25 Junho 2014
Para ajudar na preparação do Sínodo dos Bispos sobre a família, em outubro, um documento de trabalho escrito pela secretaria do Sínodo dos Bispos será lançado antes do fim deste mês, de acordo com o cardeal norte-americano Donald Wuerl, de Washington. Wuerl, membro do conselho sinodal que aprovou o documento para distribuição, disse que ele será lançado assim que a versão italiana seja traduzida para outras línguas.
A análise é do jesuíta norte-americano Thomas J. Reese, ex-editor-chefe da revista America, dos jesuítas dos EUA, de 1998 a 2005, e autor de O Vaticano por dentro (Ed. Edusc, 1998). O artigo foi publicado por National Catholic Reporter, 14-06-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
O documento de trabalho, tecnicamente chamado de Instrumentum laboris, é uma destilação do material enviado pelos bispos, pelas conferências episcopais e outros organismos em resposta ao questionário enviado pela Secretaria em outubro de 2013. Supostamente, ele serve para estimular a discussão sobre o tema sinodal, em vez de tentar ser o primeiro projeto de conclusões que saem do sínodo.
Trinta e quatro anos atrás, mais de 200 bispos de 90 países reuniram-se em Roma para o primeiro sínodo sobre a família. Foi o primeiro sínodo do papado de João Paulo II e, ao final, resultou na exortação apostólica de 1981, Familiaris Consortio, sobre a família.
O sínodo sobre a família de 1980 também teve um Instrumentum laboris e, não surpreendentemente, concentrou-se em algumas das mesmas questões que ainda estão vivas hoje.
Ele começou com uma revisão dos movimentos sociais, econômicos, políticos e culturais que afetavam a vida familiar naquela época. Embora reconhecendo os progressos realizados na ciência, educação, medicina e padrões de vida, ele também observou que muitas pessoas no mundo sofriam com a falta de alimentação, habitação, saúde, educação e emprego. Isso ainda é verdade.
Ele elogiou os esforços para "melhorar a condição das mulheres e para obter o máximo de afirmação dos seus próprios direitos fundamentais", enquanto, ao mesmo tempo, expressava preocupação de que "esses movimentos em direção à afirmação dos direitos da mulher, ocasionalmente, diminuem seu papel na vida conjugal e na vida doméstica e colocam de lado essas tradições culturais que em muitas sociedades conferem um estatuto especial e são de nítida vantagem para as mulheres". Vamos torcer para que essa linguagem seja melhorada.
Ele reconheceu que "as ciências humanas têm aumentado muito o nosso conhecimento e avaliação da sexualidade humana" e concordava "que a maturidade sexual é um aspecto da maturidade humana". No entanto, "um resultado da presente convulsão no domínio da sexualidade é a separação do ato sexual do amor conjugal e do seu lugar no casamento", afirma o documento. Ele se queixava de "uma permissividade generalizada e quase total em assuntos sexuais".
O casamento gay não era um problema em 1980, mas o documento argumentava que "a homossexualidade e o recurso à faculdade sexual antes ou fora do casamento são tentativas de reduzir a função sexual à autossatisfação, pura e simplesmente". Não é bem o "quem sou eu para julgar", mas vamos ter que esperar para ver o que o novo documento vai dizer sobre a homossexualidade.
O documento passava a listar os aspectos da vida contemporânea que desafiavam os princípios cristãos e os ensinamentos da Igreja sobre o casamento e a vida familiar. Estes incluíam uniões extraconjugais, contracepção, divórcio e aborto. Ele observava que, em 1980, "quase 40% das pessoas do mundo vivem em cidades onde o aborto pode ser obtido livremente". Esse número certamente é maior hoje.
Finalmente, o Instrumentum laboris analisava a família católica no mundo de 1980. Ele observava que muitas famílias católicas vivem em culturas religiosamente pluralistas e que "a família católica tem de lidar" com "a multiplicidade e a pluralidade de opiniões dentro da própria Igreja". Nesse ponto, o documento se torna muito defensivo:
A multiplicidade pode ser atribuída aos esforços de pesquisadores de certas questões à luz de uma teologia renovada e mais coordenada com temas bíblicos; a pluralidade surge como rejeição ou discordância do ensinamento do Magistério, especialmente no domínio da moral sexual. Isso mergulha os católicos em muita confusão, que, em primeiro lugar, afeta famílias que veem a sua herança religiosa abertamente impugnada ou prejudicada. Isso ainda apresenta grandes dificuldades aos bispos que, juntamente com o Pontífice Romano, são "mestres autênticos, isto é, os professores dotados da autoridade de Cristo, que pregam ao povo a eles atribuído a fé que deve ser acreditada e colocada em prática".
O documento de trabalho conclui com uma discussão de atitudes pastorais de nova importância para a família. Elas incluíam:
- A família, como a "escola de amor", em que cada membro é amado total e incondicionalmente.
- Os esforços para promover a espiritualidade familiar, bem como o papel da família na missão pastoral da Igreja.
- A família como "Igreja doméstica", o lugar onde a religião cristã é aprendida, experimentada, vivida.
O Instrumentum Laboris de 1980 é, ao mesmo tempo, atemporal e datado. As questões ainda estão entre nós, mas a linguagem é muitas vezes negativa e preconceituosa.
O documento, no entanto, encorajou os bispos a emitir uma declaração de que não era um "relatório duro e sem esperança sobre o estado das coisas, mas um anúncio que culmina com alegria". Isso ainda soa como um bom conselho.
Fique atento ao documento de trabalho deste ano.
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Documento de trabalho para o Sínodo sobre a família é esperado ainda para este mês - Instituto Humanitas Unisinos - IHU