14 Janeiro 2015
Sandra López é a coordenadora regional do MMM. Impulsiona a concretização do quinto monitoramento mundial, que analisa como os meios de comunicação tratam as mulheres em mais de cem países de todo o mundo.
A entrevista é de Sonia Santoro, publicada pela Página 12, 12-01-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
“A grande política deve ser a educação em leitura crítica de meios de comunicação”. Desta forma sintetizou Sandra López, perita em meios e gênero, a estratégia básica a ser implementada pelos Estados para obter meios mais igualitários e consequentemente mais democráticos. No marco do Seminário Regional “O direito à comunicação com enfoque de gênero na agenda de desenvolvimento pós-2015”, levado em frente por uma organização internacional em Lima, Perú. López falou com Pg./12 sobre meios, gênero e políticas comunicacionais.
Sandra López é professora em Língua e Literatura, com mestrado em Antropologia e em ambiente do Equador. Trabalha na organização GAMMA (Grupo de Apoio ao Movimento de Mulheres do Azuay, província do Equador) por uma vida livre de violências, e há vinte anos luta por modificar os imaginários sociais que sustentam a discriminação. Ou melhor, as discriminações.
López é a coordenadora do Monitoramento Mundial de Meios. A partir desta função já está organizando as estratégias para concretizar neste ano o Monitoramento Global de Meios levada em frente pela Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC), uma ONG que vem trabalhando a cinquenta anos nesta linha. E que a cada cinco anos, e seguindo com as pautas traçadas na Conferência da Mulher de Beijing (1995), registra e analisa como os meios de comunicação tratam as mulheres em mais de cem países do mundo.
López explica a origem dos monitoramentos. Surgem, diz, “com a pergunta sobre o que está se passando nas bases do machismo, nas bases que sustentam as discriminações contra as mulheres. Viu-se que os meios de comunicação são uma das grandes instituições sociais, assim como a família, a religião, a educação. Mas, os meios de comunicação, como uma grande capacidade de acesso, e pelo tempo em que permanecem relacionadas com as pessoas, são como o espaço social privilegiado onde se reproduzem os estereótipos de gênero”.
“Um grupo de feministas pensou em analisar o que está se passando, porque uma coisa é ver por intuição ou saber perceber uma imagem sexista num meio de comunicação, mas outra coisa é ter dados mais objetivos que se podem manejar para difundir, para fazer capacitações e também para apresentar evidência, para que não seja apenas uma opinião sem fundamento”, relata.
Surgiu assim o monitoramento como uma investigação transversal, num dia e num momento determinados (este ato terá lugar entre março e abril), que convida a participar a quantos países queiram somar-se a isso.
No primeiro monitoramento observaram que “os resultados eram alarmantes. Se a intuição nos dizia que havia sexismo nos meios, o primeiro monitoramento mundial demonstrou que é mais do que sexismo, que a invisibilização das mulheres era altíssima, que quase não havia presença de mulheres repórteres, de editorialistas – disse López -. Que, quando se falava das mulheres, estávamos na farândula ou nos concursos de beleza, estávamos sofrendo pela pobreza ou pela violência, que nunca estávamos fazendo análise econômica ou política. Então, com esses dados, viu-se que era necessário fazer seguimentos. E se realizam a cada cinco anos, tanto para fazer seguimento como também para fazer incidência”.
Eis a entrevista.
O que mudou nestes vinte anos?
Mudou ligeiramente a representação das mulheres na mídia, onde aumentou. A partir da cúpula de Beijing, de 95, que implicava também alguns compromissos dos governos, mudou, por exemplo, a participação política das mulheres, com o que há também maior visibilidade. Então há maior participação política, há maior quantidade de mulheres em cargos e funções, presidentas, ou em assembléias, e isso faz com que suba um pouco o número de mulheres na representação. Sem embargo, temas como análise política seguem com quase nula participação das mulheres. É preciso dizer que isso ocorre em mais de cinco países e que não importa o sistema político, o sistema é de direita ou de esquerda: a representação nos meios é baixa; não importa se é a religião islâmica ou católica: na maior parte dos países a representação das mulheres não muda; não importa se é um país industrializado ou não. Então, isso nos dá pautas para já fazer um quinto Monitoramento Mundial de Meios em 2015, primeiro para analisar as mudanças que estão ocorrendo. E depois, para traçar estratégias de maior incidência que permitam obter mudanças mais rapidamente, porque em vinte anos as mudanças são muito lentas.
Quais são os desafios para esse monitoramento?
Queremos integrar mais países. Além disso, queremos integrar meios digitais e redes sociais, monitorar Twitter, por exemplo.
Quantos países da região participam?
Da América do Sul estão praticamente todos e da América Central só falta contato com Honduras. No Caribe há pouca organização, de modo que aproveitamos para convidar organizações desses países, para que se contatem conosco.
O monitoramento coincide com a Conferência Beijing+20. Como pode incidir este trabalho no que ali suceda, e onde se vão revisar as recomendações de 1995 em matéria de comunicação?
Desde o monitoramento anterior, a WACC conseguiu posicionar-se como uma das vozes privilegiadas frente às Nações Unidas em temas de comunicação e gênero. E as Nações Unidas adotam o monitoramento mundial para a estratégia de incidência. Então, agora, para Beijing+20 os dados vão servir para sustentar sobre a esfera número 10, que é a relacionada com meios de comunicação, imaginários sociais, estereótipos de gênero, direito à comunicação. Mas, além disso, existe o Cume Post 15 pelos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, que também ocorre no próximo ano. Por isso eu penso que é um tempo de incidência forte. Depois de vinte anos se conseguiu entrar em espaços mais estratégicos e creio que há uma vontade dos Estados que, seja porque se vêem obrigados ou porque recebem demasiadas críticas, não lhes resta outro remédio do que por-se a ver o que fazem com este tipo de problemática e o que vão fazer em face destes objetivos.
Assim que eu creio que o cenário mundial é interessante. Os dados vão chegar aonde devem chegar e vão enriquecer a elaboração, a redefinição, a nova elaboração de objetivos em ambas as cúpulas.
O que faz falta para conseguir uma comunicação e meios mais igualitários?
Se quisermos modificar imaginários, temos que recordar que somos parte de uma espécie privilegiada, que não por isso pode explorar outras espécies e pior: entre a própria espécie.
E pensando em políticas para os meios de comunicação?
Eu creio que a grande política tem que ser a educação em leitura crítica de meios. Não creio que possamos seguir esperando muito na auto-regulação, e a auto-regulação só pode vir de uma consciência crítica.
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O gênero na comunicação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU