Por: André | 27 Junho 2016
“Em nome de Deus, quero que me abençoe, a mim e a Igreja católica, que abençoe esta caminhada rumo à plena unidade”. Não fez homilia, uma vez que se tratava da Divina Liturgia e o ato correspondia a Karekin, mas em suas palavras Francisco lançou um novo desafio a todos os cristãos, que o Catholicos recolheu com um abraço e três beijos e as dezenas de milhares de assistentes na praça da catedral apostólica de Erevan, com um prolongadíssimo aplauso.
Fonte: http://bit.ly/28WnymU |
A reportagem é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 26-06-2016. A tradução é de André Langer.
A liturgia armênia é sumamente carregada. Em muitos aspectos, recorda a liturgia da Igreja católica anterior ao Concílio Vaticano II. Estrita, quase barroca, o Papa Francisco e Karekin percorreram, sob pálio, o percurso procissional até a catedral apostólica armênia, na que participaram da Divina Liturgia, o maior ato que, até a presente data (e até que não se alcance a plena comunhão) podem realizar os dois líderes de ambas as Igrejas.
Ao contrário do sábado, na manhã deste domingo o Papa ocupava um discreto segundo lugar, e era Karekin quem avançava abençoando, tanto à direita como à esquerda, as dezenas de milhares de pessoas que se aglomeravam na praça da catedral. Muitas delas usando bonés, chapéus ou guarda-chuvas para se proteger do forte sol armênio.
À chegada de Francisco ao altar, tomou sua estola e, como já fizera Karekin no sábado, durante a missa em Guiumri, o Papa colocou-se à esquerda deste, junto com a comitiva papal. O peso da liturgia apostólica armênia o levava, como não podia deixar de ser, o Catholicos. Um novo gesto de humildade e profundo respeito ecumênico de Bergoglio que, certamente, incomodará os católicos romanos mais ortodoxos.
A imagem da Divina Misericórdia presidia o altar, onde Karekin, após abençoar o mesmo, convidou Francisco para subir até ali, a fim de prosseguir a liturgia. Bergoglio cedeu o passo ao patriarca, que correspondeu com um sorriso e uma leve inclinação. O respeito e a amizade são as principais chaves para que, aqueles que professam o mesmo Deus, possam fazê-lo em um futuro breve como iguais, deixando para trás obscuras divisões e olhando para o futuro com esperança.
O lugar onde foram celebrados os ritos, assim como a própria Armênia, está bem iluminado, aberto, com a sensação de ser uma Igreja em construção. E resta muito a ser feito, inclusive no primeiro povo a declarar-se cristão. A cerimônia transcorre lentamente, entre cânticos e constantes aspersões de sacerdotes armênios. O altar está situado junto à parede, de modo que boa parte da celebração transcorre de costas para o povo.
Em suas orações, os apostólicos armênios pedem por Francisco, pela paz e pelo caminho comum empreendido rumo à unidade dos cristãos, pela memória e pelo povo armênio. Durante a sua homilia, Karekin agradeceu ao Papa sua “coragem e amizade”, que, sem dúvida, irão representar um antes e um depois, tanto para as relações intercofessionais, como para o futuro da Armênia no contexto internacional. Após a homilia, ambos, Papa e Catholicos, se deram um abraço, e Karekin pediu ao Papa para que dissesse umas breves palavras.
Nas mesmas, Francisco agradeceu pela visita. “Vossa santidade me abriu as portas da sua casa, e experimentamos ‘como é agradável habitar todos juntos, como irmãos’”.
“Encontramo-nos, abraçamo-nos, rezamos juntos, compartilhamos os dons, as esperanças e as preocupações da Igreja de Cristo, da qual compartilhamos o batismo do coração e que sentimos una”, proclamou Bergoglio, que clamou por “um só corpo e um só espírito, assim como uma só a esperança. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos”.
“Que o Espírito Santo faça dos crentes um só coração e uma só alma; venha refundar-nos na unidade”, acrescentou o Papa, que pediu que “a Igreja armênia caminhe em paz e a comunhão entre nós seja plena”.
Ao mesmo tempo, Francisco pediu que “tenhamos os ouvidos abertos às jovens gerações, que desejam um futuro livre das divisões do passado”. E neste contexto exortou para que se difunda novamente uma luz radiante; a da fé, uma luz do amor que perdoa e reconcilia.
Antes da Divina Liturgia, o Papa Francisco teve um breve encontro com os bispos católicos armênios no Palácio Apostólico de Erevan. Embora o peso da viagem esteja marcado pelas relações católico-apostólico armênios, Francisco não quis deixar de encorajar o trabalho silencioso dos três bispos, 27 sacerdotes e oito religiosos que pastoreiam esta pequena Igreja de 280 mil fiéis.
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“Em nome de Deus peço-lhe que me abençoe, a mim e a Igreja católica, que abençoe esta caminhada rumo à plena unidade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU