29 Julho 2014
Justin Welby, arcebispo de Canterbury, resumiu como o Sínodo Geral aprovou a legislação que permite que mulheres se tornem bispas na Igreja Anglicana.
A reportagem é do sítio archbishopofcanterbury.org, 23-07-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na última terça-feira, o religioso falou à Comissão Parlamentar para assuntos Eclesiásticos sobre a nova legislação que permite às mulheres se tornarem bispas na Igreja Anglicana, legislação aprovada na semana passada pelo Sínodo Geral.
Eis o discurso.
Gostaria de deixar registrado a minha gratidão, e a de todos nós, pela vossa disposição em organizar a sessão de hoje, tão próxima da votação final de aprovação. Gostaria também de afirmar que sabíamos que se não tivéssemos iniciado em tempo, arriscaríamos perder o momento apropriado e poderíamos não ter concluído a votação para a sessão do Sínodo em novembro, onde poderemos aprovar o Cânone, ao nos encontrarmos no dia 17. Claro, isso dependerá inteiramente do julgamento que esta comissão há de fazer e das decisões que daí se seguirão para a Câmara dos Comuns e para a Câmara dos Lords.
Vale notar: vocês comentaram sobre os oito anexos; de nossa parte, tentamos fazê-los de forma completa. Sei que são uma grande quantidade de leitura, e foi muito bom, da parte de vocês, terem lido todos eles de forma tão rápida. O meu predecessor, Rowan Williams, disse que não conseguiria entender por que uma pergunta do tipo “sim ou não” teria gerado discussões de tal extensão e complexidade de forma a fazer com que a questão de Schleswig-Holstein parecesse relativamente simples.
Os anexos que os senhores têm em mãos são absolutamente centrais para o pacote de mudanças que o Sínodo deliberou na semana passada. O debate ocorreu de forma tão interessante que não poderia haver um fechamento até que todos tivessem se manifestado. Não se era permitido trocar de assunto ou fazer qualquer outra coisa senão limitar o tempo para que cada pessoa falasse. Acho que tivemos 74 pessoas que falaram, ou algo assim, de um Sínodo de mais de 400 pessoas; e esta não era a primeira vez que travávamos este debate. Sobre este assunto em particular, esta foi a terceira vez, e nos outros debates – que remontam a mais de 30 anos –, também debatemos por um longo tempo.
No entanto, abordamos todo o processo de forma adequada no mês passado, com muito cuidado, presididos por Dom Sentamu, arcebispo de York. O resultado disso foi que alcançamos a maioria em todas as três câmaras do Sínodo: 95% na Câmara dos Bispos, 87% na Câmara do Clero e 77% na Câmara dos Leigos. Sendo que a quantidade para aprovação era de dois terços, tivemos uma grande facilidade em todas elas.
Vale a pena ressaltar que o debate da semana passada não era se as mulheres deveriam ou não serem bispas – isso já havia sido decidido um tempo atrás; na verdade, era sobre se a forma particular adotada do processo era a melhor e mais apropriada para este fim.
Da mesma forma, vale dizer – e isto foi falado durante os debates – que (...) não chegamos aonde algum dos principais grupos da Igreja chegaria se fosse deixado somente para ele escolher. Os tradicionais teriam preferido soluções estruturais com dioceses ou províncias adicionais, ou transferências de jurisdição entre alguns bispos.
Outros grupos, por exemplo o WATCH, sempre argumentaram que deveria haver o mínimo possível de escritos e que deveríamos simplesmente mudar as regras e nos basearmos nos bispos em particular para tornar a provisão pastoral local uma questão de graça e cortesia. Em vários sentidos esta seria a forma ideal a adotarmos; porém precisamos ter em mente que se desenvolveu uma cultura de, eu diria, suspeita que – apesar do trabalho notável dos últimos 18 meses aproximadamente, desde a não aprovação em novembro de 2012 – não foi ainda completamente anulada. Ainda hoje, tenho certeza de que os senhores terão ouvido por parte dos que lamentam que este ou aquele elemento não apareceu no pacote final, e precisamos ter em mente que, quando as pessoas sentem isso por razões teológicas, elas estão certas em uma dada abordagem, elas tendem a ter fortes opiniões nesse sentido.
O bispo de Rochester, à minha direita, presidiu a comissão central com grande habilidade, e foi o relatório que, sob sua direção, construíram o que constituiu o avanço. Treze dos 15 membros estavam prontos para recomendá-lo. Foi novidade termos 15 componentes dentro da comissão central: colocamos pessoas representantes de todo o espectro de forma que a comissão se tornou uma espécie de microcosmo do Sínodo – e isso foi um processo deliberado para que todos os argumentos estivessem presentes na comissão.
No ano passado, tivemos um dia durante do Sínodo para um debate mais aberto sobre o assunto, em pequenos grupos, o que nunca havia sido feito antes. David Porter junto de um grande número de facilitadores de todo o país organizaram estes espaços, e eu acho que seria justo dizer – e não estou exagerando – que esta iniciativa mudou completamente a atmosfera entre a grande maioria do Sínodo: não apenas sobre tais assuntos, mas em geral, na forma como lidamos uns com os outros. Para algumas pessoas, esta foi a primeira vez que se encontraram com as pessoas das quais discordavam.
Durante estes meses, uma maioria simples das dioceses precisava votar a favor ou contra nos sínodos diocesanos. Quarente e três das 44 conseguiram; a que não conseguiu foi a Europa, que vai de Vladivostok a Casablanca, o que dificulta para que se realizem os encontros. Todas as 43 votaram a favor; no Sínodo de novembro de 2012, 42 haviam votado a favor. Há muito mais que eu poderia falar aqui, mas espero que isso que trouxe seja o suficiente para dar aos senhores um escopo razoável para a apreciação.
Assista a audiência completa no sítio do Parlamento.
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Bispas: O discurso do arcebispo de Canterbury à comissão eclesiástica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU