27 Abril 2015
"Recebo e publico a réplica ao artigo"Pontifício Instituto Oriental. Terremoto entre os jesuítas", escreve Sandro Magister, jornalista, ao publicar a réplica do Pe. Cesare Giraudo, SJ., no seu blog Settimo Cielo, 25-04-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Com apenas duas observações. A primeira e mais importante é que as complexivas avaliações do Instituto, que quem escreve contesta, não são atribuíveis a uma presumido pessoa oculta que sugere o artigo, mas são retiradas textualmente de uma “laudatio” pública de 2011 em honra de um dos mais renomados docentes do próprio instituto, o professor Robert F. Taft. Tais avaliações causaram tal alvoroço quando foram pronunciadas, que ficaram impressas na memória de tantos e produziram, enfim, depois de ulteriores confirmações nos fatos, a decapitação da direção do instituto, por obra do superior geral da Companhia de Jesus, depois de prévia inspeção conduzida pelo renomado canonista Gianfranco Ghirlanda.
A segunda observação se refere aos cursos abreviados confiados a docentes de outras universidades. Enquanto, no artigo, se denunciavam as desvantagens, agora quem escreveu explica as razões. E é bom que o tenha feito, permitindo uma avaliação mais ponderada.
Para todo o restante não há senão concordar com o auspício de que o “temporal” que golpeou o Pontifício Instituto Oriental realmente o “lave, refresque, renove”, para um sempre maior serviço às Igrejas do Oriente.
O autor da réplica, o padre Cesare Giraudo, de 74 anos, jesuíta, foi decano de 1998 a 2005 da faculdade de ciências eclesiásticas orientais do Pontifício Instituto Oriental, onde ensinou desde 1986. Ele ainda ensina na Pontifícia Universidade Gregoriana. É especialista em teologia da liturgia e dos sacramentos.
Eis a réplica.
O Pontifício Instituto Oriental a serviço do Oriente Cristão
de Cesare Giraudo S.J.
O recente artigo “Terremoto entre os jesuítas no Pontifício Instituto Oriental” despertou entre os amigos do Instituto – os verdadeiros amigos, se entende – sentimentos contrapostos. Acima de tudo é de elogiar a acribia com a qual foi fielmente respeitada a grafia complexa de nomes e cognomes não italianos. É igualmente apreciada a exatidão das informações referidas.
Ao invés, não se podem apreciar realmente nem a formulação do título, nem muito menos as avaliações expressas por quem forneceu a notícia.
No título aparece como de todo inadequada a imagem do “terremoto”, uma realidade que só evoca destruição e morte. Se a gente quer servir-se de imagens, seria mais apropriada aquela do “temporal”, quem sabe também de um temporal com improvisas e violentas rajadas de vento, que abate as árvores mais expostas a um declive. Mas, todos sabem que o temporal lava, refresca, renova, e que após sua passagem dá lugar à serenidade.
Quanto, depois, às duas citações que firmam cripticamente o artigo, é preciso dizer que as várias expressões catastróficas, como “debacle”, “jogado ao massacre”, “arena deserta, sem vencedores nem vencidos”, são devolvidas respeitosamente ao emitente.
Embora, como acontece em toda instituição acadêmica, nem todos os ensinamentos são tais a arrancar o aplauso unânime de quantos o frequentam, é, todavia verdade que a absoluta maioria deles satisfaça plenamente as expectativas dos estudantes.
Quem fala de “precariedade de tantos ensinamentos, confiada a docentes quaisquer, em temporária transferência de outras universidades e reduzidos a fazer em poucas semanas o que deveria durar um semestre inteiro”, mostra não conhecer a complexidade da missão confiada ao Instituto Oriental, em particular à faculdade de ciências eclesiásticas orientais.
Esta faculdade, que de 1917 a 1971, isto é, até a instituição da faculdade de direito canônico oriental, se identificou com o próprio instituto e se articula em três secções: teológico-patrística, litúrgica e histórica.
