12 Mai 2015
Se o Papa Francisco irá voar para Cuba em setembro próximo, Raúl Castro também convidou outro importante líder religioso para visitar a ilha: o Patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa. O líder cubano entrou em contato com o Vaticano e a Itália depois de fazer escala em Moscou; na capital russa, ele havia participado das celebrações organizadas na Praça Vermelha pelo presidente Putin para recordar os 70 anos da vitória contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada no sítio Vatican Insider, 10-05-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em poucas décadas, algumas coisas permanecem as mesmas – entre elas, a aliança entre Cuba e Rússia –, mas outras mudaram: se as relações políticas entre os dois Estados continuam fortes, a novidade é que agora a Igreja Ortodoxa assumiu um papel de primeiro plano nos novos arranjos que se criaram na Rússia, e, consequentemente, o patriarca tornou-se um interlocutor importante na cena internacional.
Por outro lado, se tanto João Paulo II (em 1998) quanto Bento XVI (em 2012) tiveram a oportunidade de visitar Cuba, Kirill, em 2008 – quando ainda era o metropolita responsável pelas Relações Exteriores do patriarcado – também havia desembarcado na ilha caribenha.
Na época, ele encontrou um Fidel Castro convalescente que apoiou a intenção do patriarcado russo de construir uma igreja ortodoxa em Havana; mais um sinal de como a aliança entre o Kremlin e o patriarcado tem um perfil geopolítico.
Por isso, o encontro em Moscou entre a delegação cubana e a do patriarcado foi particularmente caloroso. Não só isso: a estratégia seguida por Raúl Castro de progressiva abertura da ilha ao mundo inclui o dossiê da liberdade religiosa e do diálogo com Igrejas como protagonistas essenciais da contemporaneidade.
Nesse sentido, um papel fundamental foi desempenhado pela Igreja de Roma, com os últimos três pontífices: há muito tempo, um diálogo importante se desenvolveu entre a Santa Sé e o governo cubano, primeiro com Fidel e agora com Raúl; no entanto, é em nível local, isto é, na ilha que, progressivamente, como reconheceu o próprio Castro falando com os jornalistas depois da conversa com o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, foram dados passos no plano da presença religiosa na ilha.
Nesse contexto, também deve ser avaliado o possível retorno à fé anunciado por Raúl Castro, justamente em virtude do magistério do Papa Francisco.
Conversando com a imprensa, o líder cubano fez algumas considerações significativas, tanto no plano pessoal quanto no político, especialmente relevantes por terem sido feitas em público e dadas como evidências do novo curso em Cuba.
Em particular, Raúl Castro afirmou que teve uma conversa "muito agradável com o papa, que é um jesuíta e, como vocês sabem, eu estudei nas escolas dos jesuítas", caminho compartilhado com o próprio Fidel.
"Quando o papa for a Cuba em setembro – acrescentou – eu prometo ir a todas as missas" que ele celebrar: "Eu saí dessa conversa profundamente marcado, verdadeiramente, pela sua sabedoria, pela sua modéstia e por todas as suas virtudes que conhecemos. Eu meio todos os seus discursos e disse ao presidente do Conselho (Renzi) que, se o papa continuar falando assim, um dia eu vou recomeçar a rezar e voltarei para a Igreja Católica, e não digo isso como piada."
Mas também foram muito significativas algumas considerações de caráter político. "Eu sou um comunista – disse Raúl Castro –, do Partido Comunista cubano, que nunca admitiu a missão dos crentes (na ilha). Hoje, no entanto, nós permitimos que haja crentes", acreditamos, de fato, continuou, que, "para desempenhar uma função importante, não é preciso estar inscrito no partido. É suficiente aceitar o seu programa."
Portanto, sobre a relação com a Igreja Católica na ilha, ele especificou: "Demos passos, pouco a pouco. Não foi fácil. O caminho se revelou muito mais complicado do que imaginávamos".
Essencialmente, Castro, além da atenção diplomática sobre cada palavra, quis certificar publicamente – e fez isso de forma significativa na Itália – que a Igreja adquiriu uma certa liberdade de ação na ilha e que desempenha um papel importante, um objetivo alcançado graças ao diálogo com o episcopado local, embora uma condição essencial para essa nova "convivência", ao menos até agora, tenha sido a de não contestar aberta e duramente o regime.
O fato é que, após as primeiras aberturas no plano social e econômico (em matéria de propriedade privada e do fim do igualitarismo salarial, dentre outras coisas), também parece ter começado a era do degelo religioso, amadurecido também graças ao Papa Francisco, que reaproximou Raúl Castro à Igreja, além de ter desempenhado um papel político nas negociações entre EUA e Cuba.
Nesse sentido, foram significativas as palavras do padre Massimo Nevola, que há muito tempo desenvolve atividades de voluntariado nas estruturas do governo cubano com um "visto religioso".
"É muito bonito aquilo que Castro disse – afirmou –, mas estou surpreso até certo ponto. A aproximação à fé cristã pertence a toda a família Castro." O padre jesuíta quis lembrar um episódio significativo ligado ao "líder máximo".
"Quando Bento XVI foi para Cuba, durante o encontro na nunciatura, Fidel pediu livros úteis para aprofundar a fé cristã." E Ratzinger, no retorno, deu cumprimento aos pedidos. "Por outro lado – explicou ainda o religioso –, Fidel teve uma relação político-espiritual com o Frei Betto (teólogo da libertação). Mais recentemente, Raúl Castro, junto com o cardeal Ortega e o arcebispo de Santiago de Cuba, fez um caminho de fé."
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Fé e diplomacia: depois do papa, Kirill também é convidado para Cuba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU