Presenças, ausências e surpresas do próximo Sínodo

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Por: André | 18 Setembro 2015

Quem está e quem não está entre os padres sinodais escolhidos pessoalmente pelo Papa Francisco. Entre os excluídos está o cardeal Antonelli. A Bélgica e a Grécia estão estranhamente supra-representadas. Uma nova ordem dos trabalhos, sem o relatório intermediário.

A reportagem é de Sandro Magister e publicada por Chiesa.it, 17-09-2015. A tradução é de André Langer.

Poucos dias antes da sua viagem a Cuba e aos Estados Unidos, o Papa Francisco completou com 45 nomes de sua escolha a lista de participantes do Sínodo sobre a Família que começará no dia 4 de outubro.

O sínodo durará três semanas. E Francisco já antecipou – em uma entrevista concedida a Aura Vistas Miguel, da rádio portuguesa Renascença – que “se discutirá um capítulo por semana”, dos três capítulos em que está subdividido o documento preparatório.

Em consequência, não haverá desta vez nenhuma “Relatio post disceptationem” na metade dos trabalhos, após uma primeira fase de discussão livre sobre todos os assuntos, como no sínodo de outubro passado.

Também não haverá desta vez uma mensagem final, dado que não há mais, como no passado, uma comissão encarregada para sua redação. No ano passado, esta comissão era encabeçada pelo cardeal Gianfranco Ravasi e Víctor Manuel Fernández, reitor da Pontifícia Universidade Católica Argentina. Este último, íntimo de Jorge Mario Bergoglio, faz parte dos 45 escolhidos pessoalmente pelo Papa, mas já não com um papel particular.

Também não há, como nos sínodos anteriores a 2014, uma comissão para dirimir as controvérsias.

O secretário geral, Lorenzo Baldisseri, o secretário-especial, Bruno Forte, o relator geral, Peter Erdò, e os quatro presidentes delegados, André Vingt-Trois, Antonio G. Tagle, Raymundo Damasceno Assis e Wilfried Fox Napier são os mesmos de 2014.

Pelo contrário, mudam em notável medida em relação a sessões anteriores os participantes do Sínodo que representam as respectivas Conferências Episcopais. Seus nomes já foram divulgados nos meses passados, em ordem de votação e indicando também os suplentes. Quatro destes entraram efetivamente como titulares nas representações da Croácia, Guiné, Cuba e México.

Na lista estão também aqueles que participam do Sínodo em razão do cargo que ocupam, ou seja, os dirigentes das diversas Igrejas católicas orientais e os presidentes dos dicastérios da cúria romana.

Entre estes últimos, ao ter perdido o posto, não estão mais os cardeais Zenon Grocholewski e Raymond Leo Burke. A ausência de Burke é uma ausência particularmente destacada. Burke era e é um dos defensores mais resolutos da doutrina e da pastoral tradicional do matrimônio. O Papa aposentou-o depois do Sínodo de 2014 e agora houve todos os cuidados para não incluí-lo entre os 45 padres sinodais nomeados por ele.

Eles são alguns a mais que os 26 do ano passado. Alguns dos novos Francisco escolheu dentre os suplentes das votações das Conferências Episcopais. Este é o caso, por exemplo, do neozelandês John Atcherley Dew, criado cardeal por ele, e do estadunidense Blase J. Cupich, promovido por ele a arcebispo de Chicago, ambos membros ativos da ala progressista.

Outro que o Papa pescou dentre os suplentes é o bispo de Gand, Lucas Van Looy. Com ele os representantes do Sínodo da minúscula e frágil Igreja belga se elevam para três, todos expoentes de ponta da ala progressista e opositores ao seu primaz, o arcebispo de Malinas-Bruxelas, André Léonard, a quem o Papa Bergoglio nunca quis fazer cardeal e também não incluiu agora entre os padres sinodais nomeados por ele.

Os outros representantes da Igreja belga são o bispo de Amberes, John Jozef Bonny, durante anos estreito colaborador do cardeal Walter Kasper e de tendência ainda mais reformista que ele, eleito pelos bispos de seu país, e o ultraoctogenário cardeal Godfried Daneels, nomeado pessoalmente por Bergoglio, de quem, em 2013, foi grande eleitor antes de entrar na Capela Sistina.

Outra Igreja nacional supra-representada é a da Grécia, país no qual os católicos são muito poucos.

Ao representante escolhido, Fragkiskos Papamanolis, bispo emérito de Syros, o Papa quis agregar a Ioannis Spiteris, arcebispo de Corfú, Zante e Cefalônia, precisamente dessas ilhas em que, no século XVI, o Concílio de Trento, segundo discutível opinião da revista La Civiltà Cattolica, teria admitido as segundas núpcias também para os católicos, prática comum entre os ortodoxos.

Entre suplentes dos respectivos países figuraram também personalidades de primeiro nível da ala conservadora, como o estadunidense Salvatore J. Cordileone, o nigeriano Ignatius Ayau Kaigama, o francês Olivier de Germay, o argentino Héctor Rubén Aguer, o peruano José Antonio Eguren Anselmi, o austríaco Klaus Küng e o espanhol Juan Antonio Reig Plá.

Francisco não pescou nenhum destes para figurar entre os padres Sinodais nomeados por ele.

Mas a ausência mais clamorosa da lista dos 45 é, talvez, a do cardeal Ennio Antonelli, uma autoridade na matéria tratada pelo sínodo, presidente durante cinco anos do Pontifício Conselho para a Família e organizador de dois encontros mundiais que precederam o atual da Filadélfia: na Cidade do México, em 2009, e em Milão, em 2012.

Nos últimos meses, Antonelli alertou para a desvalorização do sacramento do matrimônio produzida, na sua opinião, por certas propostas reformadoras.

Mas, evidentemente, não conseguiu avanços no Papa, que preferiu nomear outro veterano da matéria, mas muito mais complacente, o cardeal Dionigi Tettamanzi, a quem recentemente Francisco encarregou o estudo da anunciada nova congregação vaticana para “os leigos, a família e a vida”.

Além de Antonelli, outros 17 cardeais se pronunciaram recentemente em defesa da doutrina da fé e da pastoral tradicional do matrimônio, em dois livros coletivos publicados este mês em várias línguas.

Mas destes apenas seis farão parte do sínodo, dos quais apenas dois são convidados pelo Papa: os cardeais Carlo Caffarra, italiano, e Philippe N. Ouédraogo, de Burkina Faso.

Dos outros, três entrarão na aula por direito do cargo em razão dos papéis que desempenham: o guineano Robert Sarah, o indiano Baselios Cleemis Thottunkal e o etíope Berhaneyesus D. Souraphiel. E um porque foi escolhido pelos bispos de seu país: o venezuelano Jorge Urosa Savino.

Além dos padres sinodais, na próxima assembleia estarão presentes também dezenas de pessoas sem direito a voto, como colaboradores do secretário-especial, como auditores, como delegados das Igrejas cristãs não católicas.

Entre os 23 colaboradores de dom Bruno Forte apenas seis exerceram esta função também na sessão anterior do sínodo: os padres Bruno Esposito, Maurizio Gronchi, Sabatino Majorano, Georges Henry Ruyssen e o casal Francesco e Giuseppina Miano.

Todos os outros são novos. E entre eles está, pela primeira vez, ao menos um expoente do Pontifício Instituto João Paulo II para estudos sobre o matrimônio e a família, incrivelmente excluído até aqui: o vice-presidente José Granados.

Na lista também aparece Lucetta Scaraffia, ex-professora de História Contemporânea na Universidade La Sapienza de Roma e coordenadora de “Donne Chiesa Mondo”, o suplemento mensal do L’Osservatore Romano.

Também está na lista o padre copta Garas Boulos Garas Bishay, pároco de Maria Rainha da Paz, a paróquia de Sharm el Sheikh construída graças ao apoio de Suzanne Thabat, a esposa cripto-católica do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak.

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