Por sua vez, na programação dos cursos, cada uma destas secções se abre ao leque das várias tradições orientais: bizantino-eslava, caldeia, malabaresa, malankaresa, maronita, copta, etiópica, armênia, georgiana, e não estão todas aqui. Para dar um justo espaço a todas estas variegadas e ricas tradições (católicas, ortodoxas e calcedonenses) foram introduzidas, há muitos anos, junto aos normais cursos de 24 horas reservados às áreas maiores, cursos condensados em 12 horas, que tratam alternativamente a cada dois anos as áreas menores.
Esta operação constitui um verdadeiro desafio, tanto para o decano que é chamado a programar os cursos, como para o secretário que deve inseri-los no calendário acadêmico. Se a cada um destes cursos se devesse reservar um inteiro semestre, não bastariam dez anos para concluir um licenciado.
Mas, o Pontifício Instituto Oriental, como qualquer outra instituição acadêmica, não pretendeu ensinar todo o sabível; sua função é transmitir aos estudantes um método de trabalho que lhe permitirá caminhar com suas próprias pernas. Pode-se afirmar, sem temor de ser desmentido, que nenhuma faculdade teológica, nem em Roma nem alhures, conhece uma programação tão articulada e complexa.
Ora, como os peritos destas áreas ditas menores frequentemente não são encontrados nem no interior do corpo docente estável, nem mesmo em Roma, é evidente que é preciso ir procurá-los lá onde estão, propondo-lhes cursos intensivos, compatíveis com as atividades onde residem.
Em suma, o Pontifício Instituto Oriental é chamado cada dia a responder à missão sabiamente delineada pelo documento constitutivo “Orientis catholici” de Bento XV, precisamente aquela de ser “sede própria de estudos superiores na Urbe concernentes às questões orientais”. É isto que o corpo docente, embora na consciência dos limites de pessoal e dos meios de que dispõe, se esforça em fazer, conjugando docência e pesquisa.
As publicações saídas pelo PIO nestes últimos anos confirmam que os docentes não são de fato “pesquisadores até a aposentadoria” – pesquisadores improdutivos, na mente de quem acusa -, mas pesquisam, se encontram e produzem. (1)
Ao programa traçado por Bento XV em 1917 fez eco o discurso luminoso e de longo alcance de João Paulo II aos 12 de dezembro de 1993, por ocasião do 75º aniversário do Instituto.
Na espera de quanto dirá o sucessor de Pedro por ocasião do agora próximo centenário da fundação, quem se angustia por quanto aconteceu nos dias passados não deve esquecer que o Pontifício Instituto Oriental foi confiado à Companhia de Jesus que, em sua plurissecular história conheceu tantas vicissitudes, e que, seguramente, olhando além do temporal que hoje está sob os olhos de todos, saberá mostrar a docentes e discentes aquela serenidade que todos ardentemente desejam, para um serviço sempre maior às Igrejas do Oriente.
Nota:
(1) Basta pensar nas atas da convenção internacional “As vias do saber em âmbito sírio-mesopotâmico do III ao IX século” (12-13 de maio de 2011), Roma 2013, aos cuidados de Carla Noce, Massimo Pampaolini sj e Claudia Tavolieri (www.orentaliachiristiana.it); ou então, nas atas do congresso internacional de liturgia “The Anaphoral Genesis of the Institution Narrative in Light of the Anaphora of Addai and Mari” (25-26 de outubro de 2011), Roma 2013, aos cuidados de Cesare Giraudo sj (www.prexeucharistica.org); ou então, à série “A questão armênia. Documentos etc;”. Rp,a 2-13-2015 (quatro volumes já publicados, outros dois a sair), de Georges-Henri Ruyssen sj (www.lilame.org). Se pense no “Dizionario enciclopedio dell Oriente cristiano”, editado em italiano por Edward G. Farrugia sj em 2000, da qual é iminente a edição anglófona notavelmente ampliada. Se pense ainda na prestimosa coletânea “Patrologia Orientalis”, diriida por Philippe Luisier sj. E não está tudo aqui.
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Temporal saudável, não um terremoto no Pontifício Insituto Oriental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU