Região Metropolitana de Porto Alegre no período de 2007 a 2017, a partir dos dados públicos do Ministério da Saúde.

Grupo de risco

Até ontem, o Brasil registrou 201 mortes decorrentes do Covid-19. Em relação ao perfil das pessoas que faleceram, 40,4% eram mulheres e 59,6% eram homens. Segundo o Ministério da Saúde, 90% das mortes aconteceram com pessoas acima de 60 anos, e as doenças crônicas mais associadas nos casos foram as do aparelho circulatório, respiratório e diabetes

Em coletiva realizada nesse mesmo dia, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, destacou que a população idosa não vive numa cápsula, por isso a importância do isolamento social de toda a população. Esta afirmação é ilustrada pelos dados da Região Metropolitana de Porto Alegre, que em 2015 reunia cerca de 1.595.000 famílias. As pessoas com 60 anos ou mais representavam 27% dos membros das famílias. Este dado comparado com o início da série histórica, que foi em 2001, mostra que as famílias com pessoas a partir de 60 anos de idade aumentaram 79% nos últimos anos.

Esse aumento confirma a realidade de envelhecimento populacional acelerado no Rio Grande do Sul em relação ao Brasil. Na última divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, comparando os dados de 2019 com 2010 (último Censo Demográfico), a população da Região Metropolitana de Porto Alegre cresceu 5,2%, o Brasil 9,2%, enquanto o Rio Grande do Sul, 4,1%.

Pode-se também constatar, de acordo com os dados do Departamento de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul - DEE, que a população do Rio Grande do Sul na faixa etária acima de 60 anos apresentou um aumento de 61,4% nos últimos 15 anos. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, a população acima de 60 anos representava 665.615 pessoas, ou seja, 15,5% da população em 2017.

Infográfico: Percentual da população da Região Metropolitana de Porto Alegre por faixa etária em 2017

Mortalidade por doenças crônicas 

No ano de 2017, 13.163 pessoas morram por doenças do aparelho respiratório, circulatório e diabetes. Destes casos, 7.977 mortes por doenças do aparelho circulatório (acidente vascular cerebral, hipertensão, insuficiência cardíaca, entre outras) e 3.689 por doenças do aparelho respiratório (bronquite, enfisema, asma, entre outras). Além desses dois tipos de complicações, os diabéticos também estão dentro dos grupos de risco da Covid-19, registrando 1.497 mortes.

Infográfico: Mortalidades de doenças selecionada na Região Metropolitana de Porto Alegre de 2007 e 2017

A faixa etária com a maior mortalidade desses três tipos de doenças crônicas está entre pessoas acima de 60 anos representando 84,2% (11.086) dos casos (13.163). Nas doenças do aparelho circulatório, a população de 60 a 69 anos foram 1.620 mortes, de 70 a 79 anos foram 2.071 e de 80 anos e mais foram 2.993 mortes, totalizando dentro dessa faixa etária  (acima de 60) 6.684 mortes no ano de 2017.

As doenças do aparelho respiratório se apresentam totalizando 3.161 mortes com a população acima de 60 anos. O grupo entre 60 e 69 anos teve 636 mortes, de 70 a 79 anos foram 947 e de 80 anos e mais foram 1.578 mortes, assim, representado 86% das mortes por aparelho respiratório em 2017.

Apesar do número de mortos por doenças do aparelho respiratório ser menor em relação à quantidade de mortes por doenças do aparelho circulatório, o percentual de casos de mortes por complicações respiratórias é maior do que o das doenças do aparelho circulatório, entre esses grupos acima de 60 anos.

No caso dos diabéticos, foram 378 mortes com a população acima de 60 e 69 anos na Região Metropolitana de Porto Alegre. Na faixa entre 70 e 79 anos ocorreu 434 mortes, de 70 a 79 anos foram e 80 anos e mais foram 429, representando 82,9% dos casos de mortes dos diabéticos. 

Infográfico: Faixa etária de mortalidades selecionadas na Região Metropolitana de Porto Alegre em 2017 

Sabe-se que os dados da mortalidade são insuficientes para indicar a totalidade da população de risco exposta à Covid-19 na Região Metropolitana de Porto Alegre, já que atinge 1,6% da população. Entretanto, é importante considerar que esta mortalidade, que acontece especialmente nos meses do inverno, poderá impactar em números da população atingida pela Covid-19, assim como nos processos de tratamento e enfrentamento ao coronavírus.

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