Na Europa nos tratam como animais porque assustamos, diz imigrante africano

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17 Novembro 2014

No Centro de Internamento de Estrangeiros (CIE) de Barranco Seco, na Grande Canária, Espanha, habilitaram o refeitório para que os imigrantes chegados na semana passada a uma praia de Maspalomas possam relatar sua odisseia. É uma sala fria, com mesas compridas e bancos a seus pés. Chega-se a ela por um longo corredor de aspecto carcerário; o centro foi uma antiga prisão.

A reportagem é de Txema Santana, publicada pelo jornal El País, e reproduzida pelo portal Uol, 14-11-2014.

Nesse lugar contam o que viveram em 5 de novembro passado, quando permaneceram atirados ao sol na areia durante cinco horas sem ser atendidos, por medo de que algum deles pudesse estar contaminado por ebola. "Parecia que os assustávamos. Por que na Europa nos tratam como animais?", diz um deles, com os olhos bem abertos. Ao seu lado, os companheiros de travessia assentem, resignados.

"Não sabemos por quê...", lamenta-se em francês outro jovem, visivelmente aliviado por estar no que para ele parece "uma prisão". Foi o que levantou os braços em sinal de protesto enquanto os fotógrafos retratavam sua saída duna acima no reboque de um caminhão que habitualmente é utilizado para retirar resíduos das praias.

Viky vem da Costa do Marfim, onde conseguiu completar estudos superiores, e fala francês com desenvoltura. Admite que em seu país não lhe faltava comida na mesa, mas que fugiu devido à "situação política, que não é boa, há muita tensão". Fala das consequências do conflito entre os partidários do atual presidente, Alaska Ouattara, e que sentem falta de seu antecessor, Laurent Gbagbo, que está sendo julgado em Haia.

O conflito gerou um milhão de refugiados que chegaram à fronteira da Libéria, como Viky e sua família, que não confiam na pacificação. A Libéria também é um dos países assolados pelo vírus ebola.

Viky explica que quando saiu dali rumo à Europa a doença ainda não tinha chegado, e que pelo caminho passou dois anos em Marrocos antes de embarcar a caminho da Espanha. Chegou à Grande Canária e agora está no CIE sem acreditar que vão repatriá-lo. "Dizem que vão nos expulsar, mas outros africanos que vieram não me falaram dessa prisão", afirma.

Marie procede da Nigéria. É calada e ainda está aturdida por uma viagem "muito dura". Seu marido conseguiu chegar antes dela à península. Em seu périplo até Maspalomas, perdeu o número de telefone dele e agora não sabe como contatá-lo para lhe dizer que continua viva.
Na segunda-feira, quatro dias depois de sua perigosa chegada, o grupo pôde trocar de roupa, ajudado pela Federação de Associações Africanas das Canárias.

No exame médico por que passaram, voltaram a atendê-los com máscaras, embora nenhum tivesse febre ou sintomas de doença, como ficou escrito nas revisões anteriores. A juíza que tomou suas declarações em San Bartolomé de Tirajana, os atendeu através de uma pequena janela a 6 metros de distância. Está grávida e temia se contaminar, desconfiada da informação oficial.

O Centro de Internamento de Barranco Seco tem um índice de expulsão relativamente baixo, depois do prazo máximo de estada legal, que é de 60 dias. Só um quarto dos que chegam (26,4% segundo fontes policiais) são enviados de volta a seus países. Outra juíza, a que tutela o CIE, Victoria Rosell, pede para refletir sobre "se essa porcentagem inferior a 30% de expulsões efetivas torna necessária a privação de liberdade ou se em muitos casos pode ser evitada".

No CIE não estão todos os 21 imigrantes que chegaram. Um menor continua em um centro de acolhimento imediato e outro está no Hospital Insular de Gran Canaria. Tem um corte profundo causado pela hélice do barco, ao tentar descer do mesmo. Outro imigrante tem dificuldade para caminhar. Manca visivelmente e se queixa de um golpe no quadril.

Levaram-no várias vezes ao centro hospitalar. Tanto quanto a dor, uma pergunta o martela, assim como aos demais: "É verdade que vão nos expulsar?"

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