Por: André | 28 Julho 2015
“Aproxima-se o momento em que vai se pedir ao Papa para que se pronuncie sobre assuntos como o divórcio, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o modelo de família que a Igreja quer, a educação dos filhos e outros similares. Assuntos sobre os quais, na Igreja e na sociedade, abundam os cristãos (e não cristãos) que têm posturas firmemente assumidas de forma inamovível e inclusive não isentas, talvez, de fanatismo. Por isso, disse (e repito) que ao Papa Francisco aguarda-lhe uma ‘ottobrata romana’ que não será necessariamente prazerosa e fácil.”
A análise é de José María Castillo, teólogo, e publicada no seu blog Teología sin Censura, 26-07-2015. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
Do jeito que as coisas estão na Igreja, o mais provável é que o Papa Francisco tenha um próximo mês de outubro complicado. Pela simples razão de que, como todos sabem, em outubro completa-se e encerra-se o Sínodo sobre a Família. Um tema eivado de dificuldades, em torno do qual vão se debater problemas tão complicados como o divórcio, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o modelo de família que a Igreja quer, a educação dos filhos, etc., etc.
Além disso, e esta é a parte mais complicada, aproxima-se o momento em que vai se pedir ao Papa para que se pronuncie sobre assuntos como esses que acabo de indicar e outros similares. Assuntos sobre os quais, na Igreja e na sociedade, abundam os cristãos (e não cristãos) que têm posturas firmemente assumidas de forma inamovível e inclusive não isentas, talvez, de fanatismo. Por isso, disse (e repito) que ao Papa Francisco aguarda-lhe uma “ottobrata romana” que não será necessariamente prazerosa e fácil.
Sendo assim – e para acabar de complicar a situação –, Francisco publicou recentemente a Bula Misericordiae Vultus, na qual (no n. 3) afirma literalmente: “Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a ter misericórdia”. Por que precisamente neste momento necessitamos muito mais ter misericórdia?
Em não poucos ambientes eclesiásticos, concretamente na cúria romana, há quem suspeite de que o Papa afirma que agora necessitamos (vamos necessitar) de grandes doses de misericórdia, porque é quando a suprema autoridade da Igreja vai nos dizer coisas sobre a família que alguns (possivelmente) não estão dispostos a ouvir e, menos ainda, a aceitar.
Não pode ter misericórdia quem não tem respeito, tolerância e compreensão para com quem pensa e vive de maneira que produz, em outras pessoas ou grupos humanos, repugnância e vergonha, os dois sentimentos que tanto nos afastam uns dos outros. E até criam conflitos uns com os outros. Dois sentimentos tão determinantes na vida, que, como todos sabem, o pensamento liberal americano considera que, caso não se supera a repugnância e a vergonha, não é possível alcançar a igualdade entre os cidadãos (Martha C. Nussbaum).
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Misericórdia e família - Instituto Humanitas Unisinos - IHU