A revista La Civiltà Cattolica dedica um número à encíclica “verde” do Papa Francisco

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Por: André | 15 Junho 2015

O último número da La Civiltà Cattolica, a histórica revista dos jesuítas italianos, estará inteiramente dedicado aos principais temas da próxima encíclica do Papa Francisco: desde o cuidado da Criação até a crise ecológica planetária e suas consequências dificilmente previsíveis. Mas, nos diversos artigos do próximo número também encontram espaço as possíveis respostas virtuosas que povos, governos, Igreja, demais religiões e indivíduos em geral podem dar, com seus comportamentos, para construir um novo equilíbrio entre todos os seres vivos. Está em jogo não apenas a mudança climática, mas muito mais: a relação entre “a ecologia e o destino humano”.

A reportagem é de Francesco Peloso e publicada por Vatican Insider, 11-06-2015. A tradução é de André Langer.

Há muitas referências científicas e dados macroeconômicos nos diferentes textos do “número verde” da La Civiltà Cattolica, e todos eles estão acompanhados de reflexões de natureza teológica, espiritual, sobre a necessidade do diálogo inter-religioso neste terreno, em particular com o hebraísmo e o islã; estão acompanhados também de reflexões sobre o magistério dos últimos Pontífices (desde Paulo VI até Francisco) e sobre a discussão que se está fazendo dentro da Igreja. Uma forte conexão entre razão é fé.

Faz-se alusão também à importância do texto que será publicado no próximo dia 18 de junho pelo Papa Francisco (Laudato si) no âmbito de um debate internacional sobre os problemas ambientais, que neste ano de 2015 viverá algumas etapas cruciais. Por exemplo, recorda-se o recente diálogo entre o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e o Pontífice em vista da próxima Conferência Mundial sobre o Clima que acontecerá em Paris em dezembro. Desta importante reunião deverão sair acordos que, espera-se, impulsionem o plano para salvar o ambiente e reduzir a mudança climática em nível global.

O texto que abre o número, intitulado “Cuidar de toda a Criação”, recorda que 2015 é um ano decisivo: “no mês de julho, os países vão se reunir para a III Conferência Internacional sobre o Financiamento do Desenvolvimento, em Addis Abeba. No mês de setembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas deverá encontrar um acordo sobre uma nova série de objetivos de desenvolvimento sustentável, que deverão ser implementados até 2030”. E, no mês de dezembro, “a Conferência sobre as Mudanças Climáticas em Paris receberá os planos e compromissos de cada Governo com vistas a frear ou reduzir o aquecimento global”.

Considerando esta sequência de encontros, “os meses de 2015 são cruciais para as decisões relacionadas ao cuidado ou à gestão da Terra e para o compromisso efetivo para o desenvolvimento internacional e o bem-estar dos seres humanos”. Nesta perspectiva, a intervenção do Papa assume um significado particularmente relevante: é a contribuição que muitos esperam para dar um respiro universal, espiritual, ideal e político a temas que muitas vezes acabam aprisionados por interesses de grupos.

Vários dos artigos reunidos no número da La Civiltà Cattolica são uma espécie de introdução geral aos temas que serão abordados com maior profundidade na Carta Encíclica Laudato Si. Entre estes textos, o do Pe. Luciano Larivera (Religião e crise ecológica) aborda o tema de uma colaboração possível entre o judaísmo e os mundos islâmico e católico, tanto do ponto de vista do perfil das respectivas tradições, como no nível financeiro. Sugere-se, no texto, uma inédita aliança em defesa da Criação.

Em nível geral, Larivera afirma: “Nem a ONU nem as religiões gozam de confiança universal sobre a eficácia da sua ação para ‘mudar as coisas’ em termos de uma maior justiça distributiva e ambiental. Mas as religiões seguem anunciando a confiança e a esperança em Deus e nas potencialidades humanas. E, por amor às futuras gerações, consideram possível uma ‘civilização ecológica’”. “No entanto – prossegue Larivera –, denunciam que os problemas ambientais são sinal de uma múltipla crise: antropológica, ética e de governabilidade (a nível público e privado, global e local). Para resolvê-los requer-se uma nova ‘síntese humanista’ (Caritas in Veritate, n. 21)”.

Sobre o sentido específico da próxima encíclica, o Pe. Larivera afirma que “a ação e as palavras de Francisco dirigem-se em, primeiro lugar, ao 1,2 bilhão de batizados católicos, muitos dos quais vivem nos países que mais poluem. A Encíclica provocará debates, aprofundamentos e publicações (incluindo as críticas) na Igreja católica” e fora dela. De fato, observa o jesuíta, neste Papa, que com a escolha do seu nome afirmou a opção eclesial da proteção de todas as criaturas, “há esperanças históricas excepcionais, porque goza de grande popularidade e de um inigualável consenso em nível internacional e inter-religioso. Importantes expoentes da comunidade científica dialogam com ele. E a vasta atenção midiática que o cerca é um recurso para a comunidade internacional comprometida com a promoção do desenvolvimento sustentável. De fato, reconhece-se no Papa Francisco a capacidade de se expressar numa linguagem universal”.

Muitos aguardam a mensagem do Papa. E o Pe. Larivera também se refere às críticas que, por exemplo, nos Estados Unidos, já começaram a circular como uma espécie de fogo preventivo por esse que (antes mesmo da sua publicação) já é considerado um texto (com ou sem razão) que poderá determinar um salto de qualidade na conscientização a favor do meio ambiente na opinião pública mundial. Nos diversos artigos do número da La Civiltà Cattolica não se teme falar sobre os lobbies das indústrias e do petróleo que “são muito ativos: financiam estudos que favorecem suas ações, mas muito longe da preocupação ambiental. Financiam também cientistas que se opõem às teorias da mudança climática”.

O Pe. Pierre de Charentenay, no artigo intitulado “Política e ambiente”, indica que as transformações que o homem provoca no meio ambiente são complexas e ainda não foram totalmente compreendidas. “Ignoramos – escreve o padre jesuíta – inclusive a profundidade destas mudanças. Cada ser humano está conectado com o conjunto da vida sobre a terra, em equilíbrio com todos os outros seres. O desaparecimento de um destes elementos tem consequências que ainda não sabemos avaliar”. “O desaparecimento das abelhas – acrescenta – demonstra que a falta de uma espécie afeta toda a cadeia dos seres vivos. A redução do número dos grandes cetáceos e dos tubarões tem consequências sobre a proliferação de tudo o que comem, interrompendo desta maneira uma cadeia alimentar”.

“Nós – afirma o Pe. De Charentenay – provocamos um desequilíbrio em um sistema que tinha regras próprias estabelecidas ao longo de milênios. Os efeitos, e também muitas causas, ainda são desconhecidas por nós, mas estamos acelerando a mudança destes equilíbrios”. O artigo indica que as grandes mudanças climáticas que estão modificando ecossistemas e equilíbrios ambientais são uma das razões (e em nada secundárias) das graves crises humanitárias que se intensificaram e “acavalaram” nos últimos anos, provocando tensões sociais em regiões cada vez mais vastas do globo.

Outros artigos ocupam-se do magistério de Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI (cuja sensibilidade ecológica foi aumentando) e do Papa Francisco. Um percurso que demonstra que o tema da Criação é fundamental há décadas na reflexão teológica e pastoral da Igreja. Entre os numerosos documentos citados, o discurso pronunciado pelo Papa Ratzinger no Parlamento Federal alemão, em 22 de setembro de 2011, tem um significado particular. “O surgimento do movimento ecológico na política alemã a partir dos anos 1970 – disse Bento XVI naquela ocasião –, apesar de não ter aberto talvez janelas, todavia foi, e segue sendo, um grito que anseia por ar fresco, um grito que não se pode ignorar nem esquecer, porque se vislumbra muita irracionalidade”.

“Pessoas jovens – acrescentou – deram-se conta de que, nas nossas relações com a natureza, há algo que não está bem; que a matéria não é apenas uma matéria para que a utilizemos, mas a própria terra traz em si a sua própria dignidade e devemos seguir as suas indicações”. Então, prosseguiu, “quando a nossa relação com a realidade é algo que não funciona, então devemos todos refletir seriamente sobre o conjunto e a questão dos fundamentos da nossa própria cultura”.

